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Para o aluno gay que foi visto beijando na escola: “Você não está só”

Uma das coisas mais interessantes que aconteceu, em meio a toda essa confusão, foi a enxurrada de pessoas falando: “Ei, mas não é a primeira vez que isso acontece. Teve uma garota que estudou comigo…”

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1 de 1 gay LGBT lésbicas adolescentes - Foto: iStock

Na quinta-feira (8/9), um garoto foi repreendido pela direção do colégio em que estudava, por conta da reclamação da mãe de uma criança menor, que o viu beijando o namorado nas proximidades da escola.

O funcionário teria falado com o garoto, diante de outras testemunhas, que teria que ligar para seus pais, “procedimento padrão para este tipo de situação” — que seriam as carícias excessivas na área do colégio, não relacionamentos homossexuais

O garoto acabou chorando no pátio da escola, por não ser assumido para os pais. As testemunhas que teriam presenciado a abordagem do funcionário, revoltadas com a postura tomada, tornaram pública a situação por meio de um post no Facebook. Minha timeline virou um grande pátio de colégio.

Todas as situações típicas de quando se está numa escola e um grande escândalo estoura – sobretudo quando envolve a direção – eu revi. As primeiras postagens afirmavam que o colégio havia ameaçado o garoto de expulsão, mas isto foi logo negado.

Depois, divulgaram uma resposta vinda do perfil oficial da escola, numa mensagem dúbia, mal escrita e que, com todo o respeito, muito mais abriu margem para se achar que a instituição realmente não tinha preparo nenhum para lidar com a situação.

Mas uma das coisas mais interessantes que aconteceu, em meio a toda essa confusão, foi a enxurrada de pessoas falando: “Ei, mas não é a primeira vez que isso acontece. Teve uma garota que estudou comigo…”. Depois passavam a contar uma situação parecida com a narrada no Facebook na mesma escola do garoto ou em uma diferente. Isso quando o protagonista da história não era o próprio narrador. E não raro, as histórias terminavam com expulsão ou afastamento, além de um grande abalo psicológico, do aluno.

As denúncias surtiram um efeito de impacto e a situação ganhou matéria nos sites de notícia de Brasília. Eu também iniciei uma investigação sobre a verdade dos fatos, mas esbarrei justamente naquela formação de “pátio de colégio” do primeiro parágrafo. A forma das pessoas narrarem o que aconteceu é exatamente a circunstância complicadora do debate.

Em primeiro lugar, falar com a principal vítima é difícil justamente porque a sua superexposição é o exato oposto do que ela quer – lógico -, o que abre espaço para as mentes mais variantes deduzirem alguma versão. Segundo, porque sua confiança está mais do que arranhada, ela está fendida, talvez para sempre, na instituição em que ela deveria se sentir protegida e acolhida, como é a escola.

Sem contar que as outras pessoas têm muitas informações desencontradas e todo mundo tem um jeito diferente de contar o que aconteceu, ao mesmo tempo que todos juram serem íntimos dos elementos envolvidos e saberem da verdade.

Não dá para pensar que a escola é apenas o lugar que a criança/adolescente frequenta para aprender. Em uma escola que funciona na Asa Sul, seus frequentadores são garotos e garotas que normalmente não enfrentam grandes questões na vida, como ter que trabalhar para ajudar a família. Portanto, em muitos desses casos, mais do que fazer parte do seu mundo, a escola É o seu mundo inteiro e este mundo só será expandido quando se chega à universidade.

Agora imagina que seu mundo seguro (lembrem-se que ele encontrava seu namorado na frente da escola, o que só dá para concluir que era onde ele se sentia mais seguro para lidar com sua orientação sexual do que, talvez, na sua própria casa) se mostrou tão ameaçador quanto, talvez, sua própria casa.

Eu até compreendo a apreensão da escola diante da pressão dos pais. Como falei, para lidar com estudantes da Asa Sul os pais devem ter um poder aquisitivo considerável e fazer o certo é muito complicado diante do querer de quem tem dinheiro.

Assim, é mais fácil entregar a “situação” para os pais e eles que se resolvam, para depois não ser acusado de estar se isentando da sua responsabilidade, que, na lógica torta de algumas pessoas, a responsabilidade da escola, mais do que a de dar a melhor formação para os jovens, é ter o relatório total das suas atividades para ter a certeza que ele não está fazendo nada que os pais não queiram que ele faça.

Os últimos relatos, que parecem ser os mais próximos da verdade, disseram que, por conta principalmente da repercussão nas redes sociais, a direção da escola procurou o garoto para que eles se entendessem. Tentou justificar seu posicionamento diante dele e das salas e pediu desculpas por qualquer mal-entendido.

Também teria declarado que seriam oferecidos grupos de discussão sobre temas relacionados à juventude, como a homossexualidade. Até agora, eu não soube de nenhuma postura da escola em relação a melhorar a formação também dos profissionais da educação que lá trabalham.

A última notícia que eu tive do garoto, disse que ele estava bem e que decidiu não contar nada para os pais agora. E quanto a mim… eu só queria poder dar um abraço nele e dizer: Você não está só. Conta comigo!

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