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10 fatos que marcaram o 49º Festival de Brasília

O Metrópoles relembra os melhores momentos e personagens que movimentaram o festival de cinema mais tradicional do Brasil

atualizado

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Felipe Menezes/Metrópoles
Festival de Brasília 2016, Cine Brasília
1 de 1 Festival de Brasília 2016, Cine Brasília - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

Encerrado nesta terça (27/9), com a vitória de “A Cidade Onde Envelheço” no troféu Candango, o 49º Festival de Brasília reuniu uma série de elementos históricos nesta edição. O clima de protesto político contra o governo do presidente Michel Temer aproximou ainda mais plateia (sempre reativa) e classe artística.

Temas como a questão indígena e a vida turbulenta nos centros urbanos se fizeram presentes na maioria dos longas e curtas selecionados. E, claro, houve o desfile de sempre de alguns grandes artistas e personalidades, como Alessandra Negrini, Guilherme Weber e até do deputado Jean Wyllys.

Veja 10 momentos, personagens e temas que marcaram o 49º Festival de Brasília:

Divulgação

Premiação: venceram os melhores
A entrega do troféu Candango realmente reconheceu os melhores trabalhos nas principais categorias. Os três longas mais bem avaliados pelo Metrópoles venceram as disputas de melhor filme: “A Cidade Onde Envelheço” (júri oficial), “Martírio” (júri popular) e “Rifle” (prêmio da crítica). Entre os curtas, a expectativa era que “O Delírio É a Redenção dos Aflitos” levasse.

Saiu do Cine Brasília com três troféus, mas o principal foi para a animação “Quando os Dias Eram Eternos” – uma escolha ousada. Na Mostra Brasília, “Rosinha”, vencedor do Festival de Gramado, confirmou o favoritismo e também se consagrou na capital. O longa “Catadores de História” desbancou “Cícero Dias, o Compadre de Picasso”, de Vladimir Carvalho, e “Cora Coralina – Todas as Vidas”.

Daniel Ferreira/Metrópoles

Guarani Kaiowá e além: indígenas como protagonistas
A tonalidade política da 49ª edição se fez notar já na seleção. Vários títulos levaram para a tela relatos de violência e a busca por identidade (geográfica, social e religiosa) de povos indígenas. “Martírio” (foto acima), grande filme do festival sobre o assunto, desenha um panorama histórico do movimento Guarani Kaiowá, indo nas origens da opressão que massacra as tribos há décadas.

Na ficção “Antes o Tempo Não Acabava”, o jovem Anderson Tikuna revela um perfil sobre identidade sexual em Manaus, entre a aldeia e a cidade. “O Último Trago” traz uma fábula envolvendo alegorias e tradições indígenas. A temática persistiu no curta “Abigail” e no longa “Taego Ãwa”, exibido fora de competição. Selecionada na Mostra Brasília, a animação em curta-metragem “A Festa dos Encantados” também abordou o assunto.

Daniel Ferreira/Metrópoles

Clima de protesto dos cineastas, apoio da plateia e…
Desde a noite de abertura, a classe artística se manifestou no palco com discursos de introdução (“Primeiramente, Fora, Temer”) e camisetas de repúdio ao governo do atual presidente (“Fora, Temer” e “Cinema Contra o Golpe”). A plateia aderiu aos protestos com sua vibração de sempre e, em alguns momentos, com uma efusividade desnecessária.

Em meio às reações mais inflamadas do público, sobrou até para o crítico da “CBN” Marcos Petrucelli, que se envolveu em polêmica ao integrar a comissão de seleção do representante do Brasil no Oscar 2017. O jornalista opinou negativamente sobre Kleber Mendonça Filho, de “Aquarius”, antes de ter visto o filme.

Daniel Ferreira/Metrópoles

… um certo clima de provocação
Vários filmes da seleção oficial carregaram nos créditos iniciais o selo que marcou o protesto dos cineastas: “Cinema Contra o Golpe”. Aqui e ali, em meio aos “Fora, Temer” da plateia, também houve reações contrárias. Alguns solitários espectadores responderam com “Fora, Lula”, provocando repúdio da maioria da plateia.

Logo no primeiro dia de competição, uma troca de farpas deu o tom do que seria o festival. Após mais um “Fora, Temer”, uma pessoa urrou “Fora, PT”. Vaias tomaram conta do Cine Brasília com o curta “Quando os Dias Eram Eternos” já começando. Um terceiro espectador finalmente trouxe os presentes à razão: “Aqui é cinema!”.

Daniel Ferreira/Metrópoles

A medalha Paulo Emílio Salles Gomes para Bernardet
Homenagem criada nesta edição, a medalha teve como destino o coração e mente de Jean-Claude Bernardet, o crítico que decidiu se tornar ator. Em seu bonito discurso, ele fez uma reverência a Salles Gomes. “Essa medalha resume minha vida, porque ela começou realmente quando encontrei Paulo Emílio, em 1958, na Cinemateca”. Durante o festival, o pensador pôde ser visto na incomum biografia “A Destruição de Bernardet”, exibida fora de competição.

