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Humberto Pedrancini é o bandeirante do teatro brasiliense

Série Teatro 061 destaca o papel desbravador do diretor que deslocou o eixo de produção do Plano Piloto para as cidades e reuniu amadores

atualizado

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Humberto Pedrancini
1 de 1 Humberto Pedrancini - Foto: null

O mestre Ary Para-raios tinha uma forma especial de se referir a Humberto Pedrancini. Chamava-o de “o bandeirante do teatro candango”. Nos anos 1970, quando assumiu à área de teatro do Sesc, o ator e diretor desbravou as regiões Norte e Centro-Oeste, onde não se sonhava levar a produção cênica do DF para intercâmbio.

Humberto Pedrancini tem um papel crucial no amadurecimento da cena teatral brasiliense. Ele mobilizou amadores, fez espetáculos de cunho político-social e quebrou a hegemonia do Plano Piloto como centro de criação. As montagens desse diretor são tão importantes quanto às de nomes mais cortejados pela mídia oficial da cidade.

O espetáculo “Capital Esperança” e a criação do grupo O Hierofante, com sede em Ceilândia, são apenas dois capítulos na história desse mineiro de Uberlândia, crescido em Goiânia, que veio para Brasília aos 22 anos, em 1972.

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Desde menino, Pedrancini já tinha intimidade com Brasília. Seu pai era um grande mestre de obras e ele vinha passar férias na cidade em construção desde 1958. Chegou à “capital da esperança” atraído por uma promessa de curso de teatro numa Universidade de Brasília (UnB), já desmantelada pela ditadura militar.

Vim porque passei no vestibular e pensava que o curso de cênicas fosse sair, mas nada. Na verdade, acabei participando, no primeiro semestre, de um pequeno grupo de teatro na universidade dirigido pelo José Bonifácio Galvão, que só assinava J.B. Galvão

Pedrancini

Foi ali que ele recebeu o inusitado convite para dirigir um grupo de teatro do Sesc, que precisava de um diretor. Ao lado de Maria Duarte, Pedrancini escreveu a história do Sesc no DF.

Tinha exercido uma liderança dentro de um grupo do qual participava lá em Goiânia. Mas eu precisava trabalhar e topei na hora. Corri atrás de livros, fui estudar, fui aprender. No Sesc, fiquei de 1973 a 1983

Pedrancini

O Sesc foi a universidade de Pedrancini. Além de dirigir, coordenava a criação de objetos de cena, figurinos e cenário. Ele inaugurou o Teatro Garagem com “Capital da Esperança” em 1978. Propôs uma nova forma de se fazer teatro, quando o elenco passou dois meses em pesquisa.

Não fiz teatro por pioneirismo. Fiz teatro por necessidade existencial, intrínseca de fazer

Humberto Pedrancini

Um dos principais grupos de teatro de rua do Brasil, O Hierofante é cria de Humberto Pedrancini nos anos 1990. Hoje, criador e cria estão independentes. O grupo já se apresentou nos Estados Unidos e na África, além de circular o país. Há duas peças marcantes: “A Rua É Um Rio Brilhante” e “O Auto da Camisinha”, ambas com forte influência de Pedrancini na criação.

“Esse homem de teatro é o responsável por colocar o teatro na rua, nas praças e feiras com cara própria, com atores e atrizes que sonhavam em chegar tão longe. Ele deu voz potente a periferia de Brasília por meio do teatro”, destaca Wellington Abreu, ator e diretor de O Hierofante

Pedrancini se destacou também como ator. Tem uma presença forte em cena. Participou da histórica montagem “Os Rapazes da Banda”, texto abertamente gay que movimentou a cidade no começo dos anos 1980. É um intérprete exuberante em cena. No monólogo “Escorial”, que fez por anos, mostrou a intensidade de ator. Um dos últimos sucessos foi “A História da Tigresa, vencedor do Prêmio Sesc Candango, de 2012.

Artista que tem a política como base estética, Pedrancini está envolvido em projetos que discutem questões urgentes. È um pesquisador de dramaturgias. Vive nas bibliotecas à cata de textos que representam pontos de discussões. Foge do puro entretenimento. É uma voz potente contra o descaso de governos com a política cultural. Um homem de teatro completo.

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