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Lava a jato onde carros eram clonados devia R$ 10 mil à Caesb e à CEB

Quadrilha presa em Ceilândia ameaçava servidores das empresas quando funcionários tentavam fazer a leitura dos registros de água e luz

atualizado

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PCDF/Divulgação
operação wd40
1 de 1 operação wd40 - Foto: PCDF/Divulgação

Os crimes cometidos pela maior quadrilha de clonagem de carros do Distrito Federal não se restringiam a roubos de veículos, adulteração de placas e de documentos em um lava a jato na QNM 7 de Ceilândia. O grupo também ameaçava servidores da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) e da Companhia Energética de Brasília (CEB). O objetivo era impedir que os funcionários fizessem a leitura dos relógios que medem o consumo de água e de luz. Além disso, as faturas não eram pagas e as dívidas com as empresas ultrapassavam R$ 10 mil.

Moradores e comerciantes confirmaram ao Metrópoles que os bandidos intimidavam qualquer pessoa que passasse pelo Du Lava a Jato, impondo uma política de medo na área. “Eles não se preocupavam em ameaçar ou até mesmo mostrar armas. Sempre que chegava um carro roubado, o portão era fechado para evitar que alguém visse o movimento”, contou o dono de um comércio da região, que pediu para ter o nome mantido sob sigilo. O bando não pagava sequer o aluguel de R$ 1,5 mil mensais ao dono do terreno.

A quadrilha, que era comandada por Mário Eduardo Gomes de Moraes, 31 anos, conhecido como “Ferrugem”, foi desmantelada na Operação WD-40, da Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos (DRFV), em dezembro de 2016. Como a investigação prosseguiu nos meses seguintes para identificar a participação de outros adulteradores, os dados foram mantidos sob sigilo até esta segunda-feira (24/4), quando o Metrópoles revelou o caso.

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Dívidas quitadas sob nova direção
Hoje, as atividades ilícitas ficaram no passado e o estabelecimento está sob nova direção. Em março, três meses após a prisão de Ferrugem e seu grupo, uma família que trabalha há 13 anos no ramo de lavagem de veículos arrendou o local na QNM 7.

Rebatizado de Lava Jato do Robinho, o casal Anderson Ferreira Dias e a companheira, Lucimeire Soares, ambos de 31 anos, tocam o negócio. Mas eles tiveram que arcar com o prejuízo de cerca de R$ 10 mil com a CEB e a Caesb. “Temos 13 anos de mercado e esse ponto é considerado muito bom, por isso resolvemos pagar todas as dívidas”, disse a mulher. Procuradas pela reportagem, a Caesb e a CEB não haviam retornado o contato até a última atualização desta matéria.

Lucimeire conta que não sabia o motivo pelo qual o comércio havia sido fechado e procurou o dono do terreno para assinar um contrato de locação. “Não tínhamos ideia que o lava a jato havia sido alvo de uma operação policial. No entanto, estamos reerguendo o ponto, com um trabalho sério e honesto”, completou a mulher, que mora com o marido e os três filhos nos fundos do lava a jato.

Até 10 carros por dia
Hoje, a realidade é bem diferente da época em que Ferrugem comandava a organização criminosa que aterrorizava a área. Até o líder da quadrilha e os outros seis integrantes do grupo serem presos, cerca de 10 carros eram clonados por dia no lava a jato, segundo o titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos, Marco Aurélio de Souza.

A quadrilha, que hoje encontra-se presa no Complexo Penitenciário da Papuda, respondia por dois terços desse tipo de crime no DF — a média diária de roubos a veículos na capital federal é de 15 ocorrências.

Sempre que um carro é roubado ou furtado e tem como destino a revenda, os criminosos procuram locais como esse lava a jato. Os bandidos providenciam a adulteração das placas, dos sinais identificadores nos vidros, da documentação e até da numeração de chassi.

Marco Aurélio de Souza, delegado-chefe da DRFV

Mercado paralelo
Para se ter uma ideia, apenas nos primeiros três meses deste ano, 1.404 veículos foram roubados — média de 15 por dia entre 1º de janeiro e 31 de março. “Cada carro acaba sendo repassado pelos ladrões aos adulteradores por valores entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil. Com documentos falsos e placa adulterada, os veículos passam a custar cerca de R$ 9 mil”, disse o delegado.

Souza informa que 30% dos carros roubados em Brasília acabam recebendo novas placas e documentos falsos para circularem tanto em cidades no Entorno do DF quanto em municípios de Minas Gerais e Bahia.

Atualmente, segundo Marco Aurélio de Souza, a delegacia investiga outras quadrilhas de receptadores de veículos roubados no Distrito Federal.

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