metropoles.com

Laudo aponta que curto-circuito causou incêndio em terreiro Ylê Axé Oyá Bagan

Segundo bombeiros, fagulha em uma das caixas de força teria sido motivo das chamas que consumiram o local

atualizado

Compartilhar notícia

Caroline Bchara/Metrópoles
89c8c1a0-4017-4593-96de-e71d8c7c1b32
1 de 1 89c8c1a0-4017-4593-96de-e71d8c7c1b32 - Foto: Caroline Bchara/Metrópoles

As chamas que consumiram o terreiro  Ylê Axé Oyá Bagan, de religião de matriz africana, em 27 de novembro do ano passado, não tiveram como combustível o ódio ou a intolerância religiosa. Laudo pericial feito pelo Corpo de Bombeiros comprovou que o fogo teve início após um curto-circuito em uma das caixas de força na casa de Mãe Baiana, que fica no Núcleo Rural Córrego do Tamanduá, entre o Lago Norte e Paranoá.

O diretor-geral da Polícia Civil, delegado Eric Seba, confirmou o resultado e o fato de não existir crime religioso no caso. “De fato, a conclusão não aponta para uma ação criminosa de alguém. Nós já tínhamos essa suspeita, inclusive. O nosso laudo ainda não ficou pronto, mas não deverá ter um resultado diferente do documento do Corpo de Bombeiros”, afirmou.

As circunstâncias do incêndio foram apuradas pela 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá). Investigadores ouviram uma série de testemunhas e pessoas ligadas à atividade no terreiro. Mas não houve indícios de que as chamas teriam sido causadas por alguém. Há poucos dias, o resultado do laudo do Corpo de Bombeiros foi enfático: após uma fagulha provocada por um curto-circuito, deu-se início ao fogo.

Em coletiva de imprensa na tarde desta quinta-feira (11), o delegado-chefe da 6ª DP, Marcelo Portela, informou que recebeu o laudo pericial do Corpo de Bombeiros em 25 de janeiro, e que foi comprovado que o episódio se tratou de incêndio acidental. Portela disse que, no local, havia materiais altamente combustíveis, como instrumentos musicais, vigas de madeira, tecido e artigos religiosos em palha, além de instalações elétricas com remendos precários e fios expostos.

Repercussão
O caso teve grande repercussão. A casa de Mãe Baiana se tornou um dos maiores símbolos da luta contra a intolerância religiosa no Distrito Federal.  No dia seguinte após o incêndio consumir o local, o governador Rodrigo Rolemberg (PSB) visitou o terreiro e prometeu criar a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência.

Em 21 de janeiro, o governador assinou o decreto de criação da unidade especializada, que ainda não abriu as portas. O compromisso era que a delegacia começasse a funcionar ainda na primeira semana de fevereiro. Mas, segundo a Polícia Civil, apenas “nas próximas semanas” ela deve iniciar os trabalhos.

Letícia Carvalho/MetrópolesMarcelo Portela defendeu a criação da unidade. “Mesmo com o resultado do laudo, existem motivos para a criação de delegacias especializadas”, comentou o delegado.

O delegado informou que, desde o início das investigações, a Polícia Civil já trabalhava com a hipótese de o crime não ter sido motivado por questões de intolerância religiosa. Segundo Portela, o laudo fortalece essa linha de investigação. Ele disse que agentes policiais e bombeiros ouviram várias testemunhas e que não havia problemas com vizinhos ou alguma disputa por território na região.

Discordância
Mãe Baiana discorda do resultado do laudo. “Não tem como ocorrer um curto-circuito em um local em que o sistema está todo desativado. Não tinha nada ligado lá. Eu sou a dona da casa e estava no momento em que ela pegou fogo”, afirmou ao Metrópoles.

Eles querem tirar o foco de uma situação que ganhou repercussão mundial ao dizer uma coisa dessas. Foi um fato que mobilizou muitas pessoas e motivou, inclusive, a criação de uma delegacia especializada. Eu discordo totalmente desse resultado.

Mãe Baiana

Já o delegado Portela disse que entende que Mãe Baiana esteja movida pela comoção e, por isso, não concorda com o laudo dos bombeiros. Mas ele esclarece que “a Polícia Civil procura fazer uma investigação técnica, deixando de lado questões emocionais”.

Arquivo pessoal
Incêndio no centro espírita Chão de Flores começou na sala de costura

Briga por terras
Investigações da Polícia Civil indicam  também que não há crime de cunho religioso no incêndio que destruiu um centro espírita em 29 de janeiro deste ano, em Sobradinho II.

Segundo uma fonte ouvida pela reportagem, uma briga por um pedaço de terra motivou o incêndio contra o Centro Espírita Chão de Flores, na avenida principal da região administrativa.

As chamas tiveram início por volta das 2h45 e um homem, Valdecy de Lima Silva, de 24 anos ficou ferido e precisou ser levado ao Hospital Regional de Sobradinho (HRS). Ele sofreu queimaduras nos pés, no rosto e nos braços. O inquérito aberto na 35ª DP (Sobradinho II) ainda apura a autoria do crime. A reportagem tentou contato com os responsáveis pelo centro, mas não conseguiu.

Compartilhar notícia