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Balé do Bolshoi sobre a vida de Rudolf Nureyev foi cancelado na Rússia

Pessoas estão denunciando que o cancelamento se deu pela postura “anti-gay” atual do governo russo. Nureyev era homossexual declarado

atualizado

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Rudolf Nureyev
1 de 1 Rudolf Nureyev - Foto: null

Uma crônica sobre a atual situação na Rússia e que não está muito longe daqui: um espetáculo de balé do tradicional Bolshoi, sobre a vida do grande bailarino Rudolf Nureyev, foi cancelado faltando três dias para a estreia. A justificativa oficial é de que o espetáculo não estaria pronto, faltava ensaio. Porém várias pessoas estão denunciando que o cancelamento se deu pela postura “anti-gay” atual do governo russo. Nureyev era homossexual declarado.

Com a proximidade da Copa do Mundo na Rússia, logo todo mundo vai descobrir que o balé naquele país é como o futebol no nosso: é o esporte nacional e um forte reduto da heterossexualidade. Para nossa cabeça ocidental, acostumada a relacionar bailarinos a práticas sexuais “menos ortodoxas”, fonte inclusive de vários preconceitos e piadas, no país de Putin, um bailarino do Bolshoi tem o respeito de um goleador da seleção canarinho (ainda falam seleção canarinho?).

Por isso, a notícia do cancelamento do espetáculo tão esperado causou choque no mundo inteiro, principalmente pelo risco de macular o tradicional profissionalismo do balé.

O grande bailarino, tema do espetáculo, foi o primeiro popstar homem da dança no mundo. Em 1961, quando estava em turnê em Paris, ele quebrou a barreira de segurança soviética e pediu asilo de oficiais. Conquistou fama internacional com seu talento e um comportamento excêntrico.

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O teatro Bolshoi não poupou despesas nas preparações para “Nureyev”, que tem direção de Kirill Sereberennikov, coreografia de Iúri Póssokhov e música de Iliá Demútski.

Inclusive o balé teria comprado os direitos autorais de uma foto em que Nureyev aparece nu para ser usado no cenário, haveria cenas em que há representação de relações entre pessoas do mesmo sexo e o diretor havia colocado travestis para dançarem uma das cenas, o que vai totalmente de encontro à atual política do governo. O caso é tão sério que quem lidou diretamente com a questão foi o próprio ministro da Cultura da Rússia, famoso pelo seu conservadorismo.

Eu até tinha pensado em escrever todo esse texto sobre o fato de um governo autoritário e declaradamente homofóbico não estar nem aí para o respeito à liberdade artística e nem à história de uma das instituições mais respeitadas do seu próprio país, mas aí veio a prisão do Maikon K no Palco Giratório.

No meio de um espetáculo que acontecia em frente ao Museu Nacional, na tarde de sábado (15/7), a Polícia Militar o deteve por “atentado ao pudor” e o conduziu à delegacia para prestar esclarecimentos, porque ele apresentava um espetáculo nu.

A abordagem ao espetáculo de Maikon K não foi homofóbica, mas é tão abusiva quanto o cancelamento do Bolshoi. Nos tempos tensos que a gente vive, em que a ameaça à liberdade se tornou cotidiana, os regimes políticos entendem que a arte é das armas mais perigosas e que eles estão sempre na sua mira. E a dança está aí, disparando contra a caretice das ditaduras. Espero que as outras seis artes não se acovardem e se unam a ela.

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