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Conheça o trabalho homoerótico do artista brasiliense Ricardo Gauthama

O aluno da UnB nasceu e vive até hoje em Taguatinga, Distrito Federal

atualizado

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Ricardo Gauthama/Divulgação
Ricardo Gauthama
1 de 1 Ricardo Gauthama - Foto: Ricardo Gauthama/Divulgação

Ricardo Gauthama é um artista plástico de temática homoerótico que nasceu e vive até hoje em Taguatinga, Distrito Federal. Criador de obras de uma pujança criativa notável, seu trabalho merece ser conhecido por todos os que se interessam por esse campo da arte.

De infância simples, sua adolescência se deu embalada pelo movimento punk rock anarquista do final dos anos 1980 e metade dos 1990, regada a muita bebida nos bares e festas góticas do Gama. Essa época lhe pôs em contato com a violência desse movimento artístico, que se faz presente em suas obras, em alguns momentos o exaltando, noutros o negando completamente. Mas o que é a negação, se não, unicamente, a afirmação da existência?

Aos 16 anos conheceu ninguém menos que o também brasiliense Fernando Carpaneda.

Ricardo Gauthama/Divulgação

 

Para quem não o conhece, Carpaneda é atualmente um dos artistas de temática homoerótica mais importantes do mundo. Vivendo há anos nos EUA, é o único brasileiro no acervo permanente do museu Lohman Gay Art Foundation, em Nova York — primeiro museu de arte gay do mundo. Sua obra no local é nada menos que Bolsonaro´s Sex Party (A Orgia de Bolsonaro).

Quando os dois se encontraram, Carpaneda o levou para ver suas exposições e foi, muitas vezes, seu farol guia numa época em que não havia internet. Lhe apresentava artistas de temática homoerótica, ou não, e bandas e músicos punks.

No início da sua produção, Gauthama era influenciado por artistas como Naoto Hattori, Tom da Finlândia e o realismo de Mark Hayden. Ele treinava sua técnica de desenhos fazendo arte final em uma casa de serigrafia que trabalhava.

Entretanto, só em 2005 que rolou sua primeira exposição, no Espaço de Mulheres e no Conic. Nessa mostra, Gauthama apresentou uma série de retratos de seus amigos e autorretratos, tendo como fundo dos quadros versos malditos do poeta Roberto Piva e frases pichadas de banheiro. No fim, algumas pessoas perguntaram por que havia tantas pinturas de homens.

A vida foi seguindo seu curso com Gauthama vivendo vez ou outra uma crise com seu trabalho. Daquelas que no fim viraram o tema da produção seguinte. Mas numa fase da vida ele decidiu abandonar completamente a pintura e não aceitava nem que dissessem a palavra “arte” perto dele.

Ricardo foi diagnosticado como soropositivo. Por uma dessas crueldades que estamos acostumados a vivenciar e que nos ensina que a pessoa é a própria culpada pelo seu contágio, o artista culpou seus quadros pelo diagnóstico. Eles representavam uma vivência livre da sexualidade e ele considerou isso o motivo de tal malogro. Ricardo se refugiou então nos estudos sobre massagem e ioga.

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Um dia, encontrou um numerólogo e resolveu fazer uma consulta. Crente que seus números diriam “siga seu caminho no campo da saúde”, a soma das datas foi categórica: arte arte arte, mas para isso você precisa estudar! Depois da consulta, Ricardo levou uma temporada se reaproximando dos quadros, mas ainda renegando inteiramente trabalhar com o homoerotismo. Ele pintou uma série inteira só de nuvens.

Mas não tinha jeito, o tema ia voltando. Corpos nus iam reaparecendo nas suas telas, até Gauthama se reconciliar com o homoerotismo, agora em outra abordagem. No entanto, os números também lhe cobravam estudo e, depois de não ter passado duas vezes no vestibular para artes plásticas na adolescência, Ricardo resolveu tentar de novo. E dessa vez foi aprovado na UnB.

Atualmente está no sexto semestre e diz já sentir a influência de tudo o que está apreendendo nas aulas. Se antes seu trabalho dialogava com imagens de fotografias e de vídeos que encontrava na internet (inclusive sites pornôs), agora ele dialoga com grandes obras da Pop art. De Andy Warhol a Frida Kahlo, sem esquecer Damien Hirst (atualmente o pintor vivo mais bem pago do mundo).

Ricardo Gauthama/Divulgação

No momento atual do seu trabalho, o homoerotismo ainda está presente, porém trabalhado de outra forma. A violência pode ser vista através do humor e das mensagens políticas, se relacionando muito bem com as referências que o curso superior tem lhe apresentado, lhe dando a oportunidade de uma obra mais consciente e objetiva.

As obras de Ricardo Gauthama podem ser encontradas na galeria XXX Arte Contemporânea, em Brasília, na Galeria Plus, em Goiânia; e Renome Galeria, em São Paulo.

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