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Qual o pior clichê sobre Brasília? A capital foge dos lugares-comuns

De terra de corruptos à cidade sem identidade cultural, ideias atribuídas à capital escondem as verdades que só os moradores conhecem

atualizado

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Beirute/Reprodução
Beirute
1 de 1 Beirute - Foto: Beirute/Reprodução

Clichês são como muros. Eles barram a circulação, impedem o fluxo. Separam vidas e sonhos. O pior: escondem as verdades. Sim, elas são muitas e nós, moradores de Brasília (do Plano e das cidades), sabemos que estão longe do que vai ao ar no noticiário nacional.

Brasília, a capital do poder, esconde muitas verdades da Brasília, carne, osso e concreto. Entre uma e outra, há um véu costurado pelos piores clichês, que começaram a ser construídos muito antes da inauguração da capital, quando se anunciou a transferência dos três Poderes do Rio de Janeiro para o Planalto Central.

Erguidos por uma mídia raivosa, por funcionários públicos infelizes e por uma intelectualidade que não se conformava em atrelar a crônica política ao mato de Goiás, os muros foram erguidos e resistem fortes 57 anos depois da festa de inauguração.

Elegemos os piores. Os que precisam ser desconstruídos porque não fazem mais sentido algum, afinal, Brasília não é só Plano Piloto. É todas as suas cidades.

1) Brasília é uma cidade sem esquinas.
Esse é um dos mais velhos clichês. As esquinas, cruzamentos entre duas ruas, estão tecnicamente fora do projeto de Lucio Costa. Mas elas existem de forma afetiva, são aqueles lugares onde paramos para tomar um café, uma cervejinha. Elas se multiplicam pelo Plano Piloto afora. Quem não foi feliz numa madrugada naquele canto que abriga o Beirute da Asa Sul (109 Sul)?

2) Brasília não tem identidade cultural
Brasília nasceu com identidade cultural. Uma cidade modernista dialogando, fortemente, arte com arquitetura. A cidade é Patrimônio Imaterial na planta. Foi tombada pela sua ideia. Rapidamente, deixou de ser dormitório para ter uma população cotidiana, que vive, assiste e produz cultura. Nesses 57 anos, são incontáveis as contribuições artísticas do DF para o Brasil. Quer fazer uma lista?

3) Brasília é a capital da solidão e dos solitários
Qual cidade urbana não abriga a solidão? É do gene urbano. Claro que Brasília, à primeira vista, amplifica esse sentimento porque não há grande fluxo humano nas ruas. É uma forte impressão para quem conhece a cidade pelos setores hoteleiros. Fora deles, o convívio segue como uma cidade qualquer.

4) Brasília é um Tédio com “T”
A expressão ganhou vida numa música do Aborto Elétrico (“Tédio com T Bem Grande pra Você”), que virou hit da Legião Urbana e seguiu cantarolada de boca em boca. Apesar de carregar a pecha de não ter praia, a cidade se amplifica, ano a ano, em suas atrações culturais e naturais. Impossível ficar em casa por falta de opção. Se o Plano Piloto lhe parece chato, siga a estrada e se divirta.

5) Brasília é a paisagem da insônia
Uma série de inscritos inspirados de Clarice Lispector traz essa ideia, consequência da solidão e do tédio. A cidade que quebra seu ciclo orgânico porque é inorgânica, demasiadamente planejada e sem vibração. A qualidade de vida da cidade-pomar tem quebrado essa noção e convidado os habitantes a serem mais solares.

Mas te digo que Brasília é a imagem de minha insônia, veem nisso uma acusação; mas a minha insônia não é bonita nem feia – minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil; eles ergueram o espanto deles, e deixaram o espanto inexplicado

Clarice Lispector

6) Brasília terra de corruptos
A maioria dos habitantes de Brasília vive e trabalha honestamente para ganhar o sustento do dia a dia e em nada tem a ver com as falcatruas arquitetadas por senadores e deputados vindos de todas as unidades da federação. Aqui muitos têm construído esse descalabro da corrupção que nos envergonha nacionalmente. Infelizmente, a Câmara Distrital, que poderia ser um contraponto a esse clichê, é uma vergonha local.

7) Brasília tem uma população fria e seca
A cidade é uma mistura de cidades (do Brasil e do mundo) e funciona em grupos. Quando alguém chega de fora e é apresentado a um agrupamento, costuma ser bem acolhido. Formam-se “famílias” que se frequentam em seus lares, nos bares e nas áreas públicas.

8) Brasília é uma bolha
O Plano Piloto pode até ser uma bolha, se visto pela homogeneidade das classes sociais que nele habitam. Mas Brasília, como aglomeração de suas cidades em volta, é a cara do Brasil das contradições. Temos a maior renda per capita. Temos uma das maiores favelas do Brasil.

9) Brasília não admite misturas
Brasília é a mistura. A construção foi um mix. O brasiliense legítimo é filho desse cruzamento de gente de todos os cantos.

10) Sou de Brasília. Você sabe com quem está falando?
A arrogância atribuída ao brasiliense é a mesma da classe média deslumbrada. Não é específico de Brasília. É do Brasil mal-educado, que ainda separa as pessoas pela conta bancária.

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