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Sem coletor adequado, secreções de pacientes podem chegar ao Lago

Denúncia é feita por servidores, que alegam também contato com o material recolhido. Secretaria nega riscos aos funcionários e à população

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
lago contaminado
1 de 1 lago contaminado - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Usados em centros cirúrgicos, salas de recuperação e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), os coletores de secreção são essenciais no tratamento de pacientes. Neles, são colocados os dejetos dos doentes internados, como fezes, urina, sangue, pus e muco. O material, apesar do risco de contaminação, não tem recebido a atenção necessária, conforme denunciam servidores da rede pública de saúde do DF. De acordo com eles, os coletores não impedem o contato com o material, que também estaria sendo descartado diretamente no esgoto, tendo como destino o Lago Paranoá.

Segundo a denúncia feita ao Metrópoles, o Governo do Distrito Federal (GDF) chegou a fechar uma licitação, em 2012, para a compra de coletores que isolavam o material de quem os manuseava. Porém, afirmam os servidores, houve mudanças nas exigências do produto durante a execução do contrato. Desde então, os coletores usados não têm mecanismo de isolamento.

A licitação que viabilizou a aquisição dos coletores ideais, segundo os servidores, foi fechada por R$ 14,3 milhões em 2012 e publicada em junho de 2013. A compra incluiu três coletores de secreções, todos descartáveis e com tampas.

O produto licitado foi fornecido por alguns meses, até que, em agosto de 2014, foi autorizada a mudança do material a ser entregue à Secretaria de Saúde. Um documento obtido pela reportagem (confira ao lado) mostra que a troca foi feita a pedido da empresa vencedora do pregão, a Emedcal Comércio de Produtos Hospitalares: “Fornecedor informou que solicitou a DCC e SUAG a troca do especificado produto de 2000ml para 3000ml”, diz.

O problema, segundo servidores que procuraram o Metrópoles, é que as unidades de saúde começaram a receber um produto que não isolava o contato dos funcionários com os dejetos.

Em protesto, eles deixaram os coletores de lado para usar alguns que já existiam na Saúde, com processo de lavagem mais fácil. Com isso, o estoque que foi recebido pela secretaria ao longo da execução do contrato ficou acumulado em um dos almoxarifados da Saúde, localizado no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Hoje, está vencido.

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Segundo a Secretaria de Saúde, há dois modelos usados na rede pública atualmente: o frasco com aspirador manual e o de vidro, que é acoplado ao sistema de vácuo das unidades. Em ambos, há contato dos servidores com as secreções durante a higienização dos coletores.

A pasta informou que, “independentemente do modelo dos coletores de secreção utilizados nas unidades de saúde, o uso do Equipamento de Proteção Individual é obrigatório e, por si só, quando utilizado, já mantém o servidor fora de contato com secreções”.

Descarte
De acordo com a denúncia dos servidores, os resíduos coletados não são descartados de forma correta e vão para o esgoto comum, podendo chegar ao Lago Paranoá.

Antes, as secreções iam direto para os tubos e, além do isolamento, todo material era levado para incineração em uma embalagem que impedia qualquer contato com os servidores. Desde que o coletor foi mudado, a lavagem é feita nas próprias unidades de saúde e todos os dejetos vão para o esgoto.

Servidora que pediu para não ter o nome divulgado

A Secretaria de Saúde confirmou que o material é direcionado ao setor de expurgo de cada unidade, mas negou que fezes, pus, urina e sangue são jogados no esgoto comum. “Os resíduos emitidos pela Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) após o tratamento contam com parâmetros mínimos de qualidade de efluentes para serem lançados no corpo hídrico (rio, ribeirão, lago)”, diz a nota enviada pela pasta.

Uma resolução da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) é responsável por gerenciar o descarte de resíduos na área da saúde. Cabe à agência, com apoio do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), fiscalizar os descartes no DF. O Metrópoles procurou a Anvisa para saber se o GDF está cumprindo as determinações, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

Material vencido e interditado

Investigação
Sobre a denúncia de que os produtos comprados pela licitação estão acumulados e vencidos, a Secretaria de Saúde informou que “está analisando internamente o processo da compra realizada na gestão passada”.

A respeito da autorização para a mudança feita durante a execução do contrato, a pasta declarou que “a análise procura entender o motivo da troca do produto que foi adquirido. Neste momento, não é possível dar detalhes desta análise, uma vez que está em andamento”.

A empresa Emedcal Comércio de Produtos Hospitalares não atendeu às ligações da reportagem.

 

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