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Especialistas resumem a fórmula para acabar de vez com a buraqueira no DF: fiscalização, manutenção e investimentos

A CNT estima que o DF precisa desembolsar R$ 215 milhões para a reestruturação, a restauração e a manutenção das rodovias

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
gurulino no gama
1 de 1 gurulino no gama - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Nos últimos dias, uma série de reportagens do Metrópoles tem revelado a real dimensão dos problemas no asfalto das ruas do Distrito Federal. Mas afinal, qual é a solução definitiva para evitar que as pistas se transformem em uma espécie de queijo suíço pavimentado a cada temporada de chuvas? A resposta, segundo especialistas e a Confederação Nacional do Transporte (CNT), passa por fiscalização, manutenção e investimentos bem direcionados.

Uma pesquisa da CNT comprovou a saga dos brasilienses ao cruzar as rodovias que cortam o Distrito Federal: 39,4% estão com pavimento regular ou ruim. A análise foi feita no ano passado e percorreu 404 quilômetros. Para a elaboração do relatório, foram verificadas as condições da superfície da pista principal e do acostamento. A Confederação traduz a solução em números: o DF precisa investir R$ 215 milhões para a reestruturação, a restauração e a manutenção dos trechos danificados.

Mas o problema não é exclusivo das rodovias. Dentro das regiões administrativas, o asfalto também deixa a desejar. Desde o dia 3 deste mês, a partir do projeto #bsburaco, o Metrópoles mostra as crateras formadas em várias localidades. Sete artistas foram convidados para transformar as falhas em arte e, assim, chamar a atenção de autoridades — alguns buracos já foram tapados pelo Governo do Distrito Federal. Um relatório do Tribunal de Contas do DF (TCDF), previsto para ser finalizado em abril, vai aferir a qualidade do asfalto do DF.

Para especialistas entrevistados pela reportagem, a qualidade do asfalto no DF não é de todo ruim, mas é preciso investimento em manutenção preventiva. Essa ação é mais barata e eficaz do que as operações tapa-buracos. “Em países como Estados Unidos e Alemanha, as autoridades fiscalizam o pavimento durante todo o ano para impedir que fissuras virem crateras”, comenta Dickran Berberian, professor de engenharia civil da Universidade de Brasília (UnB) e presidente da Infrasolo, empresa especializada em patologia de edificações.

Segundo Berberian, o Distrito Federal tem um solo propício para um asfalto de qualidade. “O material empregado é da melhor qualidade. O que falta na capital é vergonha. Aqui existem dois tipos de pavimentação: a técnica e a política. A política é aquela antes das eleições, que tem vida útil de duas chuvas”, aponta.

Camadas
O professor explica que o asfalto é como um “sanduíche” constituído de quatro níveis. Para fazê-lo, inicia-se pela camada original do terreno, chamada de sub-leito. Essa parte, feita de terra e solo compactado, é a espinha dorsal do pavimento. As pessoas imaginam que o revestimento asfáltico (que fica por cima) seria o componente mais importante para garantir a durabilidade e segurança da pista. Entretanto, segundo o especialista, essa parte é importante, mas não a principal. A função primordial do revestimento é evitar que a água entre no subleito, na sub-base e na base do pavimento.

Se o asfalto começar a deformar mais do que o limite calculado, uma trinca vai aparecer. Esse é o primeiro sinal de socorro. Quando a chuva cair, a água descerá pela fissura. Se o problema não for resolvido já nessa etapa, na próxima chuva será possível ver uma deformação. A deformação virará uma ‘panela’. E, na próxima chuva, uma cratera. E dá-lhe tapa-buraco, réplica do tapa-buraco e tréplica do tapa-buraco

Dickran Berberian, professor de engenharia civil

 

As camadas do asfalto deveriam ter, de acordo com Berberian, uma média de 30 centímetros de espessura. No entanto, no Distrito Federal, a medida varia entre as regiões da capital. Para o professor, embora não se aplique um padrão, o problema da buraqueira na cidade vai além desse fato.

“Mesmo que fosse bem executado, a vida útil do asfalto de Brasília será sempre menor do que a média geral (de 5 a 20 anos). A capital não foi projetada para receber tantas pessoas e veículos. A Estrada Parque Taguatinga-Guará (EPTG), por exemplo, já nasceu morta. O GDF estará o tempo todo apagando incêndio, porque a cidade, em vez de crescer, está inchando”, diz.

No DF, a pavimentação é feita com Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ) — composto por brita, areia e Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP). Em outros países, como Estados Unidos, por exemplo, são várias camadas de concreto antes da cobertura com massa asfáltica. Um vídeo postado por um brasileiro mostra um pouco sobre como é a produção asfáltica lá. Nas imagens, é possível ver como são feitas as estradas por lá.

 

 

#bsburaco
Enquanto o Brasil está longe de implementar soluções como as aplicadas em países desenvolvidos, continuamos reféns dos problemas de infraestrutura. O projeto #bsburaco, inspirado em iniciativas de intervenção urbana como meio de protesto, é uma forma de abordar a questão de forma criativa. Participam do projeto os artistas de rua Ju Borgê, Toys, Omik, Yong, SirenGurulinoRato.
Nesta terça-feira de carnaval (9/2), Gurulino fez uma intervenção na Quadra 28, no Setor Oeste do Gama. Confira a galeria de fotos:
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