metropoles.com

Proibir crianças em restaurantes é falta de tino comercial

Em uma jogada não muito inteligente, um estabelecimento de SP baniu a entrada dos pequenos e os prejuízos disso vão muito além da óbvia discriminação

atualizado

Compartilhar notícia

iStock
iStock_22369275_SMALL
1 de 1 iStock_22369275_SMALL - Foto: iStock

Se você frequentou a internet na última semana, deve ter se deparado com a polêmica sobre o restaurante paulista que baniu a entrada de menores de 14 anos. A proibição nem era nova – foi anunciada em um post de 2014 no Facebook do estabelecimento –, mas ganhou o Brasil só agora.

O caso bombou ainda mais porque a apresentadora Raiza Costa, que tem um programa de culinária no GNT (um dos 280 que o canal mantém, aliás), apoiou o restaurante, ressaltando como seria desagradável para os clientes ter que lidar com o “choro do filho alheio”.

Não vou me aprofundar no debate sobre como isso é uma forma de discriminação. Me parece claro que, quando você restringe a entrada de seres humanos diferentes de você, em qualquer lugar que seja, sem motivos razoáveis para isso (exibição de conteúdo pornográfico, por exemplo, seria um motivo justo nesse caso), é discriminação e ponto.

“Que tipo de mundo você pretende criar e estimular quando acha bacana que estabelecimentos, na contramão de recomendações das melhores e mais influentes organizações internacionais em defesa dos direitos humanos, impedem o livre acesso das crianças?”, questionou a bióloga Ligia Moreiras Sena, em um texto ótimo sobre o caso no site Cientista que Virou Mãe.

Reprodução do Facebook
A apresentadora Raiza Costa alimentou a polêmica

Para mim, o mais impressionante e preocupante disso tudo é a quantidade de gente que apoiou o restaurante e a apresentadora – mães e pais, inclusive. Não estou dizendo que todos têm que adorar barulho e choro de criança. Ficar de saco cheio é um direito sagrado, eu mesma fico querendo fugir para a Lua de vez em quando.

Mas daí a querer restringir que meninos e meninas ocupem os espaços vai uma distância imensa, principalmente porque não dá para saber qual o limite disso. O que é uma criança que “faz barulho” ou que “se comporta mal”? Qual o problema de eu levar os meninos a um barzinho, por exemplo, se eu avaliar que eles ficarão bem?

Devo me trancar em casa com meus filhos que choram e, por vezes, esperneiam?

Dia desses, eu estava no parquinho (no parquinho!) com os dois, quando chegou um cidadão, acompanhando sua filhinha. Depois de 10 minutos, o sujeito ficou claramente revoltado porque Miguel estava indo atrás deles, querendo se sentar em todos os brinquedos em que ele colocava a menina. “Ela chegou primeiro”, disse o cidadão, com aspereza, para o Miguel, antes de ir embora.

Veja, o homem, um adulto que devia ter tranquilamente mais de 40 anos, ficou revoltado e foi embora do parquinho porque Miguel estava se comportando como o menino de quase 3 anos que ele é. Nessa hora, eu estava com o bebê no peito, tentei explicar para meu filho que ele precisava aguardar a vez dele, mas, a distância, não tinha muito como interferir. Esperava que o outro adulto do lugar se comportasse como tal, mas me dei mal.

Em outra situação, uma babá que trabalha perto da minha casa, me relatou o escândalo de um morador do prédio porque as crianças estavam correndo pela calçada. Pela CALÇADA, em frente ao edifício. Era um absurdo deixar aquela meninada solta, teria dito ele, segundo o relato da babá. Se eu tivesse ouvido isso, teria armado o maior barraco.

Criança também é bom negócio

Fora todo o aspecto preconceituoso do assunto, sabem o que mais os estabelecimentos perdem ao banirem crianças? Dinheiro. É triste ver que a grande maioria dos lugares não pensa que as pessoas têm filhos (ou sobrinhos, ou afilhados, ou priminhos).

Não permitir que meninos e meninas participem das atividades dos pais, não dar às famílias essa oportunidade, não é só discriminatório, é também falta de tino comercial

Recentemente, em um recém-aberto bar em São Paulo – lugar bombando, decoração linda, chope gelado e petiscos deliciosos – não tinha nem fraldário, nem aqueles de parede, nem apenas no banheiro feminino (o que também seria problemático, mas nem esse). Solano estava cagado e, para minha sorte, as pessoas que estavam comigo decidiram trocar de bar.

Ao sair, falei com o gerente: moço, eu sei que as pessoas não costumam trazer bebês para cá, mas às vezes acontece. Seria constrangedor limpar meu filho em cima do balcão. Obviamente, não foi minha ausência que fez diferença para a receita daquele estabelecimento, mas, empresários, vão por mim, as famílias são ávidas por lugares onde se sintam acolhidas.

 

Na Asa Sul, perto da minha casa, só há um restaurante/barzinho que tem espaço para crianças com monitores. São profissionais simpáticas e extremamente preparadas: se abaixam para falar com os pequenos, pegam no colo e ajudam a chamar os pais quando eles choram, tudo no maior amor. Para mim, são o diferencial do lugar, que vive lotado de famílias.

Não sei a quantas anda o negócio, mas como frequentadora e observadora percebo uma rotatividade de clientes gigantesca. Mais gente comendo, mais dinheiro em caixa. E não é só o dono do que lucra: o vendedor de balões já sacou o movimento e bate cartão lá do lado aos sábados e domingos.

Como seria bacana se mais casas tivessem essa proposta, não é?

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?