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O céu de Rubem Valentim: exposição do artista encerra neste domingo

O artista baiano tem obra marcada pelos símbolos africanos

atualizado

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Bernardo Scartezini/Metrópoles
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1 de 1 abre1 - Foto: Bernardo Scartezini/Metrópoles

Entrando nos últimos dias de exibição na Caixa Cultural, até este domingo (28/5), a mostra “Construção e Fé” vale como um reencontro e uma descoberta. Podemos ali conhecer um pouco mais de Rubem Valentim, antigo amigo a quem já admirávamos, sujeito que viveu aqui em Brasília sua plena maturidade artística.

Rubem Valentim (1922-1991) é ainda um tanto maior do que percebíamos. Tão grande que, mesmo encolhido dentro da Galeria Vitrine da Caixa Cultural, ele não se permite domesticar. Mesmo embalada dentro de um espaço tão controlado quanto uma galeria institucional, sua obra não perde a força que lhe é imanente.

Nascido em Salvador e criado numa família católica, Rubem Valentim logo encontraria o candomblé. A miscigenação de raças e o sincretismo de crenças, que têm na Bahia seu cadinho mais fumegante, seriam dois elementos constituintes do povo brasileiro em geral — e do imaginário de Valentim em particular.

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Ao longo de toda a carreira, meados da década de 1950 até a virada para os anos 1990, Rubem Valentim não abandonaria jamais o simbolismo de origem nos rituais africanos. Um trabalho circular girando em torno de signos religiosos, deslocados e reordenados numa espécie de ideograma particular. Um desenho recorrente a que o próprio Valentim chamava de “riscadura brasileira”.

Uma riscadura que cortava suas telas em tinta acrílica ou óleo como se aspirassem dali saltar — o que de fato aconteceu — e hoje parece mesmo inevitável que tenha acontecido. Esta exposição “Construção e Fé” se prova rica justamente ao compreender pinturas, relevos e esculturas num mesmo gestual.

No texto que dá conta da mostra, o curador Marcus de Lontra Costa acredita que os anos de Rubem Valentim passados em Brasília foram definitivos para a espacialidade que sua obra ganhou. Assim ele escreve.

“A paisagem horizontal do cerrado, a imponência do céu repleto de luz e nuances cromáticas, a clareza do plano urbanístico e a operística arquitetural de Niemeyer sem dúvida colaboraram para reforçar elementos simbólicos e monumentais na obra do artista. Nesse sentido, Valentim encontra na cidade o seu terreiro.”

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Rubem Valentim morou em Brasília entre 1966 e 1989. Vinha de uma temporada em Roma, quando foi celebrado por seus pares e por figuras eminentes como o historiador da arte Giulio Carlo Argan. Aqui na cidade, Valentim chegou a ser professor da Universidade de Brasília (UnB), mas logo acabou escanteado pelo regime militar, como outros tantos.

Embora tenha formado em Brasília ao menos um par de gerações de artistas, ele jamais conseguiu se inserir no panteão da arte oficial brasiliense. Para o bem e para o mal, Valentim não pertence ao cânone distrital, de Oscar Niemeyer e Athos Bulcão.

Desfeitas que o fizeram se mudar, nos últimos anos de vida, para São Paulo, carregando suas mágoas. Armou seu ateliê na Rua Pamplona, a poucos quarteirões da Avenida Paulista. E foi naquela cidade, diante da Catedral da Sé, que Rubem Valentim conseguiu erguer sua mais imponente obra pública. Uma escultura de nove metros de altura, feita em concreto aparente, aspirando tocar o céu.

Bernardo Scartezini/Metrópoles
Estudo para monumento na Praça da Sé, São Paulo (década de 1980): madeira crua recortada

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