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Vamos falar sobre a mulher assediada pelo deputado no WhatsApp?

A sociedade problematizou o fato em diversos ângulos: menos no da mulher do outro lado

atualizado

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Lula Marques
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1 de 1 FOTO111 - Foto: Lula Marques

A mais nova anedota vergonhosa do Congresso Brasileiro: deputado Wladimir Costa (SD-PA), em uma das mais importantes votações da história do Brasil, é flagrado assediando uma moça e pedindo nudes. Revoltante, de fato. Mas me espanta que enquanto alguns fazem críticas moralistas sobre a vida sexual do parlamentar e outros discutem os limites da privacidade de uma figura pública, pouquíssima gente esteja preocupada com a mulher do outro lado da tela. Uma vítima de assédio sexual.

Ela, sim, teve sua privacidade violada e sua identidade exposta pelos jornais sem nunca ter concordado em ter uma vida pública.

Não seria exagero chamar a situação de assédio sexual? De forma alguma. Em diversos momentos, a mulher se mostra constrangida com a conversa e pede para que o deputado pare de perturbá-la — com uma classe que eu, particularmente, admirei. “Você poderia perder seu valioso tempo com coisas mais interessantes” e “então vá tirar onda com outra, não tenho estômago pra isso #chato!”. E o deputado insiste.

E ele insiste com falta de elegância e com um comportamento machista que lembra aquele descrito no artigo 216 A do Código Penal, que define o crime de assédio sexual: “Constranger alguém com intuito de levar vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente de sua forma de superior hierárquico, ou ascendência inerentes a exercício de emprego, cargo ou função. Pena: detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos.”

Conforme me explicou Lívia Magalhães, conselheira seccional da OAB/DF, o deputado escapa da lei penal por um triz: “Para ser considerado crime de assédio sexual, era preciso que houvesse uma relação de ascendência hierárquica entre os dois. Porém, é uma conduta totalmente incompatível com o cargo que ele ocupa e a Câmara poderia puni-lo por falta de decoro por infringir regras de boa conduta nas dependências da casa”, explica. “Ele pode responder civilmente e administrativamente por seu comportamento. Para ser julgado penalmente só em caso de ascendência hierárquica.”

Mas vale lembrar que, enquanto não existe lei para punir o assédio sexual fora das relações trabalhistas, existe, ainda, a ética. O deputado tem, claramente, poderes e influência suficientes para retaliar a moça por sua rejeição. Tanto que, no final, a constrange ao ponto de fazê-la se desculpar por ter reclamado do assédio! “Teria sido bem melhor se eu tivesse ficado quieta #desculpa”.

Além disso, Wladimir Costa abusa desses poderes para tratá-la como um pedaço de carne sem dignidade. “Mostra tua bunda, mostra. Afinal, não é sua profissão que a destacam como mulher, é sua bunda. Vai lá, põe aí, garota”. Se você não acha essa frase ofensiva, favor pensar como se sentiria caso ela fosse dirigida à sua mãe, irmã, namorada ou a você mesma (caso seja mulher).

E depois disso veio ainda à tona o assédio sexual cometido contra a jornalista Basília Rodrigues, da CBN, uma das mais competentes profissionais que cobrem política em Brasília. O deputado disse a ela, em frente a diversos colegas, que queria “lhe mostrar o corpo inteiro”. Repetia, mais uma vez, que para ele a competência das mulheres pouco importa, somos todas “bundas ambulantes”. O que mais o Congresso precisa para abrir o processo de quebra de decoro contra ele?

Liguei para a assessoria de imprensa e para o gabinete do deputado para ouvir sua versão dos fatos, mas assessores informaram que ele se encontra no interior, sem acesso a celular.

De todas as decepções que tivemos nesta semana com nossos deputados, se acumulam mais essas duas. Uma mulher humilhada por um membro da Casa do Povo no WhatsApp. Uma jornalista ridicularizada no exercício de seu trabalho. E uma sociedade que problematizou o fato em diversos ângulos: menos no da mulher do outro lado. Que pena.

 

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