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Morre o cineasta polonês Andrzej Wajda, aos 90 anos

Os filmes dele traziam fortes mensagens contra o stalinismo, ponto central de sua obra

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Andrzej Wajda
1 de 1 Andrzej Wajda - Foto: Wikimedia

O cinema de Andrzej Wajda, diretor que morreu neste domingo, 9, aos 90 anos, vítima de insuficiência pulmonar, era essencialmente político.

Ainda que formais do ponto de vista da linguagem cinematográfica, seus filmes traziam fortes mensagens contra o stalinismo, ponto central de sua obra.

O mundo cinematográfico descobriu essa linha de raciocínio nos anos 1970 e 1980, quando Wajda dirigiu “O Homem de Mármore” (1976) e “O Homem de Ferro” (1981), que lhe garantiu a Palma de Ouro em Cannes, obras de forte caráter libertário e com as quais ele declarava apoio a Lech Walesa, fundador e líder do Solidariedade, a organização sindical independente do Partido Comunista que obteve importantes concessões políticas e econômicas do governo polonês em 1980-1981, sendo nessa altura ilegalizado e passando à clandestinidade. O cineasta polonês, no entanto, já divulgara a luta do Solidariedade para o mundo.

Wajda era um dos grandes homenageados da 40ª Mostra de São Paulo, que começa dia 20. Ele receberia o Prêmio Humanidade. Segundo a diretora do festival, Renata de Almeida, a cerimônia continua marcada para o dia 26 e a estatueta será entregue a representantes do instituto polonês.

Andrzej Wajda nasceu em 1926. Tinha 13 anos quando os alemães invadiram a Polônia, em 1939, o que deu início à Segunda Guerra Mundial. Por causa disso, uniu-se à resistência. Ainda jovem, queria ser pintor, mas, ao tentar se inscrever na Academia de Belas Artes de Cracóvia, descobriu que o curso era muito longo, trocando-o pelo de cinema, na academia de Lodz. Em 1954, estreou na direção de longa com Geração. Três anos mais tarde, realizou Kanal, que lhe rendeu o prêmio do júri em Cannes e, em 1958, Cinzas e Diamantes.

Os três filmes são obras de testemunho. Wajda quis traçar o retrato de sua geração, que viveu a guerra e nela encontrou sua verdade. É possível identificar diversas fases no cinema de Wajda. Em “Sem Anestesia”, de 1978, por exemplo, ele desfere um ataque ao comunismo na Polônia que se revelou mais forte que o apresentado em “O Homem de Mármore”. Já a crítica ao totalitarismo do partido é acirrada em “O Maestro”, de 1979. Para muitos, no entanto, sua obra-prima é Terra Prometida, de 1975.

“A história do nascimento do capitalismo em Lodz é contada por meio de um afresco de extraordinária beleza plástica e rara inteligência dramática. Talvez seja o filme em que melhor transpareça o pintor que Wajda quis ser”, observa o crítico do Estado Luiz Carlos Merten. “Em seus filmes, ele foi lírico e barroco. E criou signos visuais intensos. A imagem do Cristo invertido na igreja em ruínas de Cinzas e Diamantes tem a força de uma interpretação do mundo. Em Sansão, a Força contra o Mal, de 1961, os nazistas que confinam os judeus os segregam por meio de uma cerca de madeira que compõe uma cruz e o motivo visual carrega uma acusação contra a Igreja, sem que uma palavra seja dita.”

Um de seus filmes de maior sucesso foi “Danton – O Processo da Revolução”, de 1983, instigante drama político em que Wajda foca na relação entre Danton e Robespierre, figuras-chave da Revolução Francesa, iniciada em 1789. No momento em que o cineasta rodava o longa, o Solidariedade sofria ataques do governo polonês, o que fez com que a trama do filme tivesse cenas que dialogavam com o presente.

Em 2000, ao entregar um Oscar honorário a Andrzej Wajda, Jane Fonda curvou-se diante dele, anunciando-o como o homem que verdadeiramente representava o cinema político.

Foi aplaudido de pé.

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