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Evitar notícias ruins não nos leva a um mundo melhor

Quando lidamos com a existência desta e de outras formas de violência, entendemos por que o ser humano precisa de limites

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1 de 1 mulher leitura oculos ilustração medo notícia - Foto: iStock

Foi num grupo de WhatsApp que uma amiga pediu licença para desabafar. Estava estupefata com reportagens de prisão de um grupo envolvido com pedofilia. Narrativas falam da troca de imagens de bebês sendo abusados. Sensível e mãe de um garotinho, foi recomendada por outros integrantes a evitar tais notícias.

E esse acaba por ser a medida mais adotada quando nos deparamos diante daquilo que renega os valores básicos da humanidade. Olhar para o lado, fechar os olhos. Mas, no íntimo, algo nos chama a entreabrir os olhos e observar a situação, para algo além da curiosidade tétrica.

Quando lidamos com a existência desta e de outras formas de violência, igualmente abomináveis, entendemos por que o ser humano precisa de limites. Regimentos, leis, mandamentos e dogmas são instrumentos que criamos para que nos defendamos de nós mesmos.

“O que sai do coração do homem é o que o torna impuro”, como assinala o Cristo, leva-nos a pensar que também somos habitados por aquilo que nos assombra.

Nossa natureza compõe o belo e o feio, o bom e o mau, a luz e a treva. Identificamo-nos mais com o pólo positivo, o que é natural. Mas é justamente da negação do negativo que nos habita que emergem as atrocidades que compõem o noticiário.

A sensação de ressaca que vem quando se entra em contato com tais conteúdos deriva justamente disso. Nossa energia é drenada para os porões do inconsciente, do desconhecido em nós, despertando esse estado melancólico, desvitalizado. Quanto mais sensíveis e impressionáveis, mais afetados ficamos.

Assim, conhecer o lado mais sombrio da existência é imprescindível para que aprendamos estratégias de defesa. Nisso, não concordo com a recomendação de evitar tais conteúdos. Uma coisa é alimentar-se deles (o que é nocivo), outra, é ignorá-los.

Não é à toa que o mal esteja associado a uma erva daninha. Ele nasce na fantasia e potencializa-se enquanto não é encarado como uma parte de nós. Ganha dimensões desproporcionais, inimagináveis. Tanta força que, quando tiver uma oportunidade, será convertido em experiência concreta: encontraremos o mal que tanto tememos.

Esta é a razão de explorarmos certas fantasias em análise: num ambiente seguro, o nosso lado perverso precisa ser identificado, reconhecido, nomeado, debatido. Assim, poderá ser compreendido e esvaziado.

Por esse motivo, somos tão curiosos às problemáticas humanas, seja no noticiário ou na ficção. A violência, a dor, a segregação… Quando observadas a certa distância, temos a chance de experimentar os afetos por elas despertados “em doses homeopáticas”, ou seja, capazes de atenuar do impacto original de uma vivência.

Enquanto denunciam o que há de pior em nós, também despertam o mais nobre dos sentimentos: a empatia. Acessamos as nossas referências de sofrimento para compreender como o dano atravessa o outro. E assim aprendemos a aceitar e a lidar com as bestas que carregamos em nosso íntimo.

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