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DF é a unidade da Federação que mais investe em saúde, mas falta gestão

Segundo pesquisa do Conselho Federal de Medicina, o governo local desembolsou, em 2014, R$ 1.194,02 por brasiliense. Para especialistas, levantamento evidencia problemas na administração da rede pública

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Hospital Regional de Ceilândia
1 de 1 Hospital Regional de Ceilândia - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Estudo do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgado nesta segunda-feira (29/2) aponta que o Distrito Federal é a unidade da Federação que mais investe, por habitante, em saúde pública. Segundo o documento, o Governo do DF desembolsou, em 2014, R$ 1.194,02 por brasiliense. No mesmo dia em que o CFM anunciou o levantamento, a Secretaria de Saúde informou que a capital receberá três novas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e, apesar dos investimentos, a realidade enfrentada pelos pacientes diariamente não condiz com os dados apresentados. E o diagnóstico de especialistas ouvidos pelo Metrópoles é claro: nem sempre a falta de dinheiro é o maior problema. Muitas vezes, a carência principal é de uma gestão eficiente.

O caos na saúde está relacionado ao modelo e à administração empregados nas unidades hospitalares. Apesar dos dados apontados pelo CFM, no DF, a atenção básica tem recebido muito pouco cuidado. Não há diálogo entre a atenção básica e os outros níveis. Em estados do Sul, por exemplo, os governos deram prioridade a essa área, e a saúde de lá apresentou significativas melhorias

Helena Eri Shimizu, especialista em administração hospitalar e de sistemas de saúde da Universidade de Brasília (UnB)

A monitora escolar Eden Lúcia de Fátima, 43 anos, é um exemplo dessa situação. Ela esteve durante 25 dias ao lado do tio, no Hospital de Base, aguardando uma cirurgia para colocação de um marcapasso no coração do idoso, de 87 anos. Na última sexta-feira (26/2), ele foi submetido ao procedimento, mas Eden Lúcia está decepcionada: “Achávamos que colocariam o aparelho definitivo. Mas disponibilizaram um provisório. Teremos que esperar novamente”.

No início deste mês, o Metrópoles mostrou o drama dos pacientes que aguardam em uma fila de espera o implante do equipamento. A Secretaria de Saúde informou que recebeu 248 kits na quarta-feira da semana passada (24). O investimento foi de R$ 841.555,64. Esse quantitativo, de acordo com a pasta, é suficiente para cerca de cinco meses, se mantida a média mensal de 50 cirurgias. “Aqui falta administração. Se o diretor do hospital tivesse feito o pedido antes de o aparelho acabar, não teríamos que passar por isso”, lamenta Eden.

Rede inchada
O estudo do CFM contou com o apoio da ONG Contas Abertas. O secretário-geral da organização, Gil Castelo Branco, explicou que Brasília vive uma situação atípica em relação às outras unidades do Brasil. “O DF atrai pacientes de vários municípios vizinhos que não têm hospitais e postos de saúde. Esses locais só possuem ambulâncias para transferir a população para a capital”, comenta. O economista esclareceu que o estudo dividiu o valor pela população de todas as regiões administrativas. De acordo com ele, se fossem considerados todos os usuários da rede — incluindo quem vem do Entorno —, a cifra de R$ 1.194,02 per capita seria menor. Se o DF tem o maior investimento por habitante, na outra ponta está o Pará, com R$ 270,87.

A Secretaria de Saúde não havia comentado a pesquisa até a publicação desta reportagem.

Novas Unidades Básicas de Saúde
Os contratos para a construção de três novas UBS com as empresas vencedoras da licitação foram assinados pelo secretário da Secretaria de Saúde, Fábio Gondim, nesta segunda-feira (29). O Ministério da Saúde liberou R$ 1,9 milhão para as obras. “Essa assinatura viabiliza a construção de três UBSs onde há carência de assistência, que são os condomínios Pôr do Sol e Sol Nascente, em Ceilândia, e uma em Samambaia”, diz Gondim. Ele afirma que este é um convênio antigo, que estava engavetado e agora será concretizado.

Além do repasse do Ministério da Saúde, a secretaria ainda empenhou R$ 6.944.378,99 para a construção das três unidades. A pasta tem cinco dias úteis para a publicação do extrato dos contratos no Diário Oficial do DF para que as obras sejam iniciadas.

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