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Empresas suspeitas doaram 27% da verba usada na campanha de Rollemberg

Dos R$ 13,2 milhões declarados ao TSE pelo governador, R$ 3,6 milhões foram doados por empresas envolvidas em esquemas de corrupção

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
Rodrigo Rollemberg
1 de 1 Rodrigo Rollemberg - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Mais de um quarto do dinheiro usado na campanha que elegeu Rodrigo Rollemberg (PSB) governador do Distrito Federal em 2014 veio de sete empresas investigadas e uma suspeita de integrar esquemas de corrupção. De acordo com a prestação de contas apresentada pelo socialista ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as doações recebidas de pessoas físicas e jurídicas somaram R$ 13.289.497,01.

Desse montante, R$ 3.652.831,75 — o que corresponde a 27,47% do total — foram repassados por oito companhias que têm os nomes ligados a escândalos: a JBS, maior produtora de proteína animal; as empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Via Engenharia; as organizações sociais Sociedade Integrada Médica do Amazonas (Simea), Salvare Serviços Médicos e Total Saúde; e a Rico Táxi Aéreo.

Para o analista político Melillo Dinis, “os dados chamam a atenção”, embora não sejam uma exclusividade da campanha de Rollemberg. Na avaliação do especialista, a série de recentes delações premiadas e as investigações policiais e do Ministério Público ajudaram a traduzir a frieza dos números apresentados por políticos de todo o país ao TSE.

“Todo financiamento tem interesses, e nem todos são pelo bem comum. O modelo de financiamento em 2014 permitia uma proximidade entre empresas e políticos que não resultaram em benefícios para a democracia ou para a sociedade. O ideal é encontrarmos um modelo que abra mão desse tipo de promiscuidade.”

Melillo Dinis, analista político do Instituto Lampião-Reflexões e Análises da Conjuntura

Apesar das críticas, Melillo Diniz faz uma ressalva: “Transformar todas as doações em algo ilícito parece de um moralismo extremo. Nem todo dinheiro doado tem o objetivo de comprar políticos”. No caso da JBS, contudo, o objetivo era exatamente cooptar homens públicos.

Pivô do mais recente escândalo político do país, o presidente da JBS, Joesley Batista, afirmou que nenhuma doação feita pela empresa, inclusive as declaradas ao TSE, foi lícita. Em vídeo, o empresário afirmou que “o caixa 1 era contrapartida, propina disfarçada”.

Veja o vídeo em que Joesley Batista afirma que mesmo as doações oficiais eram propina

 

Em 2014, a JBS transferiu um total de R$ 852.831,75 à campanha de Rollemberg, conforme o Metrópoles noticiou na última quinta-feira (18/5). Desse total, R$ 450 mil foram pagos diretamente pela empresa. Os R$ 402.831,75 restantes estavam espalhados em 40 transações atípicas feitas ao diretório do PSB-DF, que repassou a verba à campanha do então candidato ao GDF.

Empreiteiras e a Lava Jato
Duas empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato, a Andrade Gutierrez e a Odebrecht doaram, respectivamente, R$ 500 mil e R$ 200 mil à campanha de Rollemberg. Já a Via Engenharia repassou R$ 1 milhão.

A Via não é investigada na Operação Lava Jato e nega quaisquer irregularidades, mas, ao lado da Odebrecht, construiu o Centro Administrativo do DF (Centrad), alvo dos investigadores da força-tarefa. A Via ainda compôs o consórcio formado com a Andrade Gutierrez para a construção do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha.

Tanto o Centrad quanto a praça desportiva serviram como escoadouro de propina para políticos, asseguram delatores. Entre os beneficiados, estavam os ex-governadores José Roberto Arruda (PR), Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB), hoje assessor especial do presidente Michel Temer.

O Barão das OSs
Além da JBS e das empreiteiras, em 2014 uma grande bolada foi doada por um empresário que, dois anos depois, acabou preso pela Polícia Federal. Dono de três organizações sociais (OSs), Mouhamad Moustafa repassou R$ 600 mil por meio das empresas Sociedade Integrada Médica do Amazonas (Simea), Salvare Serviços Médicos e Total Saúde. Outra empresa ligada a Moustafa, a Rico Táxi Aéreo, doou R$ 500 mil a Rollemberg.

Preso em setembro de 2016 sob a acusação de liderar um esquema criminoso que teria desviado recursos públicos milionários no Amazonas, Moustafa ficou conhecido em Brasília por tentar emplacar as OSs dele para gerir unidades hospitalares em Brasília. O projeto criado por Rollemberg, no entanto, ganhou forte resistência e não teve sucesso dentro da Câmara Legislativa.

Internet/Reprodução
Moustafa, o Barão das OSs

 

“R$ 0,20”
Nesse universo de milhares e milhões de reais, uma doação feita à campanha de Rollemberg é curiosa. No dia 19 de novembro de 2014, após o segundo turno que sacramentou a vitória de Rollemberg, uma eleitora transferiu R$ 0,20. O nome dela é Kellyce Rodrigues Mourão.

Kellyce era funcionária do gabinete de Rollemberg no Senado, enquanto ele exercia o mandato no Congresso Nacional. Com a vitória do socialista ao Palácio do Buriti, Kellyce foi nomeada no GDF. Atualmente, é lotada na Casa Civil, mas trabalha com atendimento ao público no gabinete do governador.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa do governador informou que “todas as doações de campanha recebidas pelo então candidato Rodrigo Rollemberg aconteceram de forma legal. As contas de campanha foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral”. A reportagem não conseguiu contato com Kellyce.

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