Divulgação

Povo x cidade: personagens atormentados
O clima de incertezas na política, crise econômica e angústias em relação ao futuro definiu o temperamento de vários filmes da competição. Vencedor do festival, “A Cidade Onde Envelheço” acompanha a vida de duas jovens portuguesas que fugiram da crise no país para tentar algo novo em Belo Horizonte. “Deserto”, longa de estreia de Guilherme Weber, narra a fundação de uma comunidade por um grupo de artistas decadentes, sem palco e plateia.

“Elon Não Acredita na Morte” talvez seja o mais significativo dentro desse espírito: um personagem que vaga por Belo Horizonte em busca da esposa, entre a paranoia e o pesadelo. O brasiliense “Malícia” parte de um empresário tentando pagar propina para quitar uma dívida, mas também flagra relacionamentos ácidos e intempestivos. No gaúcho “Rifle”, um trabalhador do campo saca a arma para afastar a especulação imobiliária.

Personas desnorteadas também habitam os curtas “Constelações”, “Estado Itinerante” (foto acima), “O Delírio É a Redenção dos Aflitos”, “Os Cuidados que se Tem com o Cuidado que os Outros Devem Ter Consigo Mesmos” e “Ótimo Amarelo”: todos protagonizados por jovens em grandes cidades, como Salvador, São Paulo e Recife.

Daniel Ferreira/Metrópoles

A presença mineira e o impasse para 2017
Estado mais bem representado na mostra competitiva, com cinco filmes entre os 21 selecionados, Minas Gerais veio ao festival com um protesto específico e urgente. No palco do Cine Brasília, os cineastas relataram à plateia a situação paradoxal que o cinema do estado vive: frutífero na safra 2016, mas receoso em relação a 2017 por causa da extinção do programa de fomento Filme em Minas.

O diretor Ricardo Alves Jr., do longa “Elon Não Acredita na Morte”, deu uma boa entrevista ao Metrópoles sobre esse momento tão contraditório.

Felipe Menezes/Metrópoles

O retorno triunfal de Bressane…
Aos 70 anos e após quase uma década sem vir ao festival, Julio Bressane voltou para mostrar o belíssimo “Beduíno” fora de concurso. Quatro vezes vencedor do troféu Candango – a última pelo mui vaiado “Cleópatra”, em 2007 –, carioca definiu o filme como um “quadro feito por muitas mãos”.

“A realização foi feita por produtores-realizadores. Nesse sentido, o filme tem herança da pintura de ateliê – quando existia a pintura. Um filme que espero que vocês tolerem. É o real envolvendo tudo, toda a música, todos os sonhos, toda a poesia”, falou o cineasta quando apresentou o longa.

Rafaela Felicciano/Metrópoles

… e um Cláudio Assis sempre presente 
O pernambucano costuma ser convidado para o festival mesmo quando não tem filme na mostra. Um ano após vencer o prêmio por “Big Jato”, voltou para acompanhar a exibição da cópia restaurada de “Baile Perfumado”, no encerramento. Dono de três Candangos num espaço de apenas 13 anos, ele fez uma inusitada aparição no domingo, logo após a apresentação do curta “Bodas de Papel”. Com seu ar de boêmio e poeta marginal, ele subiu as escadas que dão para o palco e pediu o microfone.

“Que vinho ruim.. o tal do Petrucelli”, disse, segurando um bilhete. A vinheta musical subiu de volume como que para intimar o cineasta a abreviar sua intervenção. Um tanto sem graça e talvez esperando uma reação mais calorosa do público, terminou sua aparição com uma mesura bem ao seu estilo. Franca e direta. “Abaixo a censura! Brasília é do caralho. Desculpa, mas é mesmo”.

Daniel Ferreira/Metrópoles

Praça de alimentação: não deu fome
A iluminação, a pouca oferta de opções, o desânimo. São muitos os pontos que fizeram da praça de alimentação do 49º Festival de Cinema provavelmente o mais esquecível. Sem ter o clima boêmio e convidativo de outrora, quando reunia equipes, jornalistas e público em animados bate-papos, o espaço morno desagradou.

Metrópoles cantou essa pedra logo no início do Festival, quando sugeriu algumas dicas para explorar melhor a vizinhança. Quem faturou foram os comerciantes que ficavam nas redondezas. Ao invés de gastar na praça montada no Cine Brasília, o público estava visivelmente mais disposto a investir na pizza da Dom Bosco, no cachorro-quente da Igrejinha e nos ambulantes que estavam estacionados em frente ao cinema.

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