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Escola ‘faz tudo’ é reflexo da sociedade que não prioriza a infância

Além das atividades pedagógicas, o local oferece aos pais conveniências como comida congelada, roupa lavada e corte de cabelo

atualizado

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Teddy bear lies on the road
1 de 1 Teddy bear lies on the road - Foto: iStock

Quem acompanha notícias de maternidade e/ou educação deve ter lido, na última semana, sobre uma escola “faz tudo”, em um bairro nobre de São Paulo. Além das atividades pedagógicas para crianças de 4 meses a 6 anos de idade, das 8h às 20h, o local oferece aos pais conveniências como comida congelada, roupa lavada e corte de cabelo para os pequenos.

“Para quem, como eu, se desdobra na dupla jornada – muitas vezes, tripla, considerando as madrugadas –, a história soou como WHAT? E a família? E o vínculo? E as atividades não pedagógicas, exercidas entre pais e filhos, que são de extrema importância para a formação das crianças?”

“Esse assunto é muito desafiador, pois tem dois lados. Quando você olha do ponto de vista das famílias modernas que acumulam muitas demandas de trabalho, faz sentido investir em um local onde seu filho está seguro, rodeado de atividades educativas”, pondera a professora Norma Lúcia de Queiroz, do Departamento de Métodos e Técnicas da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).

Por outro lado, ressalva a professora, se a criança passa 12 horas por dia na escola, só vai para casa para dormir. “Pensar em uma rotina como essa choca um pouco”, diz Norma, que atua há 35 anos na área de educação infantil. “A modernidade tem rompido muitos valores, mas esse tema exige a reflexão das famílias que tomam a decisão de ter filhos”, acrescenta.

Para a especialista, o surgimento desse tipo de escola se explica por uma demanda de mercado: os pais precisam de ajuda, e as instituições criam serviços para tornar o “pacote” mais atrativo. A escola “faz tudo” é também um reflexo da importância que a sociedade dá para a infância. “Se tivéssemos uma política pública eficiente, que desse aos pais a oportunidade de ter uma carga de trabalho reduzida nos primeiros meses de vida dos filhos, estaríamos, de fato, priorizando as nossas crianças”, diz a professora da UnB.

Para longe da dicotomia que o assunto provoca, Norma afirma não ser possível especular sobre as consequências que a formação em uma escola “faz tudo” pode trazer a meninos e meninas. É possível, inclusive, que esse se torne o modelo de educação infantil vigente em grande parte das instituições no futuro.

Aos pais, a educadora recomenda uma avaliação cuidadosa sobre os benefícios do convívio familiar, ainda que trabalhoso. “Cada família é muito singular e, se abrimos mão de tudo por conveniência, perdemos muito da relação de troca com os nossos filhos”, afirma. “Eles nos ensinam tantas coisas, nos retribuem com um afeto enorme, e isso é o que fundamentalmente caracteriza as relações humanas”, finaliza.

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