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Crítica: “Vazante” mostra áridas relações humanas no Brasil escravista

Longa de Daniela Thomas fechou primeira noite de mostra competitiva do Festival de Brasília ao lado do curta “Peripatético”

atualizado

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Ricardo Telles/Divulgação
VAZANTE daniela thomas cred ricardo telles (1)
1 de 1 VAZANTE daniela thomas cred ricardo telles (1) - Foto: Ricardo Telles/Divulgação

Os créditos finais da primeira noite de mostra competitiva no 50º Festival de Brasília rolaram a poucos minutos da 1h da madrugada deste domingo (17/9). Único dia de sessão dupla na première, o sábado (16/9) terminou com a exibição de dois filmes com forte carga de comentário social sobre racismo e intolerância, ambos de São Paulo: o curta “Peripatético” e o longa “Vazante”.

Enquanto “Peripatético” usa a violência urbana para comentar a experiência de jovens na capital paulista, “Vazante”, rodado em preto e branco, volta ao século 19 para seguir um senhor de escravos português que aos poucos vê seu mundo opressor ruir diante de novos tempos. A mostra competitiva continua neste domingo (17/9), com o curta “Inocentes” e o longa “Pendular”, produções do Rio de Janeiro.

Leia críticas dos filmes exibidos na segunda sessão de sábado (16/9) na mostra competitiva:

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“Vazante” (SP): só a mistura cura
Em preto e branco, o filme retorna ao século 19 para reconstituir abrasivas relações humanas no Brasil de todas as épocas. O regime escravista parece prestes a ruir a cada negócio fracassado de Antonio, português, dono de escravos, de terra e de gado em Minas Gerais.

O ambiente doméstico também é só penúria: a mulher morre em trabalho de parto já no começo do filme. Enquanto tenta conter frequentes fugas de escravos e emplacar oportunidades comerciais, Antonio busca numa menina sua nova esposa.

Que preço Antonio terá de pagar por seu comportamento opressor e intolerante? Primeira direção solo de Daniela Thomas após filmes divididos com Walter Salles (“Terra Estrangeira”, “O Primeiro Dia”, “Linha de Passe”) e Felipe Hirsch (“Insolação”), “Vazante” é um filme de época inegavelmente sofisticado, mas também empostado e estruturado de um jeito que prejudica o ritmo da narrativa.

No terceiro ato, com um roteiro já sem tantas arestas e digressões, o filme curiosamente se aproxima da origem de Tiradentes filmada por Marcelo Gomes no recente “Joaquim”. Em ambos os filmes, desenha-se a origem do Brasil como um país fundado na injustiça, mas também na diversidade, na mistura, como a única cura possível para uma terra tão alegre quanto virulenta.

Avaliação: Regular

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“Peripatético” (SP): grito contra a injustiça
A partir da traumática onda de violência urbana que tomou conta de São Paulo e abreviou centenas de vidas na periferia da capital em 2006, o curta de Jéssica Queiroz equilibra drama teen, narrações em off, animações e cartelas informativas para comentar o genocídio da juventude negra no Brasil.

Impossível abraçar tantos debates importantes em uma só narrativa de 15 minutos, mas o filme se esforça para acomodar todos eles quase que minuto a minuto. A mensagem está lá, cristalina e frontal, enquanto a estrutura parece condenar a produção a um panfleto bem-intencionado de informações empilhadas.

Avaliação: Ruim

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