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JBS distribuiu, em uma década, mais de R$ 3 milhões a políticos do DF

A partir de 2006, todos os governadores receberam recursos da empresa. Só para Arruda e Agnelo foram quase R$ 600 mil

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
arruda, agnelo
1 de 1 arruda, agnelo - Foto: Michael Melo/Metrópoles

O forte elo entre o frigorífico JBS e os políticos da capital federal existe há mais de uma década. É o que revelaram ex-executivos da líder mundial do mercado de carne ao Ministério Público Federal (MPF)  em seus acordos de delação. As planilhas apresentadas como provas dos relatos apontam, de maneira detalhada, como o grupo empresarial patrocinou, a partir de 2006, campanhas eleitorais de mais de duas dezenas de candidatos brasilienses. Ao todo, a JBS doou R$ 3.257.746 a representantes de 14 siglas partidárias.

De acordo com registros dos delatores, todos os governadores eleitos no DF desde 2006 receberam doação da empresa. Primeiro da lista a assumir o Palácio do Buriti, José Roberto Arruda (PR), então no PFL, teria ficado com R$ 500 mil para concorrer ao cargo. O segundo dos ex-ocupantes da cadeira de governador a ser contemplado pela JBS, conforme as planilhas, foi Agnelo Queiroz (PT). O petista contou com o repasse de R$ 83.067, já na campanha de 2014, quando tentava a reeleição. Ambos foram presos terça-feira (23/5), na Operação Panatenaico, deflagrada pela Polícia Federal.

O atual governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB), também teve sua fatia das doações da JBS. O socialista, que concorreu ao cargo e se elegeu em 2014, recebeu R$ 450 mil de maneira direta. Os demais aportes da gigante na campanha vitoriosa de Rollemberg entraram em sua conta eleitoral por meio da direção distrital do PSB. As 40 transações, que perfazem R$ 400 mil, têm como doador originário a JBS S.A. A planilha aponta o pagamento de R$ 852.832 ao atual ocupante do Buriti. Segundo o executivo da JBS Ricardo Saud, as doações eleitorais foram propina disfarçada.

Alto investimento
Para o Distrito Federal, o investimento do grupo JBS foi alto, mas gradativo. Começou com apenas um candidato, Arruda, na acirrada disputa que o consagrou governador em 2006. Nas eleições seguintes, em 2010, a JBS prestou seu apoio a dois postulantes a deputados. À época no PR e concorrendo a uma vaga na Câmara Federal, Ronaldo Fonseca (PROS) abocanhou R$ 700 mil, segundo as planilhas em poder dos procuradores da Lava Jato.

Para a Câmara Legislativa (CLDF), as empresas dos irmãos Joesley e Wesley Batista escolheram investir em uma estreante na política: Sandra Faraj (SD), uma então jovem do tucanato local, que ficou com R$ 150 mil. Ela não foi eleita em 2010 e, sim, em 2014. A distrital é alvo na CLDF de um processo de cassação. Faraj é acusada de ter desviado dinheiro de verba indenizatória.

Em 2014, em vez de dois candidatos, como fizera quatro anos antes, a empresa que está no centro dos escândalos da Lava Jato decidiu colaborar com um total de 20 candidatos brasilienses. As doações variaram entre R$ 245 e R$ 500 mil.

O maior valor foi destinado ao sucessor de Arruda na corrida ao Governo do Distrito Federal. Com a candidatura do republicano barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base na Lei da Ficha Limpa, o correlegionário Jofran Frejat o substituiu e ficou com a doação de R$ 500 mil. Mas a empresa achou por bem ter outras opções e “apostou” R$ 450 mil em Rollemberg, que acabou eleito.

Também chamam atenção os generosos recursos doados a dois candidatos a vagas na CLDF que não se elegeram (veja arte abaixo): Vitor Paulo de Araújo dos Santos (PRB), quase R$ 164 mil, e o então distrital Dr. Charles (PTB), R$ 100 mil.

 

Propina disfarçada
O anexo da delação com as planilhas, nomeado “Doações TSE 2006 a 2014”, pressupõe que os repasses teriam sido feitos de maneira lícita, como contribuição legal e devidamente declarada à Justiça Eleitoral. No entanto, Joesley Batista, um dos donos da JBS, admite em sua delação que até esses recursos eram “contrapartida a ajustes ilícitos”. “O caixa 1 era propina disfarçada”, reconheceu, o que coloca sob suspeição todos os repasses feitos pelo grupo a políticos em campanha.

Veja vídeo com a declaração de Joesley sobre as doações eleitorais:

 

Sinal vermelho na capital
A delação da JBS começou a abalar a redoma política na quarta-feira (17/5). Os primeiros a sentirem o impacto das denúncias foram o atual presidente da República Michel Temer (PMDB/SP) e o senador afastado Aécio Neves (PSDB/MG).

Transcrições de conversas entre eles e Joesley Batista mostravam um suposto aval do presidente à compra do silêncio do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB/RJ), além do senador afastado pedindo R$ 2 milhões para arcar com honorários advocatícios na Lava Jato. Com a liberação da íntegra dos acordos na sexta-feira (19/5) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), novos personagens do esquema foram revelados.

