metropoles.com

Nutrir uma imaginação tóxica é limitar as chances de uma vida melhor

De nós mesmos, inclusive. As vozes da imaginação podem ser tiranas, impiedosas. Levam-nos aos nossos mais brutais cenários, os filmes de terror que mais tememos vivenciar

atualizado

Compartilhar notícia

iStock
cérebro ideia homem
1 de 1 cérebro ideia homem - Foto: iStock

Ah, a nossa cabecinha… A ela, tudo devemos. Nela, entretanto, encontramos nossa perdição. A capacidade de produzir realidades irreais é o grande trunfo do homem. Poderia ser o mote de compreensão para tudo aquilo que é intangível – como acontece no campo das artes. Mas, quase sempre, optamos pelo esporte: o esforço para mostrar a capacidade que temos de ir além daqueles que elegemos como oponentes.

Nisso, falas ganham interpretações. Silêncios também. Desconfiamos, argumentamos, brigamos e fazemos as pazes – tudo isso somente ali, solitariamente, da santa cabecinha. Assim construímos mitos entre nossos semelhantes, engrandecendo-os. E condenamos os que surgem como opositores. Criamos, criamos muito. E não nos damos conta do peso das nossas fantasias.

Silêncio gritante
Elas não estão ali por acaso. Quando associamos uma determinada crença a um determinado contexto, e dali tecemos prospecções, buscamos dar algum sentido àquilo que nos surpreende. Temos uma dificuldade imensa de suportar o que não tem explicação – para atenuar essa angústia, fabricamos pressupostos, alegações, justificativas.

O mais absurdo é que, muitas vezes, produzimos mais provas para a condenação que para a absolvição. De nós mesmos, inclusive. As vozes da imaginação podem ser tiranas, impiedosas. Levam-nos aos nossos mais brutais cenários, os filmes de terror que mais tememos vivenciar.

E assim, para evitar o sofrimento, antevemos finalizações. Apressamo-nos diante do destino, que quase nunca se efetiva da forma imaginada. Vou jogar isso fora antes que nos gere problemas, pensamos. E assim nos livramos das oportunidades que tanto ansiamos, antes mesmo que elas gerem efeitos, positivos ou negativos.

Ou seja, tornamo-nos ao mesmo tempo o bebê no berço e a fada ingrata, que o amaldiçoa. Garimpamos ricos fatos que validem essas histórias. E esquivamos da pergunta, toda vez que ela se apresenta: você gostaria realmente que tudo isso fosse diferente?

Costumes nocivos
Nossa imaginação tem uma terrível aliada: o comodismo, uma preguiça para desconstruir realidades. Nossa pauta tende a acompanhar o já vivenciado, visualizado, temido. Estamos acostumados com nossas dores, e tememos que as próximas doam mais, ou doam de forma diferente.

Tudo isso nos acovarda, e assim evitamos ter por medo de perder – eis o contrassenso: como perder o que já não temos?

De fato, só nos temos a nós próprios nesta vida. E isso, para muitos, é muito pouco. Imaginamos francamente redutos exteriores de felicidade. Sabemos bem dos nossos inimigos, declarados e inconfessos. Superestimamos o poder que têm sobre nós, enquanto nos vemos fracos e indefesos.

O mau pensamento age como veneno de aranha. Se não for inoculado em tempo hábil, corrói de dentro para fora. O mundo só sinalizará uma destruição já concretizada, e só poderá agir com aqueles que aceitam antídotos.

Há, porém, aquele que aprendeu a viver intoxicado, cujo sangue depende do veneno para circular. Mas que, devido à própria peçonha, esteriliza outras peçonhas. Seria injusto querer livrá-lo da única forma que encontraram de defesa.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?