Tesouro da MPB. Acervo de Marinês, Rainha do Xaxado, está guardado em um apartamento do Guará
Filho da cantora, o produtor musical e maestro Marcos Farias trouxe para Brasília fotografias, figurinos, documentos e acessórios. Peças vão integrar museu na Paraíba
atualizado
Compartilhar notícia
De repente, a cama de casal fica recoberta por uma espécie de colcha de fotografias. Diante das imagens aleatoriamente espalhadas, um rio de memórias escorre sobre os olhos de Marcos Farias. Emocionado, o maestro e produtor musical seleciona algumas, recobra detalhes da memória e estabelece as conexões da narrativa que versa sobre o seu nascimento e a vida ao lado da mãe e rainha.
Aos poucos, a trajetória de uma das baluartes da música genuinamente brasileira se reaviva. É como se Marinês (1935 – 2007) ganhasse corpo, ficasse diante do filho e agradecesse por mantê-la com a energia tão presente.
Trouxe para Brasília o que me era mais afetivo. Uma outra parte está na Paraíba aos cuidados de uma amiga de mamãe. Lá, existe um projeto para construir um museu dedicado à história dela.
Marcos Farias
Joias no Guará
Algumas relíquias de Marinês estão num aconchegante apartamento do Guará. Além das fotografias, Marcos Farias tem figurinos de shows, acessórios e documentos pessoais. Duas joias, especialíssimas, destacam-se: os chapéus à la Maria Bonita.
Marcos segura os chapéus de couro com as mãos (um marrom, outro branco). É possível ver Marinês em cena. A sua energia que levou Luiz Gonzaga, padrinho de Marcos, a designá-la como “Rainha do Xaxado”, porque dançava como ninguém, arrastando os pés e levantando a poeira do baião, ritmo que ela ajudou a popularizar Brasil afora.
Os chapéus eram sua marca. Mamãe desenhava cada um. Dava uma curvatura própria. Estabelecia o corte e idealizava os bordados e pedrarias.
Marcos Farias
Menina do triângulo
Entre o mar de fotografias, há imagens dela novinha, toda paramentada, cantando com o triângulo em punhos, no tempo em que ganhava as rádios com “Peba na pimenta” e “Pisa na fulô”.
São impressionantes as imagens da plateia que se apinhava para ver uma mulher, vestida de cangaceira, cantando, tocando e dançando uma música que não deixava os cabras parados. Marinês se apresentava pelo interior do país ao lado do marido, o mestre do acordeon Abdias, pai de Marcos.
Ela sempre esteve para além do seu tempo. Foi até dona de uma boate, onde se apresentava com um corpo de baile.
Marcos Faria
Figurinos de shows
Vaidosa, Marinês desenhava e supervisionava cada figurino para shows e aparições em programas de rádios e tevês.No guarda-roupa que Marcos reservou para ela, há peças de valor afetivo incalculável.
.
Álbum de família
Testemunhei todo esse movimento porque cresci com eles nesses bastidores. Meu padrinho (Gonzagão) mandou fazer um chapéu e uma zabumba para mim. Comecei a tocar pequeno. Cheguei a acompanhá-lo musicalmente.
Marcos Farias
Dueto com Marinês
Guardião da memória de Marinês e de Abdias, Marcos Farias planeja projetos que ressaltem a importância da “Rainha do Xaxado” na MPB. Shows, discos e espetáculos estão sendo gestados. Um deles envolve sua companheira, a cantora Sabrina Vaz, que tem uma semelhança física com Marinês.
Vou gravar um disco com as vozes das duas mixadas. Um encontro emocionante.
Marcos Farias