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Às vezes é necessário dar um tempo das coisas. Experimentei isso agora

Tirei um tempo do celular, das conversas vãs, dos estímulos vazios do mundo e também das chateações cotidiana

atualizado

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viagem turismo solidão sozinha
1 de 1 viagem turismo solidão sozinha - Foto: iStock

Às vezes é necessário dar um tempo das coisas. Experimentei isso agora, depois de passar 20 dias de férias, isolado de tudo. Um tempo do celular, das conversas vãs, dos estímulos vazios do mundo. Um tempo do que e de quem amamos. E também das chateações cotidianas.

Nesse período, pude reciclar o significado do silêncio – logo eu, sempre tão inundado por palavras, faladas e escritas. Percebi que as coisas mais bonitas, o que verdadeiramente vale a pena, resguarda-se no que não pode ser dito. Somos pobres em expressão, por isso queremos tanto falar.

Dar um tempo das atitudes também foi muito simbólico. Entender o ritmo das coisas, o quanto estamos despreparados para agir naturalmente. Trocamos o relógio da vida pelos critérios sociais. Origem, essência, interior: significados que o mundo trata de embaralhar sob o argumento do progresso.

Ir dormir quando o corpo pede. Ouvi-lo também para saber a hora de despertar. Entender que não fazer nada não é perda de tempo. Concentrar-se nas atividades disponíveis, por mais banais que possam parecer ser. Estar presente, aqui e agora.

Fazer do que parece simplório um ato grandioso. Alimentar-se com reverência ao que come, a quem prepara o alimento. Aceitar o que está no prato. Descobrir novos sabores, desacostumar-se de outros. Encontrar o gosto da água, o valor do sal.

Pensar menos. Esquecer-se de pensar, de avaliar, de interpretar. Difícil pra caramba, especialmente para quem vive disso, como eu. No começo, sentimos um estranhamento, como se todo o intelecto cultivado fosse se esvair. Depois, torcemos para que o excesso escoe.

E, quando tudo parece calar dentro de si, o olhar se transforma. Deixa de buscar respostas em tudo que vê e simplesmente entende que as coisas são o que são – e que esse é o correto. Perdemos o impulso besta de achar que devemos transformar o outro no que idealizamos. Rimos, até, das nossas idealizações.

Não precisei ir ao Nepal, ou fazer caminhadas intermináveis seguindo gurus, para viver tudo isso. No fundo, esse foi o grande ganho: perceber que essa conquista não passa de um estado de espírito, independente das circunstâncias.

Não voltei iluminado, não me considero uma pessoa melhor ou superior. Minha experiência serve somente a mim – e nunca isso fez tanto sentido. Mas parece que estou mais conciliado com o tempo das coisas – mais distante do passado, menos ansioso pelo futuro. Ao menos por enquanto.

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