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A culpa é da mãe e do pai. Mas a responsabilidade de viver bem é sua

As relações parentais têm grande influência na definição daquilo que somos

atualizado

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1 de 1 família maternidade paternidade pai mãe filho - Foto: iStock

Já tive clientes que desistiram do processo da análise quando começaram a questionar figuras, até então, maravilhosas. Não queriam apagar a imagem heroica, cuidadosamente lapidada, que atribuíam aos pais. Sentiam-se culpados, pecadores.

Também atendi pessoas que estavam no extremo oposto: lastimaram, por anos a fio, a família à qual pertencem. Atribuíam todo o insucesso que viviam àquilo que receberam em casa.

Com ambos os casos, agi como advogado do diabo. Ou seja, como analista, tomo partido de quem é acusado. E assim ajudei a destronar mães e pais perfeitos – e mostrar o quão são humanamente falhos, e, até mesmo, fieis contribuintes para as queixas dos meus clientes.

Em outros casos, pude mostrar como as queixas depositadas sobre pais soavam como uma autoindulgência rasteira, uma forma de transferir responsabilidades como estratégia infantil de evitar o compromisso com a vida.

O meu lugar em casa
De fato, as relações parentais têm grande influência na definição daquilo que somos. Aos que não nutrem a reflexão, será determinante: tenderemos a agir em correspondência direta aos scripts ditados pela família. A vida será apenas uma tentativa de atender os papeis e expectativas que nos são projetados, ou então de fugir dessas atribuições.

A companhia dos pais não cessará nem mesmo após a morte dos mesmos. O olhar repressor, a queixa manipuladora, as medidas de boas maneiras, o adjetivo incapacitante… Quem está sob esse enfado nunca está só: é como se, a cada passo, estivesse em constante avaliação dessas imagens parentais. Dita quem devemos ser, o caráter que devemos assumir, quais frustrações devemos reparar. É uma verdadeira maldição.

É libertador entender que nem toda herança que nos é oferecida precisa ser validada. Os pais tendem a transferir aos filhos aquilo que gostariam de ter vivido, mas não puderam. É uma pena, mas não somos os responsáveis pelas escolhas que fizeram, nem pelas circunstâncias que tiveram de enfrentar. A eles, uma constatação: a vida é limitada – e essa lei estava escrita antes mesmo do nascimento dos nossos ancestrais mais remotos. Conformemo-nos com isso.

Desenvolva-se
Cada ser humano tem pleno direito à individualidade. Isso significa que a ele é conferida a chance de desfrutar daquilo que é em sua essência. Seja isso semelhante ou contraditório ao que foi esperado pelos seus pais. Nem sempre isso é possível, justamente porque nenhum escravo é capaz de servir a dois senhores. Nesse caso, privilegie a alma – a sua, não a deles.

Desenvolver a consciência tem como pressuposto aprender a diferenciar-se do meio no qual está inserido. Em geral, a família é o ponto de partida. Não para transformar esse exercício em um muro das lamentações – acho improdutivo e enfadonho. Mas para que possamos perceber que a influência que nos foi transferida deverá ser encarada como uma referência. E que posso angariar outras referências ao longo da vida. Muitas vezes, até bem mais saudáveis que as originais.

Assim sendo, não precisamos encontrar justificativas e culpados para nossas angústias e limitações. Nossos pais são, e foram, somente aquilo que conseguiram ser.

Assim como nós, diante da vida e dos nossos filhos. Amadurecer depende de uma postura reverente à nossa origem, mas assumida com desprendimento. Se permanecermos ancorados ali, jamais conseguiremos seguir em frente, traçar nosso próprio caminho.

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