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Biblioteca Nacional: faltam livros e sobra abandono

Elevadores quebrados, calor, falta de água e banheiros indisponíveis. Além disso, 70% dos livros não podem ser consultados pelo público

atualizado

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Fotos: Paulo Lannes/Metrópoles
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Aberta em 2008, dois anos depois de ficar pronta, a Biblioteca Nacional de Brasília nunca foi, ao pé da letra, uma biblioteca tradicional. Para se ter uma ideia, demorou quase cinco anos para receber os primeiros livros. Nem por isso, entretanto, o espaço projetado por Oscar Niemeyer merece ser tratado com descaso. Quem chega ao local hoje se depara com um cenário de completo abandono.

As catracas que antes controlavam a entrada de pessoas (e saída de livros) estão desativadas e os corredores, famosos por terem imagens projetadas em suas paredes, no escuro. Para chegar ao segundo andar do prédio, onde ficam as primeiras salas de estudos e estantes de livros, o visitante deve subir 54 degraus de escadas, já que os quatro elevadores estão desativados por falta de manutenção.

Sem ar-condicionado, o calor abafa o ambiente (ao meio-dia fica impossível permanecer no local por mais de uma hora). Água pra refrescar? Melhor levar a própria garrafa, uma vez que filtro até tem, mas sem galão de água. Quem vai ao local passa aperto na hora de ir ao banheiro. No masculino, existe apenas um mictório funcionando. No das mulheres, vê-se espelhos completamente mofados e pias sem funcionar.

Cadê os livros?
As salas voltadas para inclusão digital, que um dia tiveram computadores para os visitantes utilizarem, foi desativada. No terceiro andar, uma nova surpresa. A coleção Brasiliana, composta por obras de pesquisadores estrangeiros e nacionais, encontra-se lacrada em suas salas. Como as obras ainda não foram catalogadas por falta de servidores, elas não podem ser vistas e apreciadas.

 

 

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Aliás, 70 mil obras do atual acervo de 100 mil livros da biblioteca não foram catalogadas por falta de servidores e, portanto, não podem ser colocadas à disposição do público. No quarto e último andar, o pavimento que seria dedicado a receber obras raras da instituição não passa de um grande salão de entulhos.

Não é à toa que o espaço atualmente funciona muito mais como uma sala de estudos, ocupada por concurseiros e estudantes, do que uma biblioteca propriamente dita. E quem frequenta não esconde a indignação. “Ia todos os dias ao espaço para estudar e ler alguns livros, mas isso é impraticável nos dias de hoje”, afirma o concurseiro Carlos Ferreira, de 34 anos.

“Vergonha”
Antônio Miranda, diretor da Biblioteca Nacional, desabafa: “É de dar vergonha uma instituição que se propunha ser referência nacional se transformar nisso”. Miranda explica que a biblioteca se encontra no meio de um jogo de empurra entre os governos local e federal.

Enquanto o prédio pertence à Secretaria de Cultura do DF, a instituição faz parte do Ministério da Cultura.

Antônio Miranda, diretor da biblioteca

Por isso, o espaço não conta com um orçamento definido – ficando fora até mesmo do dinheiro previsto pelo GDF para a manutenção das bibliotecas públicas da cidade. Apenas as contas básicas como água e luz, que giram em torno de R$ 300 mil, estão sendo custeadas pela secretaria.

Para resolver o impasse, Miranda busca tornar a gestão da biblioteca um consórcio dividido entre GDF, Ministério da Cultura e iniciativas privadas. Nesta terça-feira (1/10), o diretor da instituição vai se reunir com o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), para conversar sobre a situação. Mas antecipa que não acredita em uma solução ainda para este ano.

 

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