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O que é liberdade sexual? Mas, assim, de verdade?

Dividi com um colega a frustração de não ter transado com mais homens, e ele, muito sábio, me disse: “Nana, mas prazer não é matemática”

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Yummy kiss.
1 de 1 Yummy kiss. - Foto: Istock

Sabe um problema que nós, mulheres, enfrentamos hoje? É achar que nosso empoderamento virá através do sexo. Não. Nosso empoderamento virá da possibilidade de escolher o sexo. Ou de rejeitá-lo.

O problema de achar que nos tornaremos mais independentes e poderosas se fizermos muito sexo é cair na armadilha do sexo-obrigação. E não pense que sexo-obrigação é coisa só de mulher casada. Não! Conheço muitas solteiras convictas que acham que só estarão quites com o que o mundo espera delas como “mulheres do século 21” se dormirem com vários caras. Aí se metem naquelas roubadas de sexo horrível com caras que não valem a pena ou que gozam, viram pro lado e as deixam olhando para o teto. É uma espécie de autoestupro, não?

Eu mesma sempre fiquei me perguntando por que raios, antes de casar, eu não transei com mais homens. Um dia estava desabafando com um colega essa frustração e ele, muito sábio, me disse: “Nana, mas prazer não é matemática”. Olha a sabedoria! Porque é isso: toda vez que eu dizia ‘não’ porque não queria mesmo, eu também estava exercendo minha liberdade e meu poder. Liberdade sexual não é fazer muito sexo, é ter o ‘sim’ e o ‘não’ na manga e puder usá-los.

Porque o mundo anda ou 8 ou 80 nessa seara da sexualidade feminina: em alguns ambientes você tem que ser a santa-casta-arrependida-da-igreja-com-trejeitos-infantis-de-tão-inocentes; em outros, tem que ser a poderosa-catadora-sedutora-máxima-que-pode-conquistar-todos-os-homens-e-sabe-gozar-e-trepar-e-fazer-amor-às-vezes. Que chato, né? Ninguém percebe que decidir sobre o uso da minha vagina depende só de mim? E dos peitos e de todo o resto?

Fico pensando nas situações da minha vida em que me senti mais empoderada sexualmente e elas estão sempre em dois extremos. Em algumas, virei pro meu maravilhoso e lindo marido e disse: “Não, querido, hoje não quero. Não é dor de cabeça, é não estar a fim mesmo”, sem receio algum de que aquele partidão do meu lado fosse “procurar em outro lugar” — porque eu não sou só um buraco no meio das pernas e todo o resto do pacote, amigas, ele não acharia em lugar algum. Outras foram como aquela vez, há muitos e muitos anos, que meti um desconhecido num armário duma festa, aos beijos, e disse que queria transar com ele em todos os cômodos da casa. Porque eu queria e pronto. Não porque estava apaixonada ou “fazendo a fofa”. Porque estava com tesão por ele. Simples assim.

Em nenhuma das duas situações eu precisei de desculpas para ter desejos ou para não tê-los. Não precisei achar que não querer transar naquele dia era falta de amor e nem que querer sexo era sinal de amor. Porque eu, uma mulher que, como grande parte das mulheres, já sofreu violência sexual, era livre para dizer ‘sim’, mas também livre para dizer ‘não’. Porque o sexo era minha escolha. (E o “sim” só é legal porque a possibilidade de “não” existe, não é mesmo? Que seria do “sim” sem o “não”?) Que bom é sair vivendo espevitada pela vida sendo alguém que é, sim, sexual, mas muito mais que isso.

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