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Moradores de bairros nobres resistem a comércio em áreas residenciais

Enquanto isso, no restante do DF, grande parte da população defende atividades comerciais perto de casas. Dados são da Codeplan

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Lago Norte
1 de 1 Lago Norte - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Pesquisa da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) confirma a resistência de moradores de bairros nobres da capital do país quanto ao funcionamento de comércios em áreas residenciais. Fora dos endereços mais caros de Brasília, nas cidades onde vive a maior parte da população, ter estabelecimentos comerciais e postos de serviços perto de casa é um fator de atração muito bem-vindo.

De acordo com o levantamento, cerca de 76% dos brasilienses são favoráveis à utilização de residências para a comercialização de determinados tipos de produtos e serviços. A exceção são os moradores do Park Way, do Lago Sul e do Lago Norte. Nessas regiões, 41% dos habitantes afirmam que a lei não deve permitir nenhum tipo de comércio em área residencial. A taxa de aprovação, por sua vez, cai para 59% nesses bairros.

Os dados fazem parte da pesquisa “Percepções de cidadão sobre moradia no DF”, que ouviu 5.089 maiores de 18 anos em diversas regiões do DF. O estudo dividiu os participantes em dois grupos: os moradores que vivem à beira do Lago Paranoá e no Park Way, e os que habitam outras regiões do DF. Com o levantamento, o governo local pretende subsidiar a Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos), projeto que tem causado polêmica.

A Luos unificará regras, como os planos diretores locais e as normas de gabarito, e definirá novos parâmetros e poligonais das regiões administrativas. Um dos principais pontos de divergência em relação à norma tem sido a possibilidade de instalação de comércios em áreas residenciais. A resistência é encabeçada principalmente por moradores do Lago Sul e do Lago Norte, que chegaram a fazer um abaixo-assinado contra a medida.

Os dados colhidos pela Codeplan comprovam a tese: 41% dos moradores dessas regiões são contrários a qualquer tipo de comércio em residências, enquanto 34% aprovam apenas algumas atividades e 25% acham que a lei deveria permitir qualquer tipo de comércio na região.

Perda de qualidade
De acordo com o presidente do Conselho Comunitário do Lago Sul, Fernando Cabral, a inserção de comércios pode diminuir a qualidade de vida nessas localidades. “Não queremos que a situação aqui se torne incontrolável, como aconteceu em cidades como Taguatinga e Sobradinho”, argumenta. “Hoje, o governo perdeu o controle e não consegue mais fiscalizar esses estabelecimentos. Desde a fundação, Brasília teve áreas residenciais e comerciais pré-definidas. Só queremos que continue assim”, acrescenta Cabral.

O secretário de Gestão do Território e Habitação do DF, Thiago de Andrade, acredita que a permissão de comércio perto das casas não deve mudar o cotidiano dos moradores. “Pretendemos inserir atividades que já são até praticadas nesses locais e não causam transtornos, como escritórios e prestadores de serviços. É uma adaptação aos tempos contemporâneos. Só não queremos cortar essa possibilidade”, esclarece.

O ponto de vista do secretário converge com a percepção dos demais habitantes do Distrito Federal, segundo o estudo da Codeplan. Entre os moradores das outras regiões administrativas (fora lagos e Park Way), 45% apoiam a presença de qualquer tipo de comércio em residências. Já 31% defendem a presença de determinadas atividades e 24% pedem o impedimento de qualquer mercado na área residencial.

Motivos diversos
Na hora de listar os motivos que poderiam causar incômodo a partir da presença de comércios vizinhos às casas, também houve disparidades entre as regiões tidas como nobres e as restantes. Os moradores dos lagos e do Park Way citaram, principalmente, o movimento de pessoas na rua (30%), o barulho (24%) e o possível aumento da violência (15%).

Já entre os moradores das outras regiões, o problema mais citado foi o barulho (48%), seguido do movimento de pessoas na rua (18%) e o possível aumento da violência (12%). Os insumos coletados pela pesquisa agora serão analisados também por técnicos do governo para a atualização do texto da Luos. O tema foi discutido em audiência pública no último sábado (15/7), para a coleta de opiniões da população. Após a finalização do projeto, ele deve ser encaminhado para avaliação da Câmara Legislativa.

A previsão inicial do Buriti era de que o projeto da Luos fosse entregue à Casa antes do recesso parlamentar do meio do ano. No entanto, segundo o secretário-chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, “como o ciclo de audiências públicas não foi encerrado, o texto ainda se encontra em fase de redação”.

A estratégia do GDF é cumprir todos os trâmites e deixar o texto o mais redondo possível para evitar questionamentos que possam dificultar a aprovação e a implantação do projeto.

Satisfação dos moradores
A pesquisa da Codeplan também perguntou aos entrevistados sobre o quão satisfeitos estão com o lugar onde moram. Entre os moradores do Park Way, Lago Sul e Lago Norte, 48% se disseram satisfeitos e 42%, muito satisfeitos. A soma entre indiferentes, insatisfeitos e muito insatisfeitos foi de 6%.

Já nas demais regiões administrativas, 56% se disseram felizes com o lugar onde moram e 15%, muito satisfeitos. Outros 13% disseram não estar nem satisfeitos nem insatisfeitos, 13% demonstraram insatisfação e 3% indicaram estar muito insatisfeitos.

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