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Artista brasiliense Gê Orthof expõe obra nos Estados Unidos

A instalação “Pasaquan, a Primeira Carta” concilia o imaginário de St. EOM com a poética de Orthof

atualizado

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John Michael Kohler Arts Center/Divulgação
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1 de 1 georthof - Foto: John Michael Kohler Arts Center/Divulgação

Gê Orthof está cheio de histórias para contar. Mais uma vez. Histórias de uma terra distante, que ocupam sua cabeça, seus olhos e seus sonhos. Como antes ocupavam as fábulas de Hans Christian Andersen, lidas por sua mãe, quando ele ainda era criança.

Embalado por um suco de chuchu fresquinho, batido esta manhã no liquidificador, e seguindo o ritmo de uma ária de ópera, que calhou de brotar do shuffle de seu computador, Gê Orthof toma fôlego e começa a nos falar sobre a vida de Eddie Owens Martin…

Nascido em uma família de lavradores, na zona rural de Buena Vista, Georgia, Sul dos Estados Unidos, Eddie cresceu sob a ameaça constante de um pai ignorante e superviolento. Escondida por medo do marido, a mãe ensinou o filho a ler. No episódio decisivo dessa criação, o cachorro da família fugiu e passou um tempo na casa de uma família negra vizinha. Quando o animal voltou, foi morto a pauladas. O pai alegou que o bichinho de estimação trazia com ele “os espíritos ruins”.

Em suas memórias, Eddie conta que só esperou ganhar a primeira calça comprida para fugir de casa. De calças curtas, rapidamente a polícia o levaria de volta. Assim, aos 14 anos, Eddie pegou a estrada. Foi bater em Nova York. Virou michê no bairro boêmio do Village, anos 1930, onde se interessaria por poesia e aprenderia a ler as cartas de tarô.

Após a morte do pai, ele ainda descia a Georgia anualmente para ajudar a mãe na colheita. Até que, como todo escolhido, Eddie teve a sua revelação mística particular. Durante uma forte crise de febre, três seres alienígenas repetidamente o instruíram a voltar para a Georgia e ali erguer Pasaquan. Assim foi feito.

A partir da casinha branca de madeira, onde passou a infância e ainda morava a mãe, Eddie Owens Martin (1908-1986) levantou Pasaquan em cimento maciço, durante um par de anos, em meados da década de 1950. Ali atendia os clientes interessados em tarô, mantinha uma plantação de maconha para fins comerciais e também se apresentava, numa pequena arena de terra batida, como Saint EOM. Com guizos, peles de animais, roupas coloridas e turbantes de seda.

Após a morte de St. EOM, o único praticante dessa mui peculiar seita pagã, Pasaquan foi meio que adotada por moradores de Buena Vista. Mas lentamente foi se degradando. Até que, há um par de anos, a terra entrou nos radares da Kohler Foundation, entidade do Wisconsin, dedicada a restaurar espaços que foram fundamentais para a arte norte-americana.

E parte do trabalho da Kohler se desdobra em exibições de artistas contemporâneos, em sua sede na cidade de Kohler, Wisconsin, reverberando temáticas e linguagens desses espaços restaurados. E assim chegamos a esta mais recente aventura de Gê Orthof.

O convite para Gê Orthof partiu do curador Jonathan Frederick Walz. O trabalho do artista brasileiro chamou a atenção do curador americano pelo Instagram e, após descobrirem um interesse em comum pela poeta Elizabeth Bishop, os dois vinham cultivando afinidades de parte a parte. A primeira oportunidade de trabalharem juntos surgiu graças à bênção de St. EOM.

Em cartaz da última semana de janeiro até a primeira semana de maio, no John Michael Kohler Arts Center, a instalação “Pasaquan, a Primeira Carta” concilia o imaginário de St. EOM com a poética de Gê Orthof. A obra foi gestada ao longo dois meses, entre Brasília e Estados Unidos. Nesse sentido, a visita de Gê a Pasaquan, em novembro, teve caráter iniciático.

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Primeiro, um choque de energia bruta. Depois, um refinado trabalho intelectual e afetivo que pudesse desbastar aquele primeiro sentimento em algo inteligível. Como um big bang seguido por uma faxina de estrelas, para usar imagem cara ao artista. “Senti tamanha vibração em Pasaquan que não pude entrar logo. Tive de ficar do lado de fora, me encostar numa árvore e respirar melhor”, lembra Gê.

Horas depois da visita, no fim daquela tarde, ele pediu para passar num sebo de livros de Columbus, a cidade mais próxima. Toda instalação de Gê Orthof parte de um mapa mental, uma aquarela onde desenha os temas que gostaria de trabalhar. E parte também de uma obra que tenha um significado especial para aquela narrativa.

Naquele sebo de Columbus, Gê encontrou por acidente – por obra do acaso – por pura fortuna – por intervenção alienígena – um livro de cartografia celeste. E o abriu exatinho na página onde estava registrado o céu de quatro de julho de 1908.

O dia em que nasceu Eddie Owens Martin, o homem certa feita conhecido como St. EOM.

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