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De Gim ao padre Moacir. Saiba quem são os novos atores da Lava Jato

A 28ª fase da operação levou à prisão não somente o ex-senador Gim Argello, como articuladores políticos conhecidos na cidade. Também colocou em evidência o padre Moacir Anastácio, um dos principais líderes religiosos da capital

atualizado

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A 28ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na manhã desta terça-feira (12/4), colocou uma das principais lideranças religiosas da capital do país, o padre Moacir Anastácio, no altar dos escândalos de corrupção. A investigação sobre doações feitas à paróquia do religioso soma-se às prisões de personagens do cenário político local em um esforço dos procuradores da República para desvelar o braço desse esquema de corrupção no Distrito Federal.

Procuradores do Ministério Público Federal revelaram que a Paróquia São Pedro, em Taguatinga, teria recebido R$ 350 mil, em uma conta indicada por Gim Argello. A igreja é comandada pelo padre Moacir Anastácio, que coordena a maior festa de Pentecostes da cidade. O evento leva mais de 1 milhão de pessoas à área do Taguaparque, onde ocorre todos os anos.

A Lava Jato chegou a outros personagens conhecidos no tabuleiro do poder do DF, como o ex-senador Gim Argello, preso na manhã desta terça. Foram detidos ainda pela PF o lobista Paulo Roxo e o agora exonerado secretário-geral da Câmara Legislativa, Valério Neves.

Conheça alguns dos personagens do DF atingidos nesta fase da Lava Jato:

Gim Argello

Pedro França/Agência Senado

De SP para Taguatinga
Natural de São Vicente, em São Paulo, Jorge Afonso Argello, conhecido como Gim Argello, tem 54 anos. É bacharel em direito e começou a vida profissional como corretor de imóveis no Distrito Federal. Passou boa parte da vida morando em Taguatinga, mas, atualmente, vive com a família em um imóvel luxuoso no Lago Sul, na Península dos Ministros, onde foi preso nesta terça-feira (12/4).

  • Política
    Gim começou a carreira política na Juventude Democrática Social e participou da fundação do Partido da Frente Liberal (PFL), atual DEM. Em 1998, conquistou a primeira vaga na política do DF, como deputado distrital. Conseguiu a reeleição em 2002. Presidiu a Casa entre 2001 e 2002. Em março de 2005, filiou-se ao PTB. No mesmo mês, tornou-se presidente regional do partido, posição que ocupa até hoje.

Senado Federal
Em 2006, ganhou visibilidade na cena nacional ao concorrer como suplente de Joaquim Roriz no Senado Federal. Um ano depois, ele assumiu a vaga no Congresso graças à renúncia de Roriz ao cargo, em julho de 2007. O ex-governador do DF foi acusado de quebra de decoro parlamentar pelo recebimento de um cheque de R$ 2,2 milhões repassado pelo empresário Nenê Constantino. Roriz alegava ter recebido o dinheiro como empréstimo de R$ 300 mil para a compra de um embrião de uma bezerra. O caso ficou conhecido como a Bezerra de Ouro e tornou Roriz ficha-suja no ano passado.

TCU
Um dos principais articuladores de Dilma Rousseff no primeiro mandato da presidente, Gim conquistou a confiança da petista e de aliados no governo federal. Em 2014, foi cotado para assumir uma das vagas de ministro no Tribunal de Contas da União. O cargo vitalício renderia salário mensal de R$ 26,7 mil ao político. Com apoio do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB), e aval do Planalto, Gim, que responde a processos no Supremo Tribunal Federal, não conseguiu evitar a represália de servidores e procuradores da Corte, que realizaram manifestações contrárias à indicação. A nomeação de Gim não foi concretizada.

Operação Zelotes
O ex-senador também é investigado pela PF em um esquema de corrupção no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf), órgão colegiado do Ministério da Fazenda. A suspeita é que Gim, Renan Calheiros (PMDB) e Romero Jucá (PMDB) tenham recebido R$ 45 milhões em propina. O valor teria sido dividido entre os três.

Eleições
Nas eleições de 2014, apoiado pela família Roriz e pelo ex-governador José Roberto Arruda, Gim tentou a única vaga de senador aberta no DF, mas foi derrotado por José Antônio Reguffe.

 Valério Neves Campos
Reprodução

  • Rorizista
    Valério Neves é muito próximo à família Roriz e sempre atuou nos bastidores enquanto o ex-governador Joaquim Roriz esteve no poder. Em janeiro do ano passado, voltou à cena política do DF com a nomeação pela presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS), para o cargo de secretário-geral da Casa. Valério Neves foi filiado ao PMDB, ao PSC – partido no qual exerceu o cargo de presidente regional no DF – e ao PMN.

