metropoles.com

“Não existe cafona ou chique”, diz Dudu Bertholini ao Metrópoles

Em entrevista exclusiva, o estilista e consultor de imagem questiona o conceito do belo e dá dicas de estilo

atualizado

Compartilhar notícia

Hugo Barreto/Especial para o Metrópoles
1 de 1 - Foto: Hugo Barreto/Especial para o Metrópoles

Quando o assunto é moda, quem melhor para nos dar dicas do que Dudu Betholini, ícone do estilo, da expressão e da liberdade?

Na terça-feira (19/9), o multifacetado estilista esteve no ParkShopping para uma palestra sobre consumo consciente, moda e comportamento. O evento reuniu diversas fashionistas de Brasília e, no meio tempo, o stylist conseguiu dar uma entrevista ao Metrópoles para falar um pouco sobre sua trajetória na Neon, marcas que devemos ficar de olho, além de novidades que ele está assinando.

Em uma conversa divertida e descontraída, Dudu desafia o conceito do belo, aponta os game changers da moda, enfatiza seu gosto pelo sportswear glamouroso e fala sobre tecnologia, sustentabilidade e liberdade de expressão.

“Para mim, inspirar as pessoas a serem livres e ficarem à vontade na própria pele é a melhor mensagem que a moda pode passar hoje em dia.”

Vem comigo!

Hugo Barreto/Especial para o Metrópoles

 

Como você definiria estilo? É possível desenvolvê-lo?
O estilo está intimamente ligado à essência. Você estará bem-vestido quando o seu guarda-roupa for uma tradução natural de quem você é. Ao tentar se encaixar numa ideia imposta por alguém, mas que não tem nada a ver com sua natureza, o resultado não vai ser bom. Mas isso é uma jornada de autoconhecimento.

Hugo Barreto/Especial para o MetrópolesQuando você para de julgar os outros e passa a entender o que as pessoas estão te comunicando, de uma forma afetiva e antropológica, certamente você se sente mais aceito e com certeza a moda passa a ter uma relevância social muito maior.

Nesse mundo democrático do século 21,  não há uma única cor que não esteja na moda ou um único shape de calça que não seja certo. Por trás dessas macrotendências, existem pensamentos coletivos que traduzem o mundo como ele é atualmente. Se nós temos uma macrotendência esportiva hoje é porque o mundo busca por praticidade e conforto. Então, existem pensamentos vigentes por trás dessas tendências, mas na hora de se vestir é o exercício do conhecimento do seu corpo e da sua personalidade que contam. Quando há um diálogo verdadeiro com você mesmo e com o espelho, você descobre seu estilo.

Precisamos entrar num mundo onde as pessoas parem de julgar as outras. O que é se vestir bem ou se vestir mal? O que é ser cafona ou chique? Isso não existe mais hoje em dia.

Quando você se descobriu um apaixonado por moda?
Desde criança percebi que me interessava mais por estilo do que por moda. Obviamente eu adorava quem era extravagante e se comunicava com muita personalidade. Me lembro de olhar pessoas muito excêntricas e pensar: “Se eu puder ser assim, serei verdadeiramente livre”. Tenho uma tia chamada Marisa Dragoni e me lembro do estilo dela. Algo superousado. Ela tinha um cabelo à lá Monique Evans, bem raspado e usava minissaia com scarpin e jaqueta metalizada. Era minha fashion muse.

Sobre o atual mercado da moda, qual a sua opinião?
Vivemos um momento de paradoxo. Precisamos de profissionais mais multidisciplinares que consigam trabalhar em espaços de coworking — onde você empresta as virtudes de diferentes segmentos a favor de um resultado. Vemos também jovens pautados na internet e em plataformas digitais criando novos modelos de produzir e vender roupas, de lifestyle e moda como um todo.

Por outro lado, ainda vejo um mercado recessivo que tenta sobreviver num mundo muito competitivo em termos de custo. E muito burocrático em termos de ofertas e propostas. Então, vejo um momento de transformação. Nunca foi tão bom pensar em um novo modelo de negócio e nunca foi tão difícil ficar preso a modelos antigos.

Hugo Barreto/Especial para o Metrópoles

Existe algum estilista em ascensão que você gosta muito ou alguma marca que devemos ficar de olho?
Costumo dizer que adoro apreciar o trabalho de quem é muito diferente de mim ou de quem, a princípio, não me despertaria interesse, mas que faz as coisas com força. Sou bem democrático com o meu gosto, por isso admiro vários estilistas contemporâneos e antigos.

Mas apontaria o trabalho do coletivo do Vetements. Acho fantástico e não é à toa que eles viraram um dos grandes game changers do mundo da moda, se tornando uma marca que chama atenção por ter muita personalidade e desafiar os conceitos do belo. Eles quebram os padrões de beleza com o trabalho deles.

Dos antigos, minha grande paixão é meu eterno ídolo Yves Saint Laurent – o original mesmo.

Como foi a experiência em “Amor & Sexo”?
Sou parceiro da Fernanda Lima há um tempão. Ela desfilou para a Neon no começo da marca e sempre adorei o “Amor & Sexo”. O programa, além de fazer entretenimento, ajuda na mudança das mentalidades e na quebra de preconceitos e paradigmas. Há três temporadas, os produtores me chamaram para ser jurado de um dos episódios e ali mesmo rolou uma sinergia natural. Acabaram me convidando para ficar na bancada da temporada seguinte. No meio do processo, passei a assinar o figurino. Foi um desafio, mas muito gostoso de fazer. Tenho uma equipe com quem divido a assinatura e a gente tem muita liberdade para criar, mas sempre partimos de um tema específico.

Divulgação/TV Globo

 

E a sua trajetória com a Neon? Como você avalia? Sente saudades?
Tenho um carinho enorme pelo legado da Neon. Foram 10 anos de história e é engraçado que nesse tempo também estão imbuídas algumas mudanças de mercado. Estou usando Neon hoje, continuo apaixonado pelas peças que criei. Quando vejo os desfiles também fico com aquela saudade. Por outro lado, neste momento, não tenho vontade de ter marca. Não no formato que eu tinha.

 Hugo Barreto/Especial para o MetrópolesGosto de estar associado a diferentes grupos ou com contrato de licenciamento: desenho para outras marcas com diversos segmentos e produtos. Atualmente, somos mais do que profissões, nós temos essências. Devemos customizar essas essências para diferentes atividades e o estilista virou mais um diretor criativo. Não está apenas atrás da prancheta ou responsável por uma única marca.

Não estou dizendo que esse modelo não dê certo. Claro que dá. Mas os estilistas da minha geração e da anterior à minha estão criando para diversos segmentos. Precisamos pulverizar os próprios negócios. Em um mundo competitivo, em termos de preço com muito giro é difícil ter uma estrutura própria. Esse foi o caso da Neon. Chegou uma hora que era contraproducente, ela já não tinha mais como existir.

Quais são as novidades que você planeja lançar em breve?
Estou lançando em novembro minha primeira coleção com a UV Line. São roupas com fator de proteção, ou seja, peças com funcionalidade. Tecnologia, para mim, é o futuro da moda. Estou também com uma coleção com a DAC, uma das maiores marcas de papelaria do Brasil. Na linha tem de tudo. Caderno, agenda, nécessaire, estojo e bolsa. Estou superorgulhoso. Além disso, estou lançando uma linha de acessórios com a Silvia Doring. A Silvia tem um trabalho bem bonito e juntos estamos com uma coleção meio mística e tropical que será lançada no fim do ano. E já estou me programando com uma grande empresa de óculos de sol para lançar a minha linha ano que vem.

São segmentos bem distintos com marcas de diferentes tamanhos. De grandes grupos até marcas menores e acredito muito nisso. Essa essência criativa multidisciplinar me faz hoje ser um estilista, stylist, diretor criativo, figurinista, comunicador e criador de conteúdo.

Divulgação/DAC

 

Alguma peça que não pode faltar no guarda-roupa?
Um caftan é uma peça que eu me identifico bastante. Além de ser democrática, está na história desde o começo dos tempos e veste homens e mulheres — um assunto em pauta hoje em dia com a questão genderless. Quando vem com estampas, reflete muito a nossa identidade brasileira que também está pautada em cor. Não gosto de prender isso a estereótipos, mas um caftan estampado traduz a minha e a nossa identidade como nenhuma outra peça faz.

Finalizando, para você, qual a tendência do momento?
Não digo a ninguém o que se deve ou não usar. Me visto de uma forma muito intuitiva. Mas vejo com ótimos olhos essa tendência do sportswear. Hoje em dia existe um esporte glamoroso que vai ao clube e sai para jantar. Essa fusão é uma tradução do mundo contemporâneo e, consequentemente, a busca por um mundo mais prático e com muito mais conforto.


 

Acho que seguir os conselhos de Dudu Bertholini é sem dúvida a maior tendência do momento!

 

Hugo Barreto/Especial para o Metrópoles
Eu, Dudu e Ed

 

Hugo Barreto/Especial para o Metrópoles
Entrevistando o ícone Dudu Bertholini

Compartilhar notícia