No Distrito Federal, executivos e ex-executivos de empreiteiras já tinham colocado políticos e importantes obras públicas da capital na mira do MPF e da Justiça. A Odebrecht, que teve 77 acordos homologados pelo STF, delatou aos procuradores da Lava Jato que Agnelo Queiroz teria recebido R$ 1 milhão via caixa 2, em 2010, para viabilizar o Centro Administrativo do DF (Centrad), edificado pela construtora em parceria com a brasiliense Via Engenharia. Arruda também foi citado como beneficiário de R$ 966 mil de propina.

Delatores da Andrade Gutierrez narraram repasses de vantagens ilícitas aos ex-governadores do DF. Segundo Rodrigo Leite Vieira, a Via pagara R$ 2 milhões a Agnelo Queiroz (PT) no final de 2014 no âmbito da reforma do Estádio Nacional Mané Garrinha, mesma quantia que teria embolsado José Roberto Arruda. O ex-vice-governador Tadeu Filippelli também teria recebido, entre 2013 e 2014, propina para o PMDB nas obras.

As delações da Andrade serviram para embasar os pedidos de prisão e mandados de condução coercitiva, busca e apreensão da Operação Panatenaico, em mais um desdobramento da Lava Jato. Arruda, Agnelo e Filippelli acabaram detidos e dividem a mesma cela no Departamento de Polícia Especializada (DPE), ao lado do Parque da Cidade.

Propina disfarçada
Rollemberg, por sua vez, é citado em delação de Ricardo Saud, ex-executivo da J&F, controladora da JBS, por supostamente ter recebido propina disfarçada de doação oficial durante a campanha de 2014. O ex-diretor apresentou um manuscrito com o nome de 16 governadores, entre eles, o do socialista.

Como contrapartida, foi beneficiada em contratos milionários assinados com o Executivo local, como o Metrópoles mostrou nesta segunda-feira (29/5). Somente nos últimos dois anos e meio da gestão de Rollemberg, a empresa levou a bolada de R$ 12,6 milhões em serviços para fornecimento de produtos da merenda escolar.

Outro lado
A assessoria de imprensa do GDF informou, em nota, que “toda doação de campanha recebida pelo então candidato Rodrigo Rollemberg aconteceu de forma legal. As contas de campanha já foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral.” 

Ronaldo Fonseca afirmou, sobre os R$ 75 mil repassados pela JBS, que não sabia até então quem havia doado. “Quando terminaram as eleições, fiquei com dívidas e o diretório fez os repasses. Não conheço os donos da empresa e nunca pedi dinheiro a eles. Achava até hoje que era dinheiro do fundo partidário. Estou sabendo por vocês que era doação da JBS”, resumiu.

Sobre a maior contribuição, de 2010, o parlamentar registrou: “Em 2010 eu era do PR e a coligação nacional do partido buscou contribuição para a campanha dos candidatos a deputados federais sem a minha participação. Nesta data, era legal a contribuição de empresas e a JBS gozava de credibilidade no país. Nunca pedi contribuição a esse empresário e tampouco o conhecia. Minha conduta como deputado jamais favoreceu esse grupo empresarial e nesta semana assinei a CPI da JBS.”

Jofran Frejat esclareceu que teve apenas um mês de campanha e que os recursos mencionados vieram da direção nacional do partido. “Não passou por mim, mas pelo partido. Além das contas terem sido aprovadas pelo Tribunal Eleitoral, como poderia, à época, ter conhecimento desses problemas, se não participei de qualquer dos governos denunciados?”, ponderou.

Sobre a doação recebida, a assessoria da distrital Sandra Faraj alegou: “Esta contribuição foi declarada à Justiça Eleitoral e está devidamente registrada nas contas eleitorais da deputada. A doação foi articulada pelo então candidato a deputado federal Ronaldo Fonseca, com quem Sandra Faraj fez dobradinha naquela eleição, junto à coligação nacional dele.”

Dr. Charles se pronunciou, em nota: “Em primeiro lugar, o dinheiro foi declarado pelo partido e por mim. Segundo, foi utilizado integralmente na campanha. Sinto na obrigação de dizer que não tenho o hábito de ficar com o que não é meu.” O ex-distrital destacou ainda que, após mais de 30 anos trabalhando como médico concursado, possui uma Saveiro 2010 e a esposa, um Ônix 1000.

Em nota, Julio Cesar afirma ter recebido repasses oficiais, que foram devidamente contabilizados e aprovados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Rodrigo Delmasso informa que recebeu material de campanha doado por Vitor Paulo, e os itens teriam sido pagos com recursos recebidos pelo então deputado federal da JBS.

Ao Metrópoles, José Messias de Souza disse que a quantia recebida é lícita, fruto de uma transação normal. “Recebi a doação repassada pela Direção Nacional do Partido, conforme prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral e aprovadas pelo TRE”, concluiu. Até a última atualização desta reportagem, os demais políticos citados não tinham se pronunciado.

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