    • Função
      O secretário-geral da Câmara Legislativa é cargo de extrema confiança da presidência da Casa. É ele quem executa e assessora todos os trabalhos da Mesa Diretora. Uma vez definida a pauta do dia, por exemplo, é o secretário quem vai operacionalizar a dinâmica para um projeto de lei ser votado em Plenário. O novo nome para ocupar o lugar de Valério Neves partirá da indicação da deputada Celina Leão (PPS), presidente da Câmara. Não há prazo regimental, mas ela deve fazê-lo o quanto antes.

Paulo César Roxo Ramos

Paulo RoxoBastidores
Empresário da área de publicidade, Paulo César Roxo Ramos é dono da empresa Meio & Mensagem, que tem sede no Setor Bancário Sul. Atua nos bastidores da política do DF e já foi citado por Durval Barbosa, delator da Caixa de Pandora, como um dos operadores do esquema de arrecadação de propina.

Lobista
Roxo atuou na diretoria de comunicação da Caixa Econômica Federal por quase três décadas. Assumiu o cargo ainda no governo Collor. Por ter uma grande rede de contatos e boa articulação, atua como lobista para políticos.

 

 

Padre Moacir Anastácio

 

Reprodução/Facebook

Biografia
Moacir Anastácio nasceu em Crateús (CE) e veio para Brasília aos 17 anos fugindo da miséria e da fome. Na capital, chegou a virar alcoólatra, mas converteu-se e foi ordenado padre. Só então foi alfabetizado, aos 24 anos. É autor de vários livros. Amigos e familiares classificam o padre como um homem severo.

Ligações perigosas
A primeira fileira de assentos das celebrações de Pentecostes é disputada por políticos de todos os credos e partidos. Gim Argello, José Sarney, Chico Vigilante, Izalci Lucas, José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz já participaram das orações.

 

Votos de fiéis
Em um vídeo da época da campanha de Gim Argello ao Senado, em 2012, a cantora gospel Crícia Martins pede votos para Argello diante de um banner da comunidade Renascidos em Pentecostes:

Senador de Pentecostes
Gim Argello é visto com frequência ao lado de Anastácio. Em um vídeo no canal oficial do Renascidos em Pentecostes, comunidade fundada pelo padre, o político afirma se sentir lisonjeado por ser “amigo pessoal” do padre Moacir Anastácio, que o proclamou o “senador de Pentecostes”, em 2012.

Lugares pagos
Há relatos de que políticos desembolsam R$ 300 para sentarem-se nas cadeiras mais próximas ao altar de Pentecostes montado no Taguaparque.

Jeitinho
Em 2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) ameaçava multar a paróquia São Pedro caso Pentecostes ocorresse no Taguaparque. A rede elétrica do local oferecia riscos aos fiéis. A ameaça de multa teria desaparecido depois de intervenção do senador Gim Argello.

Parque Renascidos em Pentecostes
Os deputados Washington Mesquita e Chico Vigilante (PT) são autores do Projeto de Lei Distrital n° 954/2012, que sugeria alterar o nome do Taguaparque para Taguaparque Renascidos em Pentecostes. A proposição não foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da CLDF.

O ex-deputado distrital Washington Mesquita elegeu-se em 2010 graças ao apoio de padre Moacir Anastácio e dos fiéis. Teve a terceira campanha mais cara do DF, gastou R$ 676 mil, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF). “Se a PM e o Corpo de Bombeiros têm representantes que defendem seus interesses, porque o Renascidos em Pentecostes não pode?”, questionou Mesquita.

Negociação de cargos
Polêmicas envolvem a relação de Washington Mesquita, Moacir Anastácio e o ex-administrador de Taguatinga Carlos Jales, preso por suspeita de burlar processos de emissão de alvarás para beneficiar construtoras. Jales também é membro da Paróquia São Pedro e ajudou a coordenar a semana de Pentecostes até 2013. Foi indicado ao cargo por Mesquita.

Mais forte que a Fifa
Em 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, houve pressão para que o Pentecostes não ocorresse no Taguaparque ou fosse feito em outro lugar. O evento religioso atrapalharia a montagem do palco da Fifa Fan Fest (festa oficial para reunir o público durante os jogos), que seria no parque de Taguatinga. Com apoio do GDF, Anastácio venceu o cabo de guerra e o evento ocorreu normalmente.

Colaborou Manoela Alcântara

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