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Performances transformam Brasília na capital dos “malucos belezas”

Mostra XYZ espalha pelo Centro da cidade intervenções que quebram com o cotidiano pesado da cidade administrativa e dona das decisões do país

atualizado

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Sergio Maggio/Metropoles
1 de 1 - Foto: Sergio Maggio/Metropoles

A Brasília que o Brasil conhece cotidianamente é a das fachadas dos prédios monumentais, onde jornalistas posam diante das câmeras e narram notícias que, em sua maioria, deprimem os brasileiros. Por vezes, é a capital pesada que carrega o fardo de ser centro do poder e de todas as mazelas atreladas à gana de querer mais e mais. Esse lugar, simulacro da nossa cidade de carne e osso, vãos e gente misturada, foi posto de ponta-cabeça nesta semana, quando grupos artísticos ocuparam as ruas para provocá-la.

Provocados pela Mostra de Dança XYZ, coletivos e artistas se colocaram no caminho do cidadão brasiliense para deslocá-lo no tempo e no espaço. Na passarela superior da Rodoviária, que interliga dois dos mais movimentados centros comerciais (o Conjunto Nacional e o Conic), 12 performers chegaram lentamente vestidos de saias estampadas e brilhantes. Posicionaram-se e plantaram bananeiras num tempo que durou até o corpo cansar e dizer não.

Plantados no asfalto

Luciana Lara/Divulgação
A performance “Árvores”, de Clarice Lima (SP), deixou o fluxo humano fora da ordem. Quem passava de um lado para o outro, apenas para cumprir um trajeto, viu-se diante de situação inusitada: corpos humanos plantados no concreto quente (do meio-dia). As pessoas paravam, riam, fotografavam, filmavam e queriam entender o porquê daquela situação.

Aos poucos, alguns corpos caíam enquanto outros resistiam firmemente num exercício de força e equilíbrio mental. De repente, não eram mais humanos de pés ao alto. Transformaram-se em “troncos” que dialogavam com uma paisagem arquitetônica, até então livre e sem obstáculos.

A multiplicação dos mascarados
Sérgio Maggio/MetrópolesA estranheza de quem ficou diante dessas “árvores humanas” se aguçou no Setor Comercial Sul, quando uma “multidão” de seres humanos com sacolas na cabeça passou a circular por entre o vaivém de gente no horário de almoço. Eles estavam em todos os cantos. Era possível encontrá-los vasculhando as promoções, fazendo selfie, futucando o celular, lendo um livro ou simplesmente olhando a paisagem.

Sérgio Maggio/Metrópoles

“Sacolas na Cabeça”, criada pela coreógrafa Luciana Lara, do grupo Anti Status Quo (DF), provocou questionamentos de toda ordem. Como espécie de guia turística, Luciana Lara saiu com 54 sacolas em punhos para quem quisesse aderir ao movimento sem objetivo anunciado.

A ideia é que cada um pense o que quiser. O importante é provocar

Luciana Lara

Cérebro é cartão de crédito
Sérgio maggio/MetrópolesNão sobrou uma sacola sequer e, os motivos para usá-las foram os mais diversos: de protesto político ao simples ato de gargalhar desse jeito estranho de sair por aí. De repente, até os ambulantes estavam comercializando seus produtos com o rosto coberto. Teve gente que pediu a sacola e revendeu por R$ 1 para os desavisados.

“Sacolas na cabeça” fez uma crítica potente ao poder do dinheiro. Pôr a sacola na cabeça é como substituir o senso crítico pelo consumismo. É estampar o vazio de comprar, comprar e comprar na face. O cérebro passa ser o cartão de crédito sem limites e a sacola ícone da vida insaciável de ter e poder ter.

Mognos brincantes
Sérgio Maggio/MetrópolesPor ali, perto dos “sacolas”, estava também o grupo de pesquisa Corpos Informáticos, da inquieta Bia Medeiros (UnB), que fazia uma performance brincante e ecológica. Como se fosse carinhos de criança, os artistas arrastavam pedaços de uma madeira trazida de algum lugar da Amazônia.

Queremos apresentar o mogno à cidade grande

Bia Medeiros

Bambu meditação
Sérgio Maggio/MetrópolesNum espírito mais intimista, “Parquear Bando”, de Margô Assis (MG), colocou, no meio do caminho, das pessoas do Setor Comercial Sul, artistas com varas de bambu equilibradas na cabeça. Em passos lentos e desacelerados, os performers quebravam a energia nervosa do local numa quase posição de meditação. Promoveram momentos poéticos, quando encontraram um violonista de rua, tocando “Yesterday”, dos Beatles.

Acalmaram também agitados cidadãos em situação de rua que experimentaram a sensação de equilibrar o bambu na cabeça.

Brasília é surpreendente, visse! A cidade dos malucos belezas

Andreia

Fora os caretas
A proclamação contra a caretice feita por Andreia pulsou na performance “Politikus” (DF), dos artistas Ary Coelho e Luisa Günther. O casal estabeleceu um desfile antropofágico, carnavalesco, sexual e religioso no quase horário de rush da Rodoviária. O casal disse um não “às elites que não sabem ser povo” e ao país trancando e congestionado pela crise.

Luciana Lara/Divulgação

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