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Com saudade da roça, aposentado cria galinhas em praça de Samambaia

Há 20 anos, seu Delmiro Silva Pereira cria aves numa praça onde plantou um pequeno pomar, com manga, mamão, laranja e limão

atualizado

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Seu Delmiro
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Há um pedaço de “roça” em frente à casa de seu Delmiro Pereira da Silva, 75 anos, na quadra 408 de Samambaia. Ele abre o portão e galinhas, galos e patos se aproximam como velhos amigos. Há 20 anos, ele mantém aves numa praça que ajudou a arborizar. Ali plantou algodão, laranja, limão, manga, mamão. São mais de 20 árvores nesse “pomar” particular, que atrai curiosos.

Sérgio Maggio/Metrópoles

Os meninos vêm aqui. Acho que para ver uma galinha de verdade. As mulheres pegam o algodão para curar os cortes

Seu Delmiro

Seu Delmiro cresceu com as galinhas de verdade. É garoto da roça. Acordava com os galos para dar conta do dia longo de labuta. Lá em Correntina, na Bahia, vivia cercado pelos bichos e plantas. Quando o tempo fechou e o direito faltou, veio sozinho para Brasília, numa coragem que só ele sabe como plantou no peito. Foi difícil deixar para trás a terrinha. Chegou aqui em 1974. Aos poucos, trouxe a família. Hoje, grande. São cinco filhos e 10 netos.

Cheguei aqui e fui empurrar carrinho de mão nas obras. O que fazia na roça não tinha serventia nenhuma pra Brasília

Seu Delmiro

A vida foi dura. Foi morar num barraco em Taguatinga, numa lonjura sem fim. Aos poucos, foi aprendendo os ofícios nos canteiros. Construiu muitas habitações populares (as chamadas casas em X) nas cidades. Sonhava em ter uma. Um dia, descobriu que poderia ser vigia. Sempre teve os olhos abertos para a vida.

Assim consegui o emprego na Fundação Educacional e soube o que era um salário

Seu Delmiro

A casa em X com vista para o pomar que criou tem 30 anos. A família já estava formada. Veio num programa de assistência social. Quando chegou em Samambaia não tinha nada. Só aquele terreno vazio em frente. Não pensou duas vezes. Botou a mão no chão, cavucou, plantou, semeou e encheu o chão de galos, galinhas e patos.

Tudo feito com minhas mãos. É minha alegria

Seu Delmiro

O pedaço de roça de seu Delmiro é uma viagem no tempo. Tem banquinho na porta e água gelada para quem passa. As garis matam a sede. Seu Delmiro as chama de “meus bebês”. Os vizinhos também se aconchegam. Trazem comidas para as aves. Sentam e proseiam.

No fim da tarde, cinco horas, galos, galinhas e patos fazem fila e entram para o quintal. Joaquim, um dos filhos de Delmiro, cresceu vendo essa cena.

Os galos cantam duas vezes na madrugada: às 2h30 e às 5h. Ninguém acorda porque tá todo mundo acostumado

Joaquim

No quintal, tem ovos. Dificilmente, uma galinha vai pra panela. Morrem de velhice ou de sequestro-relâmpago.

Já teve vizinho que roubou uma galinha, um pato. Depois, aparece aqui dizendo: Delmiro, fiz uma galinhada

Seu Delmiro

Sérgio Maggio/Metrópoles

As aves não têm nome. A galinha preta é galinha preta. O galo baiano, galo baiano. Ela é a mais velha e paparicada. Tem oito anos. Ele, pomposo, veio de Correntina.

E essa praça tem nome?

Tem não. Põe aí: a Praça da Alegria

Seu Delmiro

Duas vezes por ano, Seu Delmiro pega a estrada e mata a saudade.

Mas de Brasília não saio mais. Estou aposentado e, enquanto puder, vou levando essa vida de dar milho aos bichos

Seu Delmiro

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