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Em 1960, lavadeiras de Taguatinga enfrentaram o governo com porretes

O motivo foi a bomba d´água do acampamento, que seria retirada para regar uvas da residência do prefeito, Israel Pinheiro

atualizado

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A água sempre foi um bem em risco no Distrito Federal. Na construção, uma revolta de mulheres no acampamento da Novacap, em Taguatinga, colocou o poder em xeque. Era 1960 e havia uma escassez de equipamentos para dar conta de tanta obra. Na Granja do Ipê, onde morava o então prefeito, Israel Pinheiro, faltou uma bomba d´água para regar a parreira. Alguém lembrou que no acampamento tinha uma e não se pensou duas vezes. Afinal, os operários valiam bem pouco para os homens do poder.

A bomba abastecia os tanques, os chuveiros e as torneiras das famílias em seus barracos ditos como provisórios, pois havia a falsa promessa de que todos teriam um apartamento no Plano Piloto. Numa noite, a água secou. Dona Josefina Rocha Orlando saiu para ver o que aconteceu e encontrou homens da Novacap retirando os canos de PVC. A cobiçada bomba seria desmontada na manhã seguinte.

Ela não pensou duas vezes. Saiu pelo acampamento convocando as mulheres e, como um rastilho de pólvora, o movimento se acendeu. Quem tinha dado a bomba aos moradores foi dona Sarah Kubitscheck numa reivindicação das lavadeiras. Havia um pertencimento e a retirada para regar as uvas da Granja do Ipê foi vista como uma espécie de roubo.

A maioria das mulheres decidiu fazer vigília. Alguém teve uma ideia de pegar porretes e formou-se um motim. No dia seguinte, chegou o funcionário da Novacap para desmontar a bomba e as mulheres o enfrentaram. Ele resolveu avançar sobre elas, saiu com alguns hematomas e teve a caixa de ferramentas confiscada.

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Na sequência, uma unidade da temida GEB (Guarnição Especial de Brasília) veio e encontrou as mulheres em pé de guerra. Naquele momento, havia um medo do poder do Distrito Federal em gerar escândalos de violência contra os candangos.

Parte da imprensa nacional travava uma guerra contra a construção de Brasília e os maus-tratos aos operários eram um prato cheio.

Diante da resistência feminina, os policiais recuaram e saíram expulsos aos gritos de “essa bomba é nossa”. As mulheres controlaram o acampamento. Algumas dissidentes que queriam lavar roupa em outros lugares foram impedidas. Elas estavam unidas e dispostas, inclusive, a procurar a imprensa.

Quando soube do motim, o senador Auro de Moura Andrade, que apoiaria com o golpe militar em 1964, anunciando a vacância do cargo de presidente da República João Goulart, mandou um assessor ao local e levou um grupo de mulheres para o Congresso. Lá, entrou em contato com Dona Sarah Kubitschek e garantiu o direito de posse da bomba.

O caso das lavadeiras de Taguatinga só não caiu no esquecimento porque virou um curta-metragem: “Taguatinga em Pé de Guerra”, com direção de Armando Lacerda.

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