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Em “Amizade Desfeita”, a maldição vem em bytes

Uma das estreias desta quinta (12/11), o terror narra uma conversa entre amigos interrompida por um usuário sobrenatural

atualizado

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Universal Pictures/Divulgação
Universal Pictures/Divulgação
1 de 1 Universal Pictures/Divulgação - Foto: Universal Pictures/Divulgação

Todo filme de terror – bom ou ruim – precisa se apoiar em ambientação. Por mais que toda a mística do gênero seja construída por meio de nomes de assassinos ou forças sobrenaturais, o “onde” é o que nos coloca em lugares sombrios e angustiantes. Em “Amizade Desfeita”, a armadilha não poderia ser algo mais cotidiano: a tela de um computador, especificamente o MacBook de uma garota do ensino médio.

Aqui, a estética do found footage (a tal gravação encontrada), já um tanto manjada pelos mesmos truques de sempre, ganha um agradável ar de novidade. O filme funciona como um screencast, uma transmissão ao vivo do que se passa na tela de um notebook. A esperteza é justamente “amaldiçoar” o nosso contato diário com janelas, cliques, notificações e ruídos.

Numa noite qualquer, seis adolescentes se reúnem para um bate-papo via Skype. O único ponto de vista disponível é o da tela de Blaire Lily (Shelley Hennig), cuja melhor amiga morreu há um ano. Laura Barns (Heather Sossaman) cometeu suicídio após um vídeo constrangedor ser postado na internet e causar imensa repercussão no colégio. Um sétimo amigo surge na conversa – billie227, usuário sem face que se comunica por meio de mensagens de texto.

Offline = morte
O mesmo cyberbullying que fez Laura se matar também perturba o grupo de amigos, com sucessivas invasões de perfis de Facebook e Instagram e postagens sobre intimidades e segredos. Aprisionado à tela, o diretor Levan Gabriadze pulveriza a narrativa com mensagens diretas, buscas no Google, playlists musicais e notificações de redes sociais.

Cada recurso é deturpado para provocar estranheza: de falhas de conexão que riscam a tela a uma mensagem de e-mail sem o campo “encaminhar”. Se na parte final o filme se entrega a uma porção de sustos fáceis e soluções pouco críveis, o conceito sobrevive ao fim da sessão.

A figura clássica do assassino sem rosto ou de um espírito do mal (obviamente invisível) é associada a um perfil genérico do Skype. Suspiros ou urros típicos do gênero ganham os caracteres de ameaçadoras mensagens de texto. E a própria tela se apresenta como uma casa fantasmagórica, da qual não se pode fugir – ou melhor, se desconectar.

“Amizade Desfeita” transporta convenções do terror para uma plataforma digital, com todos os seus signos estáticos e frios, à espera de interação. Ficar offline é o mesmo que morrer. O que mais assusta hoje em dia talvez não seja uma porta a ser batida pelo vento – mas um cursor que pisca de maneira absurda ou uma foto que não se deixa deletar.

Avaliação: Bom

Veja horários e salas de “Amizade Desfeita”.

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