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De qual Brasília Faustão está falando: a luz ou a sombra?

Apresentador recebeu críticas após falar que humorista Welder era das “poucas coisas boas” da cidade

atualizado

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Domingão do Faustão
1 de 1 Domingão do Faustão - Foto: null

Quem mora em Brasília sabe que se caminha entre abismos. Em cada lado, localiza-se uma cidade. Uma de carne, osso e concreto. Outra de maracutaias, alcovas e acordões. No meio, há uma vala de rio apodrecido, morto. É possível viver sem sentir esse odor fenestro. Dá para banhar os pés em toda essa sujeira. Depende de quem transita, de suas escolhas.

Não era para ser assim. Mas, um dia, a capital do poder rasgou-se do solo da cidade capital, como uma Pangea que se fragmentou.

Globo/Caiuá Franco

 

Nesse domingo (18.12), Fausto Silva fez uma pequena confusão: associou o artista Welder Rodrigues (foto acima) a Brasília renegada por todos nós, brasileiros e brasilienses. É um erro comum. Nada mais que isso. Não crucifiquem Faustão.

Não adianta dizer mais que os brasileiros mandam para cá os políticos da pior estirpe porque nós produzimos escândalos políticos Made in Cerrado. Está aí a Operação Drácon. Estão ali, no Congresso, os parlamentares eleitos com o voto do brasiliense, a maioria votando hoje contra o povo.

Negar essa contradição é correr o risco de seguimos cegos em nossa pecha de injustiçados

Para anularmos a Brasília banda podre, é preciso admiti-la, combatê-la, contestá-la. Habitá-la com pessoas que amam a Brasília cidade-cidade. É preciso entender essas duas Brasílias, luz e sombra.

A cidade-luz:

Divulgação
Pipo e Welder divertindo-se na Brasília cheia de arte

 

A que funciona de segunda a segunda com suas peculiaridades climáticas e arquitetônicas.

A cidade-pomar, onde catamos mangas suculentas na grama e andamos pelas quadras como se estivéssemos em bosques.

A cidade-flor dos ipês coloridos que marcam a complexidade da seca e transformam o solo em tapetes coloridos onde corremos como criança.

A cidade-sonho, arquitetônica e desenhada na pranchetas, única no mundo como Patrimônio da Humanidade pela sua ousadia de traçado.

A cidade-sotaque, misturada de gente de todos os cantos do mundo, que se olhou enamorada, apaixonou-se e gerou as primeiras gerações de brasilienses.

A cidade-qualidade de vida, aquela que crianças passam a infância soltas entre seu verde-liberdade e o seu céu-vida. A cidade que estuda, especializa-se, que inventa e produz conhecimento numa das melhores universidades do país, a UnB.

A cidade-arte, com esculturas entre os vãos dos monumentos, que atrai e forma artistas múltiplos, que, de tempos em tempos, mostram ao Brasil o quão Brasília é sonho e profusão de música, cinema, teatro, artes visuais e literatura.

A cidade-sombra:

DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO

A que funciona de terça a domingo, no Congresso Nacional, sede do poder Legislativo, desgastado, desacreditado, natimorto, formado por uma geração de políticos falida, corrompida em sua maioria, que se esconde por apelidos bizarros em listas de propinas.

A cidade-poder que não emana do povo e não é feita para o povo, que é capaz de montar esquemas mafiosos de subtração do dinheiro público.

A cidade-conspiradora, que quer retirar direitos adquiridos, retardar o tempo de aposentadoria, congelar verbas para o ensino e a saúde.

A cidade-escárnio, que ri do brasileiro-cidadão, aquele que luta diariamente para se manter em pé.

A cidade-abutre, formada por políticos (daqui e de todos os cantos do Brasil), que querem devorar o que veem pela frente.

A cidade-morta, que vaga como um fantasma de sexta a segunda, numa barca da morte, assustando o Brasil.

Entre uma e outra, seguimos atentos e fortes, torcendo para que a Brasília futura seja uma só, formada por incontáveis Welders e políticos que nos honrem

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