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Há duas décadas, mãe e filha escrevem, no palco, uma história de amor

Eliana e Naira Carneiro constroem, por meio dos espetáculos da Cia. Buriti de Dança-Teatro, uma relação artística de cumplicidade e profissionalismo

atualizado

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A maternidade mudou radicalmente a trajetória de Eliana Carneiro, uma das artistas mais respeitadas no Distrito Federal. Antes de trazer ao mundo a menina Naira, a bailarina e atriz estava mergulhada num inquietante trabalho experimental que misturava dança, música eletroacústica e uma pesquisa de movimento contemporânea.

Era uma trajetória intensa. Nos anos 1980, São Paulo caiu de amores por Eliana. No teatro, flertava tanto com a vanguarda trazida por Gerald Thomas quanto com o ritual carnavalizado de José Celso Martinez Corrêa. Traçava assim uma carreira aplaudida pelos especialistas.

Em 1987, ganhou o Prêmio de “Melhor Espetáculo de Dança da Associação Paulista de Críticos de Arte de São Paulo (APCA) pelos solos “Anada” e “Antígonos” (indicada como atriz ao Prêmio Shell).

Quando Naira nasceu, em 1989, voltei para Brasília direto dessas experiências. Minha gravidez mudou radicalmente meu corpo, minha dança e minha feminilidade

Eliana

Em torno da volta de Eliana à capital, havia um interesse artístico grande por conta dessas experiências. No primeiro Cena Contemporânea, de 1995, ela foi convocada a criar. Fez “Bamboo”, um espetáculo pesquisa de teatro-dança. Naira tinha seis anos e assistia aos ensaios, encantava-se com os movimentos. De repente, Eliana a flagrou escolhendo os figurinos dela.

Ela que escolheu entrar em cena. Ser atriz comigo. Desde quando ela era pequena, eu tinha essa relação lúdica de contar histórias multiculturais e míticas, de inventar línguas e mundos

Eliana
“O Marajá Sonhador”

Desde aquele momento, Mãe e filha não se separaram mais dos palcos. Seguiram encantando plateias em Brasília com espetáculos genuínos. “O Marajá Sonhador”, uma das montagens míticas da dupla, atraía curiosos na plateia. Era comum ouvir alguém exclamar. “Olha, a filha de Eliana, que atriz linda está se tornando”.

Ela me deixou livre para trabalhar. Mas não foi fácil. Ela é forte em cena, tem aquele olhar e um trabalho corporal impressionante

Naira

Em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com “Kalo – Os Filhos do Vento”, mãe, filha, amigas, companheiras de cena, atrizes, cúmplices e criadoras se misturam numa parceria que já atravessa duas décadas.

Sempre quis que ela pudesse manter esse jeito moleca dela, sempre dei liberdade para dançar como quisesse, cantar o que quisesse. Ficamos juntas em cena por escolha nossa. Não sei explicar. Acho que é mesmo um amor antigo

Eliana

À Cia. Os Buriti Teatro de Dança, Naira apresentou a Eliana a sua pesquisa sobre música popular. Ela pesquisa sons tradicionais como o pife, território desconhecido da mãe historicamente ligada à música contemporânea.

É uma sintonia, uma cumplicidade. Uma começa a criar, a outra continua e não se sabe mais de quem é a autoria. Nesse espetáculo “Kalo”, estamos também com meu filho Guian, que fez muito teatro com a gente e, agora, é sombrista

Eliana

É uma honra estar em cena com minha mãe, um aprendizado infinito ter a possibilidade de contato tão próximo na criação com uma artista do porte de minha mãe, que acumula tantas experiências em tantos lugares, admirada e louvada por tanta gente

Naira

E quem já viu Eliana Carneiro dançar sabe do que Naira está falando.

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