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Receita do Mané em 2017 não cobre nem 18% da conta milionária de água

Foram apenas R$ 381.918,84 lucrados neste ano com jogos e eventos. GDF criou comissão para investigar conta de R$ 2,2 milhões da Caesb

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
estadio mane garrincha brasilia obra
1 de 1 estadio mane garrincha brasilia obra - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A conta de água milionária no mês de junho expõe, mais uma vez, o elefante branco que se tornou o Mané Garrincha. Para se ter ideia, o que o estádio arrecadou com eventos, no primeiro semestre deste ano, chegou apenas a R$ 381.918,84, segundo a Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer. O valor não seria suficiente para pagar nem um mês dos gastos fixos que a arena esportiva tem, de R$ 700 mil, em média. E representa apenas 17% da fatura da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb).

A tarifa de R$ 2,2 milhões de água e esgoto tomou proporção de escândalo. Após o Metrópoles revelar o caso na terça-feira (18), o Palácio do Buriti entrou em campo e criou uma comissão para investigar o assunto que será comandada pela Casa Civil. A primeira reunião ocorrerá na tarde desta quarta-feira (19/7). Além da Casa Civil, farão parte da comissão representantes da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap), da Caesb e da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).

Antes, o chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, concedeu uma entrevista e cobrou respostas para a tarifa milionária. “Não adianta uma empresa dizer uma coisa, a outra responder outra coisa. Os técnicos e presidentes das empresas irão investigar o que aconteceu”, afirmou.

A conta de junho se refere ao consumo de 94,2 milhões de litros de água, que seriam suficientes para abastecer uma cidade do porte da Candangolândia, com quase 20 mil habitantes, durante um mês. Nada mal para a capital que enfrenta uma crise hídrica sem precedentes desde o segundo semestre do ano passado.

A fatura venceu no dia 20 de junho e ainda não foi paga pela Terracap. O consumo medido no período pela Caesb é 67 vezes maior do que a média dos outros meses, de 1.421m³, ou 1,42 milhão de litros. Neste patamar, o valor a ser pago não ultrapassaria R$ 37 mil.

Em uma vistoria esta semana, a Caesb constatou que não houve problema na leitura nem no hidrômetro do estádio. Isso quer dizer, segundo a empresa, que a água foi efetivamente fornecida. Agora, os técnicos da estatal vão retornar ao Mané Garrincha para realizar novas perícias.

Eles vão procurar vazamentos, infiltrações ou algum problema nas instalações que esteja fazendo com que a água seja lançada na rede de esgoto ou na de águas pluviais. Segundo informações da Caesb, pode haver problemas nos sistemas de irrigação do gramado ou no reúso da água (parte da água das chuvas é captada e utilizada na arena).

A última partida na arena foi em 6 de maio, na final do Candangão. Este ano, o estádio foi palco de apenas 22 jogos, sendo três clássicos. O Mané recebeu ainda em 2017 um jogo de rugby e mais 21 eventos como congressos, shows e corrida noturna. Mesmo assim, segue no vermelho.

Os quase R$ 400 mil arrecadados entre janeiro e junho deste ano deixam claro como o local vem sendo subaproveitado e, mesmo assim, gera inúmeros gastos para o Governo do Distrito Federal. A Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer ainda tenta fazer da arena um espaço multiuso.

A intenção da Terracap, no entanto, é passar a gestão do estádio, do Complexo Aquático Cláudio Coutinho e do Ginásio Nilson Nelson à iniciativa privada. O órgão prometeu se posicionar sobre o andamento da terceirização ainda nesta quarta-feira (19). No entanto, a agência vem realizando um Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) e, por isso, o edital de licitação da chamada Arena Plex não deve sair em menos de 60 dias.

Consumo de água poderia ser reduzido
Se o projeto inicial do Estádio Mané Garrincha tivesse saído do papel, a conta de água poderia ser mínima. Quando Brasília foi eleita uma das sedes da Copa, era para o piso ao redor do estádio ser intercalado de modo a permitir a captação da água da chuva, que seria armazenada para abastecer a própria arena.

No entanto, assim como os amplos jardins com fontes ao redor da arena, a construção de uma passagem subterrânea que ligaria o Centro de Convenções aos estacionamentos do Mané Garrincha e do Parque da Cidade, e a interligação entre a W4/W5 Norte e Sul, a captação de água foi uma ideia enterrada definitivamente pelos escândalos envolvendo a construção do estádio.

Segundo as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público (MPF), o pagamento de propina envolvendo o Mané Garrincha somam mais de R$ 15 milhões. A Operação Panatenaico, deflagrada em 23 de maio, colocou atrás das grades os ex-governadores José Roberto Arruda (PR), Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB).

O estádio, com capacidade para 70 mil pessoas, foi o mais caro construído para a Copa do Mundo de 2014. O custo estimado para a construção da arena foi de aproximadamente R$ 1,8 bilhão. O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) apontou que esse valor pode chegar a R$ 2 bilhões, em razão dos últimos aditivos.

Aluguel
Atualmente, o valor de locação do Estádio Mané Garrincha é determinado pelo Decreto 34.798, de 5 de novembro de 2013. De acordo com o documento, a área externa do estádio é alugada pelo valor de R$ 3,39 o metro quadrado. Dentro da arena o valor do m² passa a ser de R$ 6,17. O decreto permite que o governador conceda descontos e até isente o pagamento de taxas, caso considere o evento de relevância social.

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