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Surto de doenças infecciosas atinge pelo menos 700 presos na Papuda

Além de impetigo, conforme denunciado pelo Metrópoles, eles têm sarna. Para evitar mais casos é preciso melhorar a higiene do complexo

atualizado

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Arquivo Pessoal
impetigo e sarna
1 de 1 impetigo e sarna - Foto: Arquivo Pessoal

Pelo menos 700 presos do Complexo Penitenciário da Papuda foram infectados com duas doenças de pele altamente contagiosas. O Metrópoles revelou o caso com exclusividade na manhã desta quinta-feira (13/7). No dia anterior, quando a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) foi acionada pela reportagem para prestar esclarecimentos, o órgão havia admitido apenas a incidência de impetigo entre os detentos. Mas, após a publicação da denúncia, a Sesipe informou existir também casos de sarna na unidade prisional.

Com coceira intensa, feridas e bolhas purulentas na pele, alguns detentos nem sequer foram atendidos por médicos para tratar as doenças, que começaram a se manifestar há quatro meses. Desde maio, existe determinação judicial para o atendimento.

A sarna e o impetigo são tão contagiosos que não se mantiveram apenas no ambiente prisional. Após visitas aos internos, parentes também relataram a infecção pela bactéria ou pelo parasita da escabiose (nome científico da sarna). Somente na Penitenciária do Distrito Federal 1 (PDF 1), onde há 3.652 detentos, 520 foram contaminados, o que representa 14,2% da população carcerária do lugar.

A Sesipe afirma ter iniciado mutirões de triagem para atendimento aos internos e detecção de outros casos. “O acompanhamento está sendo feito por médicos e enfermeiros que trabalham nas unidades prisionais”, destacou a subsecretaria, por meio de nota. No entanto, a mãe de Lucas*, 25 anos, negou que o filho tenha recebido atendimento. Ela o visitou nesta quinta-feira (13/7) e teme que o rapaz perca o pé.

Eles não têm atendimento médico coisa nenhuma. Essas doenças precisam de higiene para melhorar, mas meu filho está dormindo no banheiro, cheio de bicho. O pé dele tá roxo, parece que vai gangrenar. Só queria atendimento para ele

Maria, mãe de interno de 25 anos que foi contaminado

Segundo Maria*, o filho teve o corpo alvejado por seis tiros de balas de borracha. As feridas, contou, facilitaram a entrada e a proliferação de bactérias. Além disso, a sarna tomou conta da região genital do rapaz. “Eles não deixam levar remédio e não tratam a doença. Estou pedindo pelo amor de Deus para ele ser atendido. Só isso”, lamentou.

No início desta semana, a reportagem também entrou em contato com 10 esposas de presos. Pelo menos três delas relataram ter pego as doenças depois de visitas aos companheiros no cárcere.

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A pedido da Justiça
A Vara de Execuções Penais (VEP) recebeu, no fim de maio, denúncias anônimas sobre um possível “surto de doenças de pele” em unidades dentro da Papuda. Segundo informações do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), os denunciantes reclamavam da falta de atendimento médico e de fornecimento de medicação adequada. A Juíza titular da VEP, Leila Cury, mandou um ofício à Sesipe e pediu celeridade nas informações.

A juíza também oficiou a Secretaria de Saúde para fornecer as medicações aos detentos ou, em caso de falta, que a VEP fosse comunicada para adotar as medidas necessárias. A resposta: um serviço de assistência à saúde aos internos que reclamavam da coceira já tinha sido fornecido. A Sesipe também disse à Justiça que tratou os detentos que apresentavam lesões mais graves.

Contágio
Setecentos é um número inicial dentro de um contingente de 13.165 custodiados na Papuda. Se medidas de higiene extremas não forem tomadas o quanto antes, as duas doenças podem se alastrar. De acordo com o infectologista da Aliança Instituto de Oncologia, Tarquino Erastides, é preciso ferver as roupas de cama, calças, camisas, passar ferro quente nos colchões, fazer o tratamento em quem está infectado e manter condições de higiene que não permitam a proliferação do parasita da sarna e da bactéria causadora do impetigo.

A sarna ou escabiose provoca coceira intensa, principalmente durante a noite ou em dias quentes. O tratamento é com remédio via oral, um antiparasitário. “Não adianta tratar os doentes se a higienização não for feita, vira um ciclo vicioso. Na verdade, a sarna deve ter provocado a coceira, produzido escoriações e aberto a proteção natural da pele para o aparecimento do impetigo, que é provocado por bactéria”, afirmou o especialista.

O impetigo ocorre de duas formas, ambas causadas pelas bactérias Streptococcus pyogenes ou Staphylococcus aureus. É transmitido pelas mãos, pelo contato com o doente ou com pertences como roupas, cobertores, lençóis ou brinquedos.

Higienização
A Sesipe informou, por meio de nota, que fará a higienização das celas e dará as orientações médicas aos presos sobre higienização pessoal. Eles serão orientados, especialmente, a lavarem as mãos com frequência. Segundo a subsecretaria, não existem motivos para suspender as visitas aos detentos. “O fato de um grupo de internos estar com a doença de pele não significa que os estabelecimentos prisionais estão passando por um quadro de epidemia”, disse trecho da nota.

O ambiente carcerário insalubre começa pela superlotação dos espaços. Além dos 13.165 presos da Papuda, ainda existem 1.382 no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) e 764 na Penitenciária Feminina do DF (PFDF). Um total de 15.311 custodiados, quando a capacidade seria de 7.383 no sistema, composto por seis unidades prisionais.

Além dos 520 internos contaminados da PDF 1, ainda foram identificados 172 internos no Centro de Detenção Provisória (CDP) com as infecções. A Secretaria de Segurança Pública e Paz Social não informou quantos detentos têm as doenças na PDF2.

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