Vera Holtz é a rainha das redes sociais

Há quem profetize: Vera Holtz será a grande dama do teatro brasileiro de sua geração. A atriz não dá muita bola para esses desmanches de fãs. Ouve a honraria em silêncio, com respeito ao interlocutor. Tem consciência de que teceu uma carreira coerente e diversificada. No teatro, no cinema e na televisão, a intérprete é mesmo, como querem os fãs mais apaixonados, uma diva, que transita, com maestria, do drama à comédia, com um interlúdio brilhante no musical.

Agora, quer ver Vera Holtz perder a pose e se dobrar numa gargalhada? Acesse as redes sociais dela. Lá, a atriz arranca as vestes de dama, joga para o alto e seduz os internautas como uma moça que brinca, sem pudores, desnuda e de pés descalços. Uma amadiana “Gabriela”, intuitiva e virtual, que encanta e afeta milhares de seguidores numa plataforma que acaba de descobrir, mas que se desloca com rapidez e genialidade.

Quando fui instigada a entrar nas redes sociais, foi para trabalhar esse campo da performance. Não me interessava usá-las, por exemplo, para postar fotos antigas e saudosas da carreira. Sou do aqui e agora.

Vera Holtz

Diabo verde
O aqui e agora de Vera Holtz é o que emerge à flor da pele, como a foto “Carnaval 1/11”, postada nesta sexta-feira (5/2), que antecede à folia momesca. Na imagem, ela aparece com meio corpo caído sobre a mesa, numa épica ressaca e diante de um copão de bebida, supostamente da cor verde e com a inscrição “boldo”. Em poucos mais de quatro horas, quase 60 mil curtidas e 7,5 mil compartilhamentos no Facebook provocaram uma reação instantânea e típica das melhores performances.

Gosto de estar ali no meio deles. Uma gente jovem, antenada, que me entende. Alguns me comparam a Marina Abromovic (a rainha da performance). Tenho uma resposta imediata e sempre interajo. Estou ali misturada com eles, aprendendo e me renovando.

Vera Holtz

O que tem neste boldo?
No post “Carnaval 1/11”, os internautas brincam com a veracidade da cor verde e a suposta propriedade química da possível bebida. Quer parâmetro mais instigante para a arte do que o jogo entre verdadeiro e falso? A imagem abre um simulacro entre os internautas. Ou melhor intérpretes. Já que verde é a cor do absinto, do licor de menta, de uma famosa bebida brasiliense comercializada como água no Bar Beirute ou até do midiático suco verde detox.

Diante das mil janelas abertas, Vera se diverte e responde com uma série de emotions de “diabinhos sorrindo”. Pronto, a folia está oficialmente decretada. Em outro comentário, uma internauta, já íntima, pergunta: “Verinha, você gosta de carnaval?”. A performer atiça: “Conheço todos os ângulos dessa festa!”. Está aberta a algazarra!

As redes sociais me apresentaram para um novíssimo público. Senti claramente essa aproximação na série de “Coques”. Tudo isso me aproximou à minha formação original em artes plásticas e geometria.

Vera Holtz

Na série de imagens, Vera Holtz tem hits como a impagável “Árvore de natal” (112 mil curtidas e quase 20 mil compartilhamentos.

Há ainda os vídeos de minicontos com um projeto “Hora de Alimentar Serpentes”, com Marina Colassanti, que tem uma aceitação crescente com mais de 60 mil visualizações. E as campanhas que apoio, como em favor das trans. Tudo livre, espontâneo e sem patrocínio qualquer.

Shakespeare em Brasília

O sucesso na plataforma virtual é uma ponte para ficar diante do trabalho conceituado de atriz. De 11 a 13 de março, Vera Holtz desembarca em Brasília, no Teatro Unip, na imperdível superprodução “Timon de Atenas”, com 23 atores em cena.

Com tradução de Bárbara Heliodora, a peça é texto pouco conhecido do bardo Inglês e dialoga fortemente com o momento atual da política brasileira, no qual o poder se desfaz, como gelo, diante dos olhos da população. Com Patrocínio da Petrobras BR Distribuidora, a montagem tem preço popular (R$ 25 a inteira) e traz a atriz num papel masculino, numa interpretação de gênero neutro.

Tenho uma afetividade muito grande por Brasília. Recentemente, estive aí e fiz um passeio maravilhoso ao Itamaraty.

Vera Holtz

Nas passagens pela capital, há momentos memoráveis de Vera Holtz como as participações nas montagens dos irmãos Adriano e Fernando Guimarães sobre textos de Samuel Beckett. Quem viu Vera Holtz em “Balanço” sabe do potencial artístico dessa atriz sem rótulos e, agora, sem limites.