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Após 30 anos, comissários se reúnem em Brasília em encontro nostálgico

A maior parte dos profissionais deixou a área há algum tempo. Em almoço na região de clubes, o grupo relembrou histórias dos bons momentos que passaram juntos

atualizado

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Cristina Nogueira/Divulgação
turma de comissários
1 de 1 turma de comissários - Foto: Cristina Nogueira/Divulgação

Entre 1986 e 1987, aproximadamente 60 comissários de bordo se formaram no curso que a Transbrasil – então uma das maiores empresas aéreas do país – oferecia aos profissionais do ramo na empresa. Passados 30 anos, essa mesma turma se reuniu com muita alegria e nostalgia na tarde deste sábado (17/9), no clube Assefaz, para relembrar as histórias que compartilharam durante o curso e dividir como estão suas vidas atualmente.

Organizadora do evento, Denise Martins, 53 anos, mudou totalmente rumo de sua carreira. Moradora de Brasília, ela atua como advogada e tem o seu próprio escritório. Segundo a advogada, mesmo tendo abandonado a carreira há 20 anos, a memória dessa época é uma constante em sua vida.

A aviação é uma coisa impressionante, uma cachaça. Vicia quem entrou nessa área. Por mais que hoje eu não seja mais comissária, ainda me sinto como parte desse mundo.

Denise Martins, advogada

A advogada ficou responsável por buscar os colegas que chegaram em Brasília ao longo da manhã deste sábado. “É uma sensação diferente, tem gente que eu não via há mais de 20 anos”, contou.

Poucos dos presentes continuam na ativa como comissários. Segundo eles, há uma pressão das empresas aéreas para ter pessoas mais novas voando. Além disso, a vida da profissão é muito atribulada para aqueles que queiram continuar estudando ou começar uma família.

Após oito anos no ar, Marise Budag, hoje com 58 anos, teve um filho e resolveu mudar de profissão. Hoje ela é dentista e mora em Santa Catarina, mas não pensa duas vezes antes de se identificar como comissária. Por tudo que viveu, Marise relata que a profissão continua presente no seu dia a dia.

Gabriel Pereira/Metrópoles
Marise Budag, ex-comissária de bordo

Uma dessas memórias foi a de um voo em que, por solicitação do comandante, foi verificar um possível vazamento de combustível. “De fato estava vazando, e muito”, contou. Ela então relatou o que viu para o piloto que fez um pouso de emergência em Brasília de um voo que partiu de Belém. “O combustível acabou no instante em que o avião tocou o solo”, lembra.

Histórias como essa são constantes nos relatos dos amigos de curso. Roney Neri, 61 anos, conta que, após um voo, ele e sua equipe se hospedaram em um hotel em Miami. Horas depois, o grupo foi alertado de que todo o hotel deveria ser evacuado devido à chegada do furacão Andrew, que devastou a cidade em 1992. Mas, por ordens expressas, eles continuaram no local.

Tínhamos que seguir as ordens do comandante, que nos impediu de deixar o hotel. Foi horrível! Ficamos quatro dias isolados na cidade com medo de cada barulho

Roney Neri

Ele, assim como as duas amigas, deixou a carreira há alguns anos. Bom de papo, ele conta que sua vida mudou ao ler o livro “O Alquimista”, de Paulo Coelho. “Terminei o livro determinado a virar médico, que era um sonho de infância”. Estudou e fez a faculdade no Rio de Janeiro, onde mora. Atualmente, ele garante que já fez oito pós-graduações na área.

Gabriel Pereira/Metrópoles
14 Bis

Em um ambiente que tem como tema central a aviação civil, nada mais natural que as brincadeiras e apelidos terem origem em nomes caros ao setor. É o caso do ex-comissário Paulo Amaral (foto acima). Com 70 anos, ele conta que foi um dos primeiros a aceitar mudar a sua base de atuação de São Paulo para Brasília, pouco depois da fundação da capital. Por isso, devido a sua idade mais avançada que a dos colegas, seu apelido é “14 Bis”, em referência ao avião no qual Santos Dumont fez o primeiro voo tripulado da história da humanidade.

Hoje, ele é um fazendeiro bem-sucedido em Goiás, onde cria gado e planta soja e milho.

Pereira/Metrópoles
Decoração da festa privilegiou objetos que remetem à aviação

11 de setembro
Uma das vítimas dessa suposta política das empresas nacionais que, segundo os presentes, dão preferência a comissários mais novos, é Iris Salua, 55 anos.

Ela parou de voar por algum tempo, quando tinha pouco mais de 30 anos e, ao retornar para o mercado, não conseguiu vaga.”Um entrevistador muito gentil chegou a contar que eles preferiam pessoas mais novas”, lamentou Iris.

Apaixonada pela profissão, Iris se mudou para os Estados Unidos e, em setembro de 2001, foi aceita no curso de comissária da Southwest, a maior empresa aérea interna dos Estados Unidos. As aulas começariam em outubro, mas, no dia 11, dois aviões se chocaram contra as Torres Gêmeas, fato que ficou marcado como o maior atentado terrorista da história do país norte-americano.

Gabriel Pereira/Metrópoles
Iris Salua, da Southwest

“Eles adiaram o início do curso. Pensei que nunca mais voltaria a trabalhar como comissária, mas, para minha alegria, logo retornei”, conta. Hoje ela vive em Chicago e continua voando. “Nos Estados Unidos as empresas até preferem pessoas mais experientes”, comemora.

Essas histórias todas foram relembradas entre porções fartas de picanha fatiada, em uma festa regada a cerveja e sorrisos.

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