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Tragédia na L4 Sul: biografia de um crime movido a álcool e velocidade

Com base nos depoimentos à polícia, Metrópoles esclarece dúvidas de leitores sobre o acidente que matou mãe e filho no domingo (30/4)

atualizado

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Bombeiros/Divulgação
Bombeiros na L4 Sul
1 de 1 Bombeiros na L4 Sul - Foto: Bombeiros/Divulgação

A tragédia no trânsito que causou a morte de duas pessoas no último domingo (30/4), na via L4 Sul, continua a mexer com a opinião pública. As investigações em andamento na 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) procuram esclarecer a dinâmica do acidente, que teria ocorrido em decorrência de um “racha” disputado com a participação de ao menos dois carros – um terceiro é investigado. Um dos veículos acabou atingindo o Ford Fiesta onde estavam quatro pessoas de uma mesma família: o designer Ricardo Clemente Cayres, 46 anos, e sua mãe, Cleuza Maria Cayres, 69, morreram.

Os relatos de testemunhas oculares, dos motoristas envolvidos e das equipes que atenderam a ocorrência começam a escrever a biografia de um crime de trânsito, abastecido a álcool e abuso de velocidade. Os suspeitos de terem provocado a tragédia seguem em liberdade, enquanto a família das vítimas clama por Justiça.

Nesta reportagem, o Metrópoles esclarece as principais dúvidas dos brasilienses sobre o caso, a partir das informações já colhidas pelos investigadores da 1ª DP (Asa Sul).

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Quem são os motoristas envolvidos na colisão?
Integrantes de uma mesma família, os três motoristas envolvidos no acidente são Noé Albuquerque Oliveira, Fabiana de Albuquerque Oliveira e Eraldo José Cavalcante Pereira. Os dois primeiros são irmãos e o terceiro, cunhado de ambos.

Servidor público, Noé Oliveira Albuquerque é terceiro sargento no Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal e ganha salário médio de R$ 8,4 mil. Após o acidente, a corporação instaurou processo apuratório para analisar a conduta do militar. Ele também é enfermeiro da Secretaria de Saúde do DF, e pela função recebe remuneração de R$ 9,4 mil. O carro que dirigia no dia da colisão, uma Range Rover Evoque, ano 2013, pode custar até R$ 159 mil.

Irmã de Noé, Fabiana de Albuquerque Oliveira também é militar e ocupa o cargo de primeiro-tenente no Exército Brasileiro, com salário bruto de R$ 9,9 mil. O nome dela também consta como sócia em uma farmácia na Asa Sul. No dia do acidente, ela dirigia um Chevrolet Cruze, ano 2014, que chega a valer R$ 58 mil.

O terceiro e último envolvido é cunhado de Noé e Fabiana. O advogado Eraldo José Cavalcante Pereira foi quem colidiu contra o Ford Fiesta onde estavam as duas pessoas que morreram. No dia do acidente, ele dirigia um Volkswagen Jetta, ano 2012, que vale, em média, R$ 45 mil.

Ricardo Botelho/Metrópoles
Eraldo dirigia o Jetta, que bateu no carro onde estavam as vítimas

 

O que eles faziam no dia do acidente?
No domingo (30/4), os três comemoravam o aniversário de Fabiana com familiares, a bordo de uma lancha no Lago Paranoá. Segundo as investigações, a embarcação era de propriedade conjunta da família.

Em depoimento à polícia, um funcionário da marina onde a lancha fica guardada afirmou que o grupo embarcou por volta das 12h30 e não tinha voltado até as 18h, quando terminou seu expediente. O acidente ocorreu depois que o trio saiu do local, por volta das 19h30.

Quem eram as pessoas que ficaram feridas e morreram?
Os ocupantes do Ford Fiesta atingido pelo Jetta de Eraldo também eram de uma mesma família e participavam de uma festa naquele domingo. O grupo aproveitou a véspera do feriado do Trabalhador para fazer um churrasco no condomínio Ville de Montagne, no Lago Sul. O designer Ricardo e sua mulher, a revisora Fabrícia de Oliveira Gouveia, também comemoravam a possibilidade de fechar a compra de uma casa, que visitaram no dia anterior.

Por volta das 19h, o designer seguiu com o cunhado, Helberton Silva Quintão, 37 anos, para levar os pais em casa, no Guará. Foi nesse trajeto que o acidente ocorreu. Após o contato com o Jetta, o Fiesta da família bateu contra uma árvore e capotou. A traseira do carro, onde estavam Ricardo e Cleuza, ficou destruída.

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Helberton e o sogro Oswaldo Clemente Cayres, 72 anos (pai de Ricardo e marido de Cleuza), tiveram ferimentos e foram levados ao Hospital de Base. Ambos receberam alta médica no dia seguinte. Segundo as equipes que atenderam a ocorrência, todos no Fiesta usavam o cinto de segurança.

Por que os três motoristas não foram autuados e detidos no dia do acidente?
O Departamento de Estradas e Rodagens do DF (DER-DF) foi o responsável pelo atendimento da ocorrência. Antes mesmo da chegada do órgão no local da batida, um dos envolvidos, o advogado Eraldo José Cavalcante Pereira, já havia fugido.

Segundo um agente do DER que participou da operação, Fabiana apresentava hálito etílico, mas não tinha outros sinais de embriaguez. Ainda de acordo com servidores do DER e do Departamento de Trânsito (Detran-DF), ela se recusou a fazer o teste do bafômetro.

As autoridades explicam que o indício não é suficiente para a aplicação do artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, que prevê a detenção por alcoolemia ao volante. Em caso de recusa do bafômetro, é necessária a identificação de outros sinais que comprovem a incapacidade do motorista para dirigir. Como Fabiana não apresentava mais vestígios de embriaguez, prestou depoimento e foi liberada.

Já Noé estaria com hálito etílico, olhos vermelhos e fala arrastada. Ele também teria se negado a fazer o teste do bafômetro, segundo o servidor do DER-DF. O bombeiro chegou a prestar os primeiros socorros às vítimas, mas, depois de entregar a carteira de habilitação ao agente, fugiu do local enquanto o servidor conversava com uma testemunha. O agente do DER afirmou que só não autuou o condutor em flagrante por conta da fuga.

Em depoimento à Polícia Civil, Noé alegou que não aceitou fazer o teste do bafômetro porque não havia equipamento disponível no local. Afirmou ainda que foi embora porque queria levar a esposa, que estava no veículo envolvido, a um hospital para tratar de ferimentos. Em depoimento prestado nesta quarta-feira, um servidor do Detran derrubou a versão do sargento: ele garantiu que as equipes que atenderam a ocorrência dispunham de dois etilômetros em plenas condições de uso no local.

Por que nenhum dos envolvidos foi preso até agora?
A Polícia Civil ainda aguarda o resultado de uma perícia para entender a dinâmica do acidente, tipificar o crime e indiciar os culpados. Também não foi decretada a prisão temporária ou preventiva de nenhum dos envolvidos. Por essas razões, eles continuam em liberdade.

Mesmo apresentando sinais de embriaguez, segundo o DER, Noé Albuquerque Oliveira não foi preso em flagrante porque não fez o teste do bafômetro e se evadiu do local, só se apresentando à polícia no dia seguinte. A embriaguez de Fabiana Oliveira também não foi comprovada. Eraldo Pereira fugiu antes da chegada das autoridades e só se apresentou no dia seguinte.

Depois do resultado da perícia, eles responderão por quais crimes?
Em entrevista à imprensa, o delegado Ataliba Nogueira, adjunto da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), afirmou que existem três principais teses: a hipótese de racha com resultado em morte, cuja pena varia de 5 a 10 anos de prisão; homicídio culposo (sem intenção de matar) ou homicídio doloso (quando a pessoa assume o risco de provocar uma morte ao tomar determinadas atitudes), com a qualificadora de dano eventual por ingestão de bebida alcoólica.

Todos os envolvidos negam que tenha havido um racha e alegam que trafegavam na velocidade da via, mas depoimentos de testemunhas mantêm vivas as suspeitas de que eles disputavam algum tipo de corrida, principalmente Noé e Eraldo.

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