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Ser LGBT é difícil, mas imagina sendo preto e ainda por cima pobre

A peça “Felicidade” do dramaturgo Alexandre Ribondi apresenta a questão LGBT em um dos ambientes mais complicados da cidade para ser

atualizado

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Diego Bresani/Metrópoles
Espetáculo Felicidade
1 de 1 Espetáculo Felicidade - Foto: Diego Bresani/Metrópoles

Do encontro do diretor e dramaturgo Alexandre Ribondi com o grupo Cia de Teatro Bisquetes, originário da Cidade Estrutural de Brasília, nasceu a peça “Felicidade”. Parte de um projeto que inclui ainda um curta, uma revista e exposição de fotos, a peça apresenta a questão LGBT em um dos ambientes mais complicados da cidade para se ser.

No filme produzido pelo projeto, a afirmação é feita a queima roupas: se ser LGBT é difícil, imagina sendo preto; e ainda por cima pobre; e vivendo numa cidade satélite. Cada camada dessa é mais um fator que gera solidão ao indivíduo que, no fim, precisa gritar que é uma pessoa e merece tanto quanto qualquer um.

Felicidade traz denúncias de violências vividas pelos próprios atores de dentro de casa, de desconhecidos na rua e até mesmo contra seu ato de fazer arte, como quando eles tiveram o teto da casa onde ensaiavam o espetáculo alvejado de pedras.

Diego Bresani/Divulgação

Mas a gente não tem noção de todos os significados do que é apresentado no palco e como só deles estarem ali já é significativo. Não temos ideia do quanto seria perigoso para eles apresentarem o espetáculo na própria cidade de que falam já sobrepõe qualquer interpretação.

Mesmo assim, eles apresentam em um teatro do Plano Piloto. E quando acaba, precisam descobrir como voltar para casa, pois já não há mais ônibus naquela hora para onde moram.

A força desses oito guerreiros é posta em cena, junto com suas lágrimas, sangue e joie de vivre. “Eu sou uma top model internacional, só que eu nasci homem e na Estrutural”, avisa Ravenna Waldorf Velvet, a drag mais maravilhosa que você conhece. (Alô empresários da noite gay que produzem festas, vocês não têm noção do talento que estão perdendo.)

Diego Bresani/Divulgação

Quando você ultrapassa o vale escuro da marginalização e chega no palco iluminado do teatro, a sua dor se espraia até os espectadores e vira beleza (um trabalho similar ao da população da Estrutural, que vive do maior lixão da América Latina).

O espírito do espetáculo é da ária da ópera Turandot, Nessun Dorma. Que ninguém durma enquanto nossa vida estiver assim. Porém, a alma e o corpo é, na realidade, “Um beijo pras travestis”, da MC Xuxú, junto com um o convite para nos juntarmos a eles no palco e na Estrutural.
Felicidade é a cidade ser uma só.

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