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Drácon: em detalhes, o que foi apreendido nas salas dos distritais

Documentos aos quais o Metrópoles teve acesso mostram que os agentes recolheram mídias com transcrições de áudios, computadores, projetos, planilhas e muita papelada nas salas dos cinco parlamentares envolvidos em suposto esquema de pagamento de propina em troca de liberação de recursos para a saúde

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
operação drácon
1 de 1 operação drácon - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Documentos obtidos com exclusividade pelo Metrópoles mostram o que foi apreendido nos gabinetes de cinco distritais durante a Operação Drácon, em 23 de agosto deste ano. A Polícia Civil esteve nas salas dos deputados Celina Leão (PPS), Julio Cesar (PRB), Bispo Renato Andrade (PR) e Raimundo Ribeiro (PPS) – membros afastados da Mesa Diretora da Câmara Legislativa –, além de Cristiano Araújo (PSD). Todos são investigados por envolvimento em um suposto esquema de liberação de emenda parlamentar para a saúde do DF em troca de pagamento de propina. O farto material, entre mídias, envelopes com projetos, planilhas, degravações, detalhamento de despesas e computadores, passa por análise minuciosa dos investigadores.

Os dois gabinetes da presidente afastada da Casa, Celina Leão, foram alvos de mandados de busca e apreensão. Do local, foi levada uma pasta preta com documentos diversos, entre eles, uma planilha com projetos do Executivo, detalhamento de despesas com publicidade da Casa em 2015, além de documentos da Coordenadoria de Planejamento e Elaboração Orçamentária (CPEO), ligada à Vice-Presidência, que também detalham gastos do ano passado.

Uma das páginas, com o título “Programação/Ação”, termina com o valor de R$ 454,5 milhões. A coordenadoria é a responsável pela elaboração da emenda da saúde que desencadeou o escândalo revelado pela Drácon. Por meio da assessoria, Celina informou que não tem nada a declarar sobre as apreensões.

O maior volume de material apreendido durante a operação foi no gabinete do deputado Cristiano Araújo, onde os policiais recolheram mídias contendo degravações de áudios de Valério Pedroso Gonçalves que, segundo o parlamentar, é advogado, e Leila Fernandes de Souza. Leila também seria advogada, mas Cristiano diz que não se lembra dela. O documento referente às transcrições dos áudios tem 29 páginas.

Em um primeiro momento o deputado afirmou que as gravações de Valério e Leila faziam parte de um processo relacionado à Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP-DF), que o envolvia. O distrital é acusado de suposta fraude em distribuição de bolsas de pesquisa pela FAP-DF. O material teria sido repassado a ele por seu advogado, Eduardo Toledo. Ele garante que as gravações o favorecem.

Nesta terça-feira (20/9), Cristiano Araújo retificou a informação. A degravação seria, na verdade, parte um processo do BRB na concessão de um empréstimo, possivelmente fraudulento. O autor da gravação foi ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) para declarar que as gravações nada têm a ver com o processo investigado pela Drácon ou com o distrital.

Outro envelope com degravações de áudios também foi levado, este com 84 páginas. O material teria sido entregue a Cristiano Araújo pela presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimento de Saúde (SindSaúde), Marli Rodrigues, durante a Comissão Parlamentar de Inquérito da Saúde (CPI da Saúde). Os áudios de Marli contendo diálogos com diversos integrantes do Executivo local, entre eles, o vice-governador Renato Santana (PSD), são um dos elementos de apuração da CPI em curso na Casa.

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No gabinete de Cristiano, foram recolhidos ainda um envelope pardo com um memorial contendo processo da Secretaria de Saúde, o projeto 761/2015 e um documento com relação de empresas e nota fiscal para reconhecimento de dívidas de 2014, com ofício, nota de empenho e anotações em anexo.

O projeto tem como assunto leitos de UTI, justamente o objeto de investigação da Drácon. O distrital afirmou que a proposta trata da divulgação de leitos de UTI, transformada em lei no dia 2 de agosto pelo governador Rodrigo Rollemberg (PSB). Quanto aos documentos que dizem respeito ao pagamento e reconhecimento de dívidas, Cristiano Araújo explica que, no início do governo de Rollemberg, um grupo de deputados se uniu para formar a Frente Parlamentar de Defesa do Setor Produtivo e ele pediu um levantamento de todas as empresas que tinham débitos em aberto junto ao GDF.

Eu pedi que fosse feito um levantamento de tudo que o governo tinha de dívida ainda da gestão Agnelo Queiroz (PT), não apenas com a saúde, mas em todas as áreas

Cristiano Araújo, deputado distrital

Dois computadores também foram levados do gabinete de Cristiano. O deputado diz que um deles é de Edmundo Souza, que produz vídeos para a deputada Celina Leão. Edmundo já foi, inclusive, chamado para depor no Ministério Público, no âmbito da Drácon. “Havia a possibilidade de a Celina sair para deputada federal e nós íamos fazer uma composição para as eleições de 2018. Daí, eu o contratei. Ele presta serviço para ela, mas de vez em quando me dava uma ajuda aqui, porque é muito bom”, disse.

Cartão de Assad
Já no gabinete do deputado Raimundo Ribeiro, policiais civis encontraram um cartão da Associação Brasiliense de Construtores (Asbraco) com o nome de Afonso Assad, apontado pelas gravações feitas pela distrital Liliane Roriz (PTB) como um dos empresários assediados para ter o repasse de emendas em troca do pagamento de propina.

Divulgação
Durante nova busca na Câmara, no dia 2 de setembro, policiais vasculharam gabinetes da segunda e terceira secretarias

 

Assad teria se negado a participar do esquema de repasse de emendas, conforme o ex-secretário-geral da Câmara Legislativa Valério Neves fala nos grampos de Liliane. Foi a partir daí que, de acordo com os áudios, Cristiano Araújo teria procurado empresários na área de saúde para entrar no esquema fraudulento. Ele nega a acusação.

“Ameaças”
Outro material que chamou a atenção dos agentes foi um envelope escrito “ameaças” contendo um e-mail com a inscrição “intimação”, recolhido na sala da chefe de gabinete de Raimundo Ribeiro, Nicolina de Sousa Orrico.

Segundo o distrital, o envelope continha informações sobre supostas ameaças que ele havia recebido no final do ano passado por estar “batendo” no Partido dos Trabalhadores (PT). Devido a isso, Ribeiro diz que, durante uma semana, chegou a ser escoltado por agentes da Polícia Civil. Sobre o e-mail encontrado no envelope, Ribeiro conta que, após a denúncia, um homem disse ter um dossiê contra ele e que o ofereceu por R$ 360 mil.

Durante esse período, passei a trabalhar com o Departamento de Operações Especiais (DOE) e mantive a troca de e-mails para que ele contasse o que sabia. A polícia descobriu que o rapaz era de Planaltina. Com o tempo, ele pediu desculpa. Eu o desculpei e ele disse que era um pai de família desesperado precisando de um emprego.

Raimundo Ribeiro

Sobre o cartão de Assad, o deputado Raimundo Ribeiro disse que tanto o presidente da Asbraco pode ter deixado o cartão de visita dele no gabinete, como o próprio empresário pode ter entregue a ele no plenário da Casa. “Se você for ao meu gabinete, vai encontrar o cartão do Afonso no meio de outros 20 mil cartões. É normal que a pessoa não me encontre no gabinete e deixe o cartão para que depois eu entre em contato. Ou ele pode ter me entregue no plenário”, explicou Ribeiro.

Outro lado
Julio Cesar (PRB) teve dois itens recolhidos em seu gabinete: um computador e uma pasta com “documentos diversos”. Ele não quis fazer nenhum comentário sobre a reportagem. Já no gabinete de Bispo Renato Andrade (PR) foram retiradas mídias, agendas e computadores. Por meio da assessoria, o distrital disse que todo o material levado do seu gabinete ajudará a comprovar que as “acusações são infundadas”.

“Não há provas contra Bispo Renato e o parlamentar continua afirmando que confia nas investigações da Justiça. Bispo Renato prestou depoimento voluntariamente e, desde então, está concentrado em sua defesa. O esclarecimento dos fatos é necessário e se dará no momento certo”, informa a nota.

 

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