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Marli e ex-subsecretário articularam para Gondim ser delator na CPI

Em gravações entregues ao Ministério Público do DF, a que o Metrópoles teve acesso, a presidente do SindSaúde e Marco Júnior planejavam que o ex-secretário denunciasse o esquema de corrupção na pasta

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
O ex secretário da saúde Fábio Gondim
1 de 1 O ex secretário da saúde Fábio Gondim - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Em abril deste ano, quando a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde na Câmara Legislativa era apenas uma ideia incipiente, a presidente do Sindicato dos Servidores da Saúde do Distrito Federal (SindSaúde), Marli Rodrigues, e o ex-subsecretário de Infraestrutura e Logística da Secretaria de Saúde Marco Júnior iniciaram uma articulação para que o então secretário da pasta, Fábio Gondim, se tornasse delator dos esquemas da Saúde. É o que revelam trechos de uma gravação feita por Marli entregue ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e que também está sendo investigada no âmbito da Operação Drácon.

“Eu expliquei pra ele que a gente tá nessa investigação, e que tá com uma pessoa que pra gente é como se fosse um delator mesmo”, disse Marli em trecho da conversa. “E que essa situação que a gente tá hoje (…) pra gente entrar na Justiça, escreve: fazer do Fábio um delator”, sugeriu. A proposta recebeu apoio de Marco Júnior. “Nosso receio é justamente esse, de pôr nele as coisas do antigo secretário, o João Batista (de Sousa, ex-secretário de Saúde)”, disse.

Na avaliação de Júnior, o passado de Gondim, próximo à família do ex-presidente José Sarney (PMDB), poderia contar contra ele em um trabalho de investigação. “Porque é mais fácil vincular o Fábio ao Sarney, é mais fácil vincular o Fábio ao BRB, é mais fácil, sabe? É jogo político, a tendência realmente é o quê? Livrar o atual e botar tudo nas costas”, prosseguiu.

A ideia não prosperou, segundo Marli e Júnior, porque Gondim não acreditaria que fosse possível uma articulação visando colocar nele a culpa dos supostos esquemas em curso na secretaria que ele comandava. “O Fábio não acredita nas coisas… Muitas vezes dá vontade de dar uma porrada nele”, disse Júnior.

As conversas gravadas pela sindicalista estão em posse do MPDFT, a quem ela prestou depoimento. Os diálogos deram início à atual crise política que o governo de Rodrigo Rollemberg (PSB) enfrenta. Na sequência, o MPDFT e a Polícia Civil deflagraram a Operação Drácon, que culminou no afastamento da Mesa Diretora da Câmara Legislativa, devido à aprovação de uma emenda destinando R$ 30 milhões referentes a restos da verba orçamentária da Casa e que, de acordo com os distritais, deveriam ir para o pagamento de empresas que prestam serviço de UTIs em Brasília.

Primeiras gravações
As primeiras gravações que apontavam para um possível esquema de propina e de desvio de dinheiro na saúde pública do DF vieram à tona em julho deste ano, quando foram divulgadas conversas entre Marli Rodrigues, o vice-governador Renato Santana e o ex-secretário de Saúde Fábio Gondim.

Em parte desses diálogos, há indícios de que o governador Rollemberg tinha conhecimento do esquema. Em função disso, os trechos que citam o chefe do Executivo foram enviados, em 6 de setembro, à Procuradoria-Geral da República (PGR). O Ministério Público Federal (MPF) é que vai definir se existem indícios suficientes para que se abra uma investigação sobre o governador.

Entre elas, o superfaturamento na compra de kits contra a dengue por R$ 55 cada. O preço médio de mercado dos produtos, segundo Marli afirmou à CPI da Saúde, seria entre R$ 8 e R$ 22. O fato, que será investigado pela PGR, envolve o nome do governador e do chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio.

As gravações de Liliane
Em agosto, uma nova leva de grampos jogou gasolina na fogueira da crise. A deputada distrital Liliane Roriz (PTB) teria começado a gravar conversas com colegas no fim de 2015, quando os parlamentares decidiam sobre o que fazer com uma sobra orçamentária da Casa. Em um primeiro momento, os recursos seriam destinados ao GDF para custear reformas nas escolas públicas. De última hora, no entanto, o texto do projeto de lei foi modificado e o dinheiro — R$ 30 milhões de um total de R$ 31 milhões — acabou realocado para a saúde.

Na ocasião, Liliane teria questionado a então presidente da Câmara, Celina Leão (PPS), sobre a mudança na votação. No áudio, é possível ouvir Celina falando que o “projeto” seria para um “cara” que ajudaria os deputados.

Celina disse ainda que Liliane não ficaria de fora: “Você (Liliane) tá no projeto, entendeu? Você tá no projeto. Já mandei o Valério (Neves, ex-secretário-geral da CLDF) falar com você.” Após as denúncias e a Operação Drácon, a Justiça determinou o afastamento de toda a Mesa Diretora da Casa.

O Metrópoles tentou contato com Fábio Gondim, mas não conseguiu.

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