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Obituário: Dimer Monteiro, um amante da arte que inquieta as plateias

Intimamente ligado a cena brasiliense, Dimer Monteiro fez teatro de resistência buscando autores que dialogassem com o que pensava sobre a vida

atualizado

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dimer monteiro
1 de 1 dimer monteiro - Foto: Reprodução/Facebook

A ultima vez em que encontrei Dimer Monteiro ele estava passeando pelos corredores do Conjunto Nacional. Não faz muito tempo. Contou-me que estava triste com o desenrolar da vida e que queria muito voltar a atuar.

Como diretor-dramaturgo, tinha pensado em ter Dimer Monteiro no palco, mas ele tinha se tornado um destacado curador nacional, sem muito tempo para a rotina de ensaios. Quando eu e Juliana Drummond discutíamos o espetáculo “Desbunde” (eu fiz o roteiro, ela dirigiu), Dimer era o nome que vinha à cabeça, com corpo cheio de glitter e maquiagem exuberante (a boca vermelha sensual, como cantarolava uma das canções da trilha).

Não deu certo porque Dimer tinha mil compromissos na época com o Cena Contemporânea, festival no qual foi curador e cruzou o mundo atrás de boas montagens.

O Cena foi uma grande escola

Dimer Monteiro

Dimer está intimamente ligado à formação do novíssimo teatro de Brasília. Nos anos 1970, fez teatro de resistência buscando autores que dialogassem com o que pensava sobre a vida. Um dos maiores sucessos foi a montagem de “Os Rapazes da Banda”, uma ode à repressão gay que provocou frisson na capital careta de 1982, como ele costumava dizer. os olhos de Dimer brilhavam quando falava desse espetáculo.

Era um loucura. Quando vi “Desbunde” por diversas vezes, lembrava-me de “Os Rapazes da Banda”. A loucura do público reprimido, nos anos 1980

Dimer Monteiro

Político e amante da arte que inquieta as plateias, Dimer Monteiro era um observador da cena teatral brasiliense. Quando me viu como diretor à frente de “Eu Vou Tirar Você Deste Lugar — As Canções de Odair José”, me levou pro canto, abraçou-me e me deu um conselho:

“Você tem um frescor nos olhos e a mão doce como diretor. Vejo isso na cena. Siga sem achar que você é o tal. O mal dos diretores de Brasília é acreditar que estão acima do palco, como semideuses. Curve-se ao ator”.

Sigo com essa imagem de um Dimer que torcia por muitos e ria de si mesmo. Era um mestre, um doce amigo.

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