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Família com 6 filhos despejada antes do réveillon chega ao novo lar

Ubirajara Melo conseguiu alugar uma casa no Recanto das Emas após um casal lançar campanha na internet para ajudar a família dele

atualizado

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Felipe Menezes/Metrópoles
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1 de 1 FFM_0645-4-3 – 30 Jan 2017 22-55-10 - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

O colchão doado por quem não precisava mais virou a cama e o sofá da família de Ubirajara Melo, 40 anos. É nesse colchão, encostado na parede do único quarto da casa simples no Recanto das Emas, que dormem o homem, acompanhado da mulher e dos seis filhos. Por enquanto, ainda falta muita coisa. Os móveis são poucos e não há botijão de gás para fazer a comida.

Mas o lar é um novo — e feliz — capítulo na história da família que até o sábado passado (28/1) dormia sob o relento. “Isso aqui é uma maravilha. Só de não pegar chuva e frio, né? Estamos muito contentes”, afirma Ubirajara. Ele havia sido despejado da casa onde morava com a mulher e os filhos horas antes do réveillon.

Na tarde desta segunda-feira (30/1), quando o Metrópoles visitou a família no Recanto das Emas — mesma região em que moravam antes —, o semblante de todos era outro. Especialmente o de Patrícia Sousa, mãe das crianças que têm entre 11 meses e 10 anos.

Na primeira visita da reportagem, na última sexta (27), quando a família ainda vivia em uma barraca de lona próximo à Praça dos Orixás, na beira do Lago Paranoá, a mulher estava calada e com uma tristeza que saltava aos olhos. Esse sentimento desapareceu e, nesta segunda (30), a mulher estava sorridente e falante.

Agora, nem mesmo a falta de móveis e o pouco dinheiro tiram o ânimo de Patrícia, que tem uma entrevista de emprego nesta terça-feira (31) — inicialmente, seria na segunda (30), mas foi remarcada. A vaga é para empregada doméstica, com habilidade na cozinha.

Patrícia garante que isso não será um problema. “O pessoal sempre disse que eu cozinho bem. Os meninos gostam mesmo é dos bolos que faço. Estão com vontade também de comer um bife com batata frita. Quando as coisas se ajeitarem, vou fazer para eles”, contou.

Fé no futuro
Durante a visita, as crianças estavam felizes, assistindo a um desenho na televisão emprestada por um vizinho. Os filhos maiores, segundo Ubirajara, perguntam a toda hora se serão obrigados a voltar para a barraca.

O pai, com uma fé inabalável, promete que não. “O mais velho, de 10 anos, nem gosta de falar com as pessoas que vêm aqui. Ele tem vergonha. Diz que não quer que os colegas da escola achem que ele é menino de rua. Por isso, nunca deixei ele pedir dinheiro e comida quando estávamos por lá”, afirma Ubirajara. A luta, agora, é por um emprego.

Dá um alívio aqui, sabe? Montei até um carrinho para juntar material reciclável e vender enquanto um emprego fixo não aparece. Esse fim de semana veio um pessoal aqui e trouxe uma cesta básica. Está tudo caminhando bem. Não tem coisa pior para um pai do que os meninos falarem que estão com fome e você não ter o que dar

Ubirajara Melo
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Relembre a história
Em 31 de dezembro, na virada do ano, Ubirajara, a esposa e os seis filhos foram despejados pelos proprietários da casa que alugavam no Recanto das Emas, após dois meses sem pagar o aluguel. Sem ter para onde ir, a família saiu do imóvel e resolveu ver os fogos que saudavam o ano-novo às margens do Lago Paranoá. Por lá mesmo, na Praça dos Orixás, montaram uma barraca e ficaram.

Desde o réveillon, Patrícia tentava entreter as crianças, que insistentemente pediam para voltar para casa. Até que um dia, acabou o dinheiro para os alimentos. O casal e as crianças foram, então, até um supermercado do Lago Sul. Na lata de lixo, acharam restos de verduras para uma sopa. E foi naquele momento mais difícil, quando tudo parecia sem solução, que a ajuda inesperada apareceu. Enquanto desciam a ponte, voltando para “casa” com as crianças e os restos de comida, a família foi parada por um homem.

Ele perguntou por que eu estava ali com meus filhos. Fiquei com medo, achei que era a polícia querendo levar as crianças, quase chorei. Mas, na verdade, ele ficou preocupado com os meninos. Ouviu toda a minha história e depois perguntou se eu queria ir lá na casa dele arrumar o jardim, pintar um muro…

Ubirajara Melo

O estranho, um advogado de 38 anos, tem uma esposa, uma médica de 37. E os dois foram verdadeiros anjos da guarda da família que vagava pelas ruas de Brasília. O Metrópoles conversou com o casal, que pediu para não ter os nomes publicados.

Campanha na internet
Ao ouvir a história triste da família de Ubirajara, a médica começou uma campanha na internet. “Eu percebi que ele tem uma deficiência nos olhos, vi que era uma família amorosa, que não se abatia apesar de tudo. Eu lido com todos os tipos de gente, sou médica e, para mim, todos são iguais. Somos todos humanos e ninguém é melhor que ninguém”, explicou.

Com a ajuda de amigos, a médica conseguiu cerca de R$ 2,5 mil. O dinheiro foi usado para organizar as dívidas de Ubirajara e Patrícia, que alugaram uma casa no Recanto das Emas, perto de onde eles moraram a vida toda. Mas a ajuda vai além do dinheiro.

A conta da família no banco foi regularizada, uma consulta oftalmológica para ver o problema de visão de Ubirajara está marcada e ele ganhou até um celular. As crianças receberam roupas e material escolar. Também foram arrecadados alimentos e móveis, já que os proprietários da antiga casa colocaram toda a mobília e demais objetos da família na rua e quase tudo foi roubado.

Agora, passado o momento difícil, Ubirajara está em busca de um emprego. “Tudo o que eu mais quero nessa vida é um trabalho, ser digno, voltar a dar exemplo para os meus filhos. Hoje em dia, aceito qualquer coisa. Sei pintar casa, sou ajudante de pedreiro, mas se puder ser algo na área de limpeza, melhor ainda, porque, como eu não enxergo bem, dá para fazer com tranquilidade“, garantiu.

Você pode ajudar Ubirajara com uma vaga de emprego? Ligue para (61) 99853-4432

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