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Fazemos qualquer negócio. Maconha agora é vendida no débito e até no crédito no WhatsApp

Serviço delivery via WhatsApp, aliciamento de garotas de programa e moradores de rua para distribuição de drogas são apenas algumas das características da nova estrutura do tráfico na Asa Norte

atualizado

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Comprar maconha no débito, e até no crédito, parece mentira? Pois os traficantes que atuam na Asa Norte implementaram o modelo de negócio. Eles também oferecem o serviço delivery via Whatsapp, além de aliciamento de garotas de programa e moradores de rua para distribuição de drogas. Essas são apenas algumas das características da nova estrutura do tráfico na região do Plano Piloto.

Esse é o perfil de uma modalidade criminosa que se reinventou para atender à demanda de uma clientela elitista, cada vez mais crescente na capital. Nos primeiros dez meses deste ano, a Polícia Civil registrou 70 ocorrências de tráfico na Asa Norte, aumento de 112,1% em relação aos 33 registros ocorridos no mesmo período do ano passado.

Os números são apenas detalhes quando o assunto é a distribuição de drogas no lado norte do Plano. Por trás das estatísticas, escondem-se uma divisão territorial feita por traficantes e até a produção de maconha geneticamente modificada. Todas as informações fazem parte de levantamentos dos investigadores da Seção de Repressão às Drogas (SRD) da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte).

Aparelhos celulares apreendidos pelos policiais confirmam como as transações ocorrem. Os traficantes, que não gostam de se aventurar nas ruas, preferem contar com a tecnologia e fazer o negócio on-line. Grupos de Whatsapp bombam com os pedidos delivery de maconha. O traficante, chamado “Hygor Shox” avisa aos usuários que o “centro de distribuição” irá trabalhar com uma logística diferenciada e começará a vender maconha no débito por R$ 50 a porção. Quem quiser pagar no crédito, terá de desembolsar R$ 70, por conta dos “encargos da administradora”, justifica o traficante.

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Em outra conversa, o mesmo traficante avisa aos participantes do grupo que está com uma Maria – codinome usado para maconha – que é uma novidade no mercado, com alto teor de pureza.

Divisão territorial
Ao contrário do que ocorre em cidades como Ceilândia e Samambaia, onde pontos de venda de drogas são disputados à bala, na Asa Norte os criminosos entraram em consenso. As quadras foram divididas e os limites imaginários são respeitados. A 306, a 312, a 408, a 410, a 703 e a 704, além de toda a extensão da W3 Norte, foram “loteadas” pelo tráfico.

Investigações identificaram quais são as principais engrenagens do sistema que movimenta o repasse das drogas. Traficantes uniram o útil ao agradável e arregimentaram grupos de garotas de programa que oferecem maconha e cocaína aos clientes. A rotatividade é frenética e o lucro é certo.

A cada programa, um papelote de cocaína ou uma porção da erva é vendida. Em uma das campanas, os policiais registraram o momento em que um traficante desce do carro e entrega dez papelotes de cocaína a uma das prostitutas. Tudo acontece em questão de segundos. Pouco depois, a garota foi presa e a droga apreendida.

Enquanto as garotas de programa dormem, quem assume o comando de repassar a droga para os usuários são flanelinhas que trabalham nos estacionamentos das quadras comerciais da região. “Identificamos que existe o tráfico diurno e o noturno, ambos com características bem distintas”, explicou o delegado-chefe da 2ª Delegacia de Polícia, Laércio Rossetto.

Enquanto o tráfico diurno é feito nos estacionamentos, muitas vezes dentro de um veículo, o noturno ocorre em meio ao burburinhos dos bares que funcionam até de madrugada. Da mesma forma, a transação é ligeira, quase imperceptível. Uma das compras também foi registrada pelos policiais em um bar da quadra 306 Norte.

Green Poison
A clientela de alto poder aquisitvo faz com que traficantes da Asa Norte ofereçam drogas cada vez mais sofisiticadas e que são “tendência” na Europa. Green poison, Black Gold e o já famoso Skank são nomes dados a diferentes tipo de maconha, todas modificadas geneticamente, cada uma delas com propriedades diferentes.

No mês passado, policiais da 2ª DP encontraram um verdadeiro depósito com uma grande diversidade de espécies da erva. A maconha ficava estocadas em recipientes de vidro na casa de um estudante da Universidade de Brasília (UnB). O rapaz, que morava em uma quitinete, foi monitorado pelos investigadores, que registraram o “entra e sai” de usuários no prédio.

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Todos os tipos de maconha eram definidos por um pedaço de papel escrito à caneta que ficava pregado nos potes de vidro. Todas as espécies haviam sido importadas, a maioria da Holanda. Sementes da erva, que chegam a custar o equivalente a R$ 400 reais, eram vendidas no DF com a promessa de possuir “aroma muito intenso, doce, frutado e diferente das outras variedades”. Além de maconhas de espécie rara, o traficante tamvém comercializava um tipo de LSD líquido, pouco conhecido no Brasil.

Combate
Para combater o tráfico na região, os policiais lotados na Seção de Repressão às Drogas (SRD) da 2ª DP se especializaram na investigação que combate o tráfico de drogas. Desde janeiro deste ano, a delegacia mantém um índice de quase 100% nas condenações. “Todos os traficantes presos por nós permanecem presos, por conta de um relatório robusto, com vídeos, fotos e depoimentos que garantem a atividade destes criminosos”, ressaltou o delegado-chefe Laércio Rossetto.

O delegado também frisou que o trabalho feito em parceria com o 3º Batalhão da Polícia Militar (BPM) responsável pelo patrulhamento na Asa Norte têm sido essencial para o sucesso das operações. “A PM é uma parceira valiosa que temos. Sem esse trabalho conjunto não teríamos alcançado números tão bons no que diz respeito a prisão de traficantes e a apreensão de drogas”, finalizou.

Além do crescimento nas ocorrências de tráfico de drogas, as autuações por uso e porte de drogas também apresentaram um aumento de 209%. Os números saltaram de 104 ocorrências no ano passado para 322 este ano.

 

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