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Nem adultos nem crianças devem ser obrigados a emprestar suas coisas

Esta semana, um debate acalorado entre a mãe de um menino de sete anos e uma colecionadora de bonecos movimentou a internet

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criança chorando irmãs bebês
1 de 1 criança chorando irmãs bebês - Foto: iStock

Se você é meio viciado em internet e acompanhou as redes sociais esta semana, deve ter se deparado com prints de um debate acalorado entre a mãe de um menino de 7 anos e uma colecionadora de bonecos (que, aprendi depois, se chamam action figures). Em linhas gerais, a mãe foi tirar satisfação com a dona dos bonecos depois que o filho chegou em casa chorando, por não ter conseguido autorização para brincar com as peças.

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Na minha timeline, as pessoas se dividiram em: apoiadores da mãe, apoiadores da colecionadora e algumas (poucas) mentes sensatas que questionaram a falta de noção das duas adultas envolvidas na história.

Dá para entender a polarização. De um lado, um público feroz e articulado, que, nos últimos anos, tem movido um imenso mercado de consumo baseado em games e quadrinhos, além de inúmeros apetrechos da cultura geek. Do outro, um público, igualmente, feroz e articulado, que, nos últimos anos, tem reclamado o exercício da maternidade consciente e dos direitos plenos da infância.

Eu, como é de se imaginar, estou mais ligada ao segundo grupo. Nesse episódio, contudo, fiquei impressionada com as muitas mães que partiram, de cara, para a condenação da colecionadora – uma egoísta, sem coração, que não quer dividir os bonecos com uma criança. Quem seria capaz de uma crueldade assim?

Me surpreendeu porque o respeito à posse/propriedade alheia é uma das primeiras lições que tentamos ensinar aos filhos na convivência em sociedade. “Peça emprestado ao seu amigo”, “Não arranque o brinquedo da mão do seu irmão”, “Espere a sua vez para brincar” são algumas das frases que mães e pais repetem duas, três, 10, 18, 280 vezes por dia.

Mais recentemente, e depois de observar as brigas entre meus dois filhos, incorporei uma outra frase: “Ele não quer emprestar, vamos, então, buscar outra coisa para fazer”. Basicamente porque as crianças sempre vão querer o brinquedo que está com o outro – não importa se é um boneco bacanudo ou uma tampa de pote. Se a gente for intervir toda vez, fazendo com que um ceda em detrimento do outro, 1) vai dar um trabalho do cão, o tempo todo; e 2) as crianças não aprenderão a lidar com as frustrações.

Não obrigar ninguém a emprestar as coisas, adultos ou crianças, tem a ver com isso, com ensinar que não se pode ter tudo o tempo todo. É claro que não é necessário grosseria, gritos e humilhações – ainda mais quando o “egoísta” é maior de idade. Mas, ainda assim, meninos e meninas precisam aprender a respeitar o direito do outro de não emprestar suas coisas.

Ninguém coleciona action figures no meu convívio, mas, na minha casa, há alguns jogos de tabuleiro para adultos. Miguel, meu filho de 3 anos e 8 meses, tem o maior interesse naquilo. Vive pedindo para abrir e brincar, mas eu e meu marido somos muito claros: isso parece de criança, mas não é. E, ainda que fosse, não é seu e nós não vamos te emprestar.

Ensinar a compartilhar, brincar junto, é uma coisa. Obrigar a isso, é outra, bem diferente. Aprender a respeitar a vontade do outro também é fundamental para a construção da empatia.

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