Greve, catraca livre e reajuste fizeram prejuízo do metrô aumentar 45%
Balanço revela que em 2016 houve, ainda, queda no aporte de recursos do GDF. Economia com contratos foi insuficiente para reduzir perdas
atualizado
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O metrô do Distrito Federal fechou o ano passado com um prejuízo de R$ 58,4 milhões, valor 45% maior do que o registrado em 2015 (R$ 40,1 milhões). Entre os principais motivos do desempenho negativo estão a redução de R$ 74 milhões no aporte feito pelo Governo do Distrito Federal à empresa, a greve que tirou o sistema dos trilhos por 73 dias em 2016, além do aumento das tarifas e das gratuidades.
O diretor financeiro e comercial do Metrô-DF, Gilberto Pompílio, destaca que os números poderiam ser piores. “Terminamos com prejuízo de R$ 58 milhões, mas o resultado operacional total foi de R$ 56 milhões, melhor do que em 2015. Além disso, oneramos menos o GDF porque melhoramos a receita e reduzimos as despesas”, explicou. A melhora no resultado operacional, na verdade, representa um saldo negativo de R$ 267,9 milhões, que em 2015 era de R$ 324 milhões.
De acordo com a empresa, isso ocorreu porque os custos de manutenção foram reduzidos à metade com o fim dos contratos emergenciais dos consórcios SSV e Águas Claras, e a contratação regular da MPE Engenharia. Os dados foram divulgados em balanço anual da companhia, publicado no Diário Oficial do DF na sexta-feira (24/3).R$ 15 milhões a menos
A greve de 73 dias em junho, julho e agosto de 2016 também contribuiu para o prejuízo. Durante a paralisação, o sistema deixou de arrecadar R$ 15 milhões, de acordo com o balanço anual. Além disso, a quantidade de viagens por mês teve queda de 14% – de 3.474.583, em 2015, para 2.990.044, em 2016: o que, para a empresa, indica fuga de passageiros, em função do reajuste das tarifas.
Se o reajuste – em 2015, quando a passagem passou de R$ 3 para R$ 4 – espantou parte dos brasilienses, garantiu, na outra ponta, um aumento substancial na arrecadação, fazendo com que o Metrô faturasse 5,9% a mais. Em janeiro deste ano, o valor da tarifa subiu novamente, para R$ 5. O impacto do reajuste, entretanto, só será sentido no balanço de 2017.
Gratuidades
Na direção contrária à queda do fluxo de passageiros estão as gratuidades no sistema, reforçadas com o déficit de servidores nas bilheterias, que acabam permitindo a entrada de passageiros sem pagar. O Metrópoles denunciou a prática e os prejuízos ao sistema, em reportagens publicadas no ano passado. As catracas abertas aumentaram 0,5% em 2016 e representaram 1,2 milhão de viagens.
Gilberto Pompílio justificou que a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) impede a companhia de contratar mais pessoal para ocupar todos os postos necessários e, assim, evitar as catracas abertas. Para ele, a adoção do Bilhete Único, prevista para o segundo semestre, deve melhorar o quadro.
“A rede de vendas vai ficar mais espalhada e, com isso, consigo regular a gestão do pessoal”, ressalta Pompílio. Com a integração do sistema, os usuários poderão usar até três transportes no prazo de duas horas, contadas a partir da primeira validação.
Contratações
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários (Sindmetro-DF), Ronaldo Amorim de Sousa, culpa o GDF pela situação.
Tem de haver mais contratações para o usuário poder contar com um sistema mais seguro, e também para diminuir o prejuízo com as cancelas abertas
Ronaldo Amorim de Sousa, presidente do Sindmetro-DF
Ele não descarta outra paralisação, o que pode afetar novamente o desempenho da empresa este ano. Desde o começo do mês, a categoria tenta fechar acordo coletivo com o Metrô-DF e ameaça parar as atividades, caso não haja acordo.
Transporte pouco usado
No ano passado, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), o metrô do DF foi usado por uma média de 144 mil pessoas por dia útil. O número é menor do que o registrado em cidades como Porto Alegre (RS), com 202,2 mil; Belo Horizonte (MG), 202,2 mil; e Recife (PE), 367 mil, capital com população inferior à de Brasília.
O índice é ainda menor se comparado com Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), que receberam, em média, 5,9 milhões e 1,5 milhão de passageiros, respectivamente, a cada dia útil. Os dados mostram que apenas 4,9% da população do DF é usuária do metrô, ante os 28,2% de São Paulo, os 12,2% do Rio de Janeiro e até os 8% de Belo Horizonte.