metropoles.com

Welder Rodrigues, o rosto do humor inteligente brasileiro

Na noite de ontem (30/6), dois trabalhos coletivos nos quais o ator brasiliense está inserido foram laureados com os melhores do Festival Risadaria

atualizado

Compartilhar notícia

welder
1 de 1 welder - Foto: null

Não é preciso fazer muito esforço para se dobrar na gargalhada diante de Welder Rodrigues, um dos fundadores da Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo. O sorriso esboça com naturalidade. Basta ele olhar para a plateia, entortar o pescoço e puxar um sorriso meio maroto. Pronto, ficamos nas mãos de um dos maiores comediantes do país e, hoje, um dos ícones do humor inteligente feito no teatro e na tevê.

risadaria

Na noite de ontem (30/6), dois trabalhos coletivos nos quais o ator brasiliense está inserido foram laureados com os melhores do Festival Risadaria, hoje o principal do gênero no Brasil. A Cia. de Comédia Os Melhores do Mundo, que comemora 20 anos, ganhou melhor peça de comédia com “Notícias Populares”, responsável pela nacionalização da trupe com o personagem de Joseph Klimber, enquanto o “Tá no Ar” (da TV Globo) venceu como programa de tevê.

De protagonista à figurante

https://www.youtube.com/watch?v=xDvSfKCWmQ8

Entre um e outro, circula, com desenvoltura, Welder Rodrigues. Dono de uma singular expressividade corporal, ele segue, sem estrelismo, de protagonista à figurante da cena, a depender do esquete em questão. Comanda um dos melhores quadros do “Tá no Ar”, na pele de Jorge Bevilacqua, o apresentador do “Jardim Urgente”, com a mesma felicidade em que aparece de pano de fundo para que outros colegas brilhem.

Quando o “Tá no Ar” acaba a temporada, emenda com o novo “Zorra”, que se distanciou de uma fórmula vencida de humor de bordão e de caricaturas para se situar como um humorístico atualíssimo, que faz uma leitura ácida e debochada da política nacional e dos aspectos sociais, comportamentais e políticos do Brasil.

Volta Jajá

Welder Rodrigues é um artista que não gosta de brilhar sozinho. Ele entende o sucesso como uma consequência de um trabalho de equipe. Sofreu quando, ao lado de Adriana Nunes, conheceu picos da fama no extinto “Zorra Total”, no quadro “Jajá e Juju”, em que tinha ataques ensandecidos de ciúmes, quebrando tudo que via pela frente ao som de “Tô doido, tô doido”.

Estive com ele, caracterizado de Jajá, numa partida de futebol entre Gama (seu time) e Brasiliense e testemunhei a dificuldade de virar estrela solitária. A projeção incomodou tanto que disse “não” à continuidade da personagem, contrariando a direção do humorístico e os fãs, que, de tempos em tempos, lançam a campanha “Volta Jajá!”.

Artista de esquerda
Nas redes sociais, Welder é conhecido por divulgar temas humanísticos e criticar políticos de direita, aproveitadores e caronistas. Tornou-se respeitado artista de esquerda. Em época do “Big Brother”, por exemplo, adora espalhar um post no qual instiga os usuários a ver cenas picantes sob edredom. Quando o curioso clica, cai na página de doação dos Médicos Sem Fronteiras.

Grande incentivador do teatro brasiliense, sempre que está na cidade, Welder prestigia as peças locais, fortalecendo sua raiz cultural. Mesmo com o sucesso no Rio e em São Paulo, faz questão de apresentar, ao lado de Ricardo Pipo, o “Jogo de Cena”, programa que projetou a dupla na cena artística de Brasília. Mas é nos bastidores que ele ajuda amigos na batalha de se fazer teatro na cidade. Exímio designer gráfico, Welder cria cartazes, folders e identidades visuais para espetáculos e filmes, muitos feitos na parceria e na amizade.

Caminhos abertos
Quando o conheci, em 2001, numa montagem descompromissada, “Welder & Pipo na Ponte Aérea”, sentei-me no teatro com a função de crítico teatral para apreciar o espetáculo. Sem estofo, a peça era engolida pelo talento inconteste da dupla de históricos humoristas de Brasília. Depois, acompanhei os versáteis movimentos de sua carreira na Cia. Melhores do Mundo, o sucesso avassalador de Joseph Klimber no YouTube e a incursão pelo humor televisivo.

Em todos esses passos, algo imutável acompanha esse artista singular: a coerência e os valores em construir uma sociedade menos voraz e mais respeitosa com o ser humano.  Talvez, isso faça a gente rir e vibrar tanto com os caminhos abertos de Welder Rodrigues.  Evoé!

Compartilhar